Atualmente falamos na crise econômica de 2015, não como uma possibilidade, mas sim como um fato consumado dependendo apenas de data exata para acontecer. Não se trata mais de indagar se a crise econômica irá acontecer ou não em 2015, pois essa questão já foi esclarecida, trata-se agora de saber quando ela terá início e qual será a sua dimensão. A questão agora é saber qual será o tamanho da crise econômica de 2015 e de que forma ela irá impactar os diversos setores da economia e também as finanças das pessoas.
Tendo em vista esse cenário, especialista e professor Marcos Fava Neves elencou os direcionadores de consumo que são muito positivos para a agricultura brasileira. Segue abaixo:
- População chegará a 9 bilhões de pessoas em 2050, portanto necessitamos produzir para mais 2 bilhões;
- Existe intensa urbanização, estimada em cerca de 90 milhões de pessoas por ano, que impacta no hábito de consumo (mais proteína demandando mais grãos) e nas quantidades demandadas de produtos;
- Crescimento econômico mundial, principalmente nos países emergentes, que são os grandes mercados futuros de alimentos, impactando diretamente em suas necessidades de importações ;
- Distribuição de renda na sociedade impacta positivamente o consumo e esta vem acontecendo, aliada ao crescimento econômico;
- Grandes programas governamentais de distribuição de alimentos e de renda à parcela mais miserável das populações impactam forte e favoravelmente o consumo;
- Crescimento do mercado de alimentação para animais, sejam os produtores de proteína, como de recreação (mercado pet), com taxas elevadíssimas em muitos países;
- Onda BIO: mesmo com o preço do petróleo em baixa, o que traz ameaças, volta a crescer no mundo a conscientização do biocombustível, desde o etanol, biodiesel, bioquerosene, biogasolina, biopneu, bioplástico, bioeletricidade, todos demandando produção agrícola. Todo país que assina uma meta de uso de biocombustível misturado ao combustível fóssil abre uma oportunidade ao Brasil.
É um desafio avaliar quais países do mundo estão mostrando as maiores oportunidades em termos de crescimento no mercado de alimentos. Antes de apresentar suas características comuns, convido os à rápida viagem virtual em meio a alguns números surpreendentes que mostram a urbanização e mudança de consumo.
A Indonésia possui cerca de 252 milhões de habitantes e a rede de fast food KFC inaugurou sua primeira loja em 1979 sendo que em 2013 a rede já possuía 470 restaurantes no mesmo. Em 2011, a Indonésia possuia 5.900 restaurantes fast food e para 2017 é esperado que o país alcance cerca de 9.000 unidades. Possuindo 175 milhões de habitantes, a Nigéria teve sua primeira loja da rede KFC em 2009, sendo que após 3 anos esse número saltou para 25. Na Nígéria, a indústria do fast food cresce mais de 10% ao ano.
O McDonald´s iniciou suas atividades na China em 1990. Hoje o país conta com 2.000 restaurantes sendo o terceiro maior mercado da companhia com US$ 2,8 bilhões em vendas em 2013. O Vietnã possui quase 100 milhões de habitantes e o fast food está crescendo 26% ao ano, triplicando os restaurantes em 5 anos. A rede KFC inaugurou seu primeiro restaurante em 2011 e atualmente possui 140 lojas que geram cerca de 4.000 empregos. O McDonald´s abriu sua primeira loja no Vietnã em 2014 e atendeu 20.000 consumidores nos dois primeiros dias. O Paquistão possui quase 200 milhões de habitantes e representa um mercado de U$S 1 bilhão por ano, com crescimento anual de 20%, para ficar em alguns exemplos.
Essa explosão no número de redes fast food ocorre pois essas companhias conquistaram a confiança dos consumidores contando com alta confiabilidade em suas cadeias de suprimento e demonstrando preocupações com questões relacionadas à saúde da população. Também é possível notar que ocorreu uma ocidentalização das novas gerações com o grande uso de dispositivos móveis.
São muitos os fatores que temos que observar para identificar os mercados de alimentos em expansão nos próximos anos e que merecem atenção por parte das empresas brasileiras e ações de construção de posições nestes mercados:
- Grandes populações (em quantidade de habitantes);
- Populações crescentes (taxa de crescimento da população);
- Elevada população jovem (com tendência de crescimento);
- Rápida urbanização (alto percentual de pessoas que ainda vivem na área rural e estão se mudando para as cidades);
- Geração de renda (crescimento do PIB);
- Distribuição de renda (crescimento da classe media);
- Possuem recursos com valor a serem exportados (petróleo/gás/minerais) gerando capacidade para pagar pelas importações de alimentos;
- Apresentam deficiência em recursos produtivos (baixa disponibilidade de terras, de água, ausência de outros recursos e capacidade para investir e receber investimentos estrangeiros diretos para a produção de alimentos);
- Leis que favorecem a importação de alimentos (abertura para importações, poucas barreiras como taxas de importação, cotas, barreiras sanitárias;
- Apresentam sensibilidade decrescente trazendo esforços reduzidos para a questão de segurança alimentar/produção local e apresentam estabilidade dos governos/ ambientes institucionais;
- Adoção de políticas favoráveis à mistura de biocombustíveis na gasolina;
- Disponibilidade de canais de distribuição para importação e sistemas logísticos factíveis. Apresentam atratividade para que varejistas internacionais levem alimentos a esses países utilizando recursos estratégicos globais (estratégias de “global sourcing”);
- Taxas de câmbio que favorecem a importação de alimentos (moedas locais valorizadas).
Como alguns exemplos, China, Índia, Indonésia, Vietnam, Paquistão, Nigéria, Angola, África do Sul, México, Brasil e países agregados do Oriente Médio, entre muitos outros. Ainda veremos grandes surpresas nesses países, uma vez que os mesmos possuem muitos mercados de rua, alta informalidade nas cadeias alimentares e ausência de dados disponíveis. Passarão cada vez mais a serem grandes importadores.
Essas são algumas características dos países que não podem deixar de constar nas estratégias de organizações mundiais de bens de consumo para os próximos anos, sendo grandes oportunidades para países exportadores de alimentos como o Brasil. Mas quem vencerá esta batalha por mercados que estarão ávidos por produtos?
Fonte adealq.org.br
Escrito por Marcos Fava Neves (Sifu – Engenheiro Agrônomo – F-91) é Professor Titular de Planejamento e Estratégia na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo, Campus de Ribeirão Preto, coordenador científico da Markestrat.