O sistema das cadeias produtivas do “agribusiness” pode dobrar de tamanho. Por quê? Por estarmos inseridos dentro de um movimento de mais de US$ 20 trilhões mundiais.
Tudo dependeria da palavra “depende”. Sim, o sistema das cadeias produtivas do “agribusiness” (para ficarmos leais às definições do Prof. Ray Goldberg e Ney Bittencourt de Araújo, respectivamente criador do conceito em Harvard, e o segundo o fundador da Associação Brasileira de Agronegócio – Abag), pode dobrar de tamanho. Por quê? Por estarmos inseridos dentro de um movimento de mais de US$ 20 trilhões mundiais, a dimensão do agronegócio hoje, e significarmos apenas (aí dependerá de qual taxa do dólar, R$ 3, 4 , 5, ou 6) de US$ 300 bilhões a US$ 500 bilhões. Quer dizer, somos na melhor das hipóteses 2,5% desse mercado, mas com potencial de virmos a ser 5% dessa demanda.
Sem contar com o potencial de segmentos que ainda não são contados, como toda a bioeconomia, mas que contará enormemente podendo impactar em mais US$ 5 trilhões no mundo, onde o Brasil poderia sair privilegiado ao contabilizar e vender toda riqueza invisível dos nossos sagrados e saudáveis biomas (desde que assim os possamos preservar). Mas aí vem outra questão, como escreveu o chargista Barão de Itararé ao dizer: “tudo seria fácil se não fossem as dificuldades”. A questão é como dobrar o agro brasileiro?
A resposta é simples por um lado. Exigiria um planejamento estratégico a partir do comando da sociedade civil organizada, tendo o governo como apoiador, planejamento esse de todas as cadeias produtivas desde o “a” do abacate até o “z” do zebu. Em todas elas, nas clássicas e já grandes ao olharmos o plano sob um ponto de vista do antes, dentro e pós porteira das fazendas iremos observar incrementos de movimento econômico e financeiro possível e desejável em todos eles.
No antes, uma política industrial para produzirmos no Brasil ativos químicos, crescermos a oferta interna de fertilizantes e a expansão de bioinsumos. No dentro da porteira, potenciais crescimentos em todas as cadeias, com ênfase na hortifruticultura, na piscicultura, trigo, na valorização de origem como ILPF (Inovação com integração lavoura, pecuária e floresta), carne carbono neutro, por exemplo, e claro sem esquecer flores, mel e mesmo onde já somos padrão de alta performance mundial como na citricultura. Se olharmos a expansão possível do mercado de suco de laranja na Ásia, isso exigiria uma outra citricultura do tamanho da que já temos.
E no pós porteira das fazendas com objetivos, metas e ações agroindustriais, comerciais e de serviços, para vendermos cada vez mais produtos de valor agregado ao invés de somente produtos da originação, apesar de que estes também podem e devem ser revalorados numa moderna visão de marketing. Mas muito me encanta os vinhos, cafés, lácteos e as batatas, como exemplo as batatas Bem Brasil. Com todas as dificuldades, se prestarmos atenção vamos ver exemplos competitivos e inspiradores para os brasileiros, como pude ver ao vivo na Agropalma do Pará, nos avocados, no Edson Brok da banana e são milhares. Não existe país subdesenvolvido, existe país subadministrado (Peter Drucker).
“Não tenha medo do mercado!” Esse foi o sábio conselho que ouvi de Fernando Penteado Cardoso, fundador da Manah, presidente da Fundação Agrisus, hoje com 104 anos de idade. O crescimento demográfico planetário é inexorável. Não vai faltar mercado. Seremos 10 bilhões em 2050. Por outro lado a ONG Oxfam, com dados da ONU, informa: “em 2020 morrerão de fome 37 mil pessoas por dia”. E aí está outro cenário institucional para o Brasil atuar assumindo uma liderança de paz e saúde no cinturão tropical planetário. Deveríamos assumir a distribuição de conhecimentos, educação e apoio através da Embrapa e demais centros de inteligência do país, para todos os povos que não terão saída digna fora do empreendedorismo no agronegócio e contaríamos ainda com as cooperativas brasileiras nesse esforço de um novo planeta humano solidário e de lideranças conscientes.
Mas então vem a pergunta das perguntas: é possível fazer isso? Temos alguns exemplos estimulantes. O Renovabio reuniu a sociedade civil com técnicos e diversos elos do governo. Criamos um plano, com números e metas além de estímulos de crédito, como Cbio. Boas conversas já escutamos entre a ministra Tereza Cristina e o presidente da CNA, João Martins, sobre um plano plurianual. Já abordamos esses temas com os líderes Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura, Marcello Brito presidente da Abag. Tratamos deles na academia, FIA – Pensa/USP. No Food & Agribusiness Management com FECAP e Audencia de Nantes, França.
Portanto é possível, sim, dependendo apenas das lideranças conscientes e sensatas numa visão maior do país, acima de cada retalho da sua colcha. Mas por que deveríamos não esmorecer e não desistir dessa ideia do planejamento estratégico para dobrar o agro de tamanho? Simples, porque não tem outro jeito. “There is no other way“. O PIB do país, na casa (também dependendo da taxa do dólar) dos US$ 1.6 trilhão a US$ 2.0 trilhões é insignificante para o porte do Brasil.
Sem crescimento do PIB, distraímos o foco dos brasileiros para fofocas noveleiras, enquanto as dores aumentam e os radicais se iludem e a todos iludem com anestésicos tolos.
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Estados Unidos reúnem cerca de US$ 20 trilhões, a China US$ 15 trilhões e, sem dúvida, o Brasil deveria almejar muito mais US$ 5 trilhões do que se contentar nos patamares onde surfamos já há quase duas décadas. Ondinhas de praias de baía. Está na hora de irmos às ondas de legítimas praias de arrebentação, ou surfarmos as provocantes pororocas nacionais.
Dessa forma, experts, líderes, vamos construir o novo Brasil dobrando o agro que nos trouxe até aqui, com agregação de valor, meio ambiente, saúde, inovação, cooperativismo e humanidade acima de tudo. Sem crescimento do PIB, distraímos o foco dos brasileiros para fofocas noveleiras, enquanto as dores aumentam e os radicais se iludem e a todos iludem com anestésicos tolos. Temos a chance. Depende de nós como sociedade.
José Luiz Tejon para a Jovem Pan.