Agro corre para embarcar 3,6 milhões de ton de soja para liberação de armazéns para nova safra

“Muitos produtores estavam esperando uma possível valorização que não veio, não no ritmo do ano passado e retrasado.”

A falta de armazéns para estocagem de quase metade do que foi colhido na safra recorde de 2022/23 e a chegada do novo ciclo pressionam a agricultura paranaense a realizar o escoamento de milhões de toneladas de soja nos próximos 90 dias até o Porto de Paranaguá sob o risco de perder a produção. A nova regra no setor é vender e escoar a soja o mais rápido possível.

Para abrir espaço nos silos e armazéns de olho no próximo cultivo que já está no campo, muitos produtores rurais e cerealistas resolveram intensificar a comercialização, considerando também que a valorização do cereal não veio e a saca segue cotada em cerca de R$ 130. A expectativa era por uma reação nos preços e a repetição do cenário com a saca a quase R$ 170, valor de mercado do produto no mesmo período de 2022.

“Muitos produtores estavam esperando uma possível valorização que não veio, não no ritmo do ano passado e retrasado. Esperavam o melhor momento mas como precisam dos estoques para safra em aproximadamente 90 dias quando toneladas de soja começam a ser colhidas, não restou outra alternativa senão vender o que estava guardado”, avalia o analista de mercado e economista Rui São Pedro.

Por todo o estado, muitas unidades recebedoras de grãos tiveram que improvisar a estocagem ou investir em silos bolsas, mesmo assim, não há mais para onde expandir o armazenamento. “Essa tem sido uma reivindicação antiga e neste ano fomos ao Ministério da Agricultura pedir mais verbas no financiamento agrícola para construção de armazéns, uma deficiência grave que temos e que precisa ser resolvida para trazer mais segurança no campo”, reivindica o secretário de Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Paraná, Norberto Ortigara.

Essa intensificação no movimento das exportações já é observada nos portos do Paraná, principalmente em Paranaguá, que devem embarcar mais de 3,6 milhões de toneladas da oleaginosa somente de outubro a dezembro de 2023. “O volume, se confirmado, representará um crescimento de 203% em relação ao mesmo período de 2022 quando foram embarcados 1,2 milhão de toneladas de soja”, compara o diretor-presidente da Portos do Paraná, Luiz Fernando Garcia.

Dilvo Grolli, que é presidente da Cotriguaçu, cooperativa central que reúne algumas das maiores do Brasil no segmento e com sede em Cascavel, no Oeste no Paraná, constata que penas 45% da produção de soja haviam sido comercializados até agosto, volume inferior ao registrado no mesmo período do ano passado.

Segundo Grolli, há pouco mais de um mês, os silos e os armazéns paranaenses seguiam com mais de 10 milhões de toneladas, diante de uma produção que foi de 22,5 milhões de toneladas na safra passada. A produção estadual foi de 80% maior que o registrado no período 2021/22, quando o Paraná passou por uma seca histórica e colheu 12,45 milhões de toneladas.

“Temos um déficit histórico em armazenagem que soma de 110 a 120 milhões de toneladas [no Brasil] e por isso, para abrir espaço para novas safras, é preciso comercializar. Porém, muito dessa deficiência de estocagem ocorre em função do nosso aumento de produção. Só de 2021 a 2023, aumentamos 70 milhões de toneladas em produção”, analisa Grolli.

Em 2021, o Brasil colheu 251 milhões de toneladas de grãos, no ciclo 2022/2023, encerrado no meio deste ano com um total de 320 milhões de toneladas. “De janeiro a agosto de 2023 foram exportadas 10,1 milhões toneladas de soja, 10% a mais do que o registrado no mesmo período do ano passado. Atualmente, a movimentação de soja representa 25% da movimentação geral dos portos paranaenses”, acrescenta.

O Paraná é o segundo maior produtor do cereal do Brasil, atrás apenas do estado do Mato Grosso que no ciclo passado produziu pouco mais de 45 milhões de toneladas. Em todo o território nacional, o grão rendeu 154,6 milhões de toneladas e deu ao Brasil o título de maior produtor de soja do mundo.

Outro segmento que movimento o mercado é o transporte do farelo de soja. “A empresa pública deve movimentar 1,4 milhão de toneladas do produto de outubro a dezembro, 72% a mais que no mesmo período do ano passado”, projeta o diretor-presidente da Portos do Paraná.

Porto de Paranaguá está mais preparado, avalia administração

soja
Foto Divulgação.

Do ponto de vista da logística, o diretor-presidente da Portos do Paraná, Luiz Fernando Garcia, analisa que o cenário de ampliação de transporte sofre influência de uma série de fatores, entre eles, o crescimento do próprio calado, que é a profundidade em que os navios carregados podem ficar submersos na água. “Esta mudança proporcionou mais segurança logística e atraiu navios de maior porte ao Litoral do Estado”, avaliou.

A atuação dos dois Corredores de Exportação, Leste e Oeste também contribuem para esses números. No primeiro semestre deste ano, o Corredor Leste do Porto de Paranaguá, por exemplo, registrou a maior movimentação de cargas em meio século.

Agora, a grande expectativa está na construção do novo Moegão, que promete uma dinâmica diferenciada e mais eficiência no recebimento de cargas por trens, o que deve ampliar o transporte pelo modal ferroviário. Atualmente apenas 15% do que chega ao Porto de Paranaguá é escoado pela linha férrea, quando a nova estrutura passar a operar, em 2026, a expectativa é que o transporte de cargas por trem passe a representar 50% do volume.

Plantio da soja se intensifica no Paraná

As estimativas de área e de produção indicam que o Paraná deverá se manter como o segundo maior produtor de soja do Brasil. Os produtores iniciaram o cultivo em 10 de setembro com uma área de 5,8 milhões de hectares destinada ao cereal, mas a expectativa de produção é menor em relação ao registrado na safra de 2022/23 e deve chegar, segundo estimativas do Departamento de Economia Rural (Deral), a 21,9 milhões de toneladas.

“A safra passada foi excelente, tudo contribuiu, mesmo assim temos tudo para ter novamente uma safra cheia e assim esperamos que ocorra, mas é claro, dependemos dos fatores climáticos. Neste ano, temos a influência do El Niño que no Sul provoca um aumento de chuvas, vamos observar e torcer que as condições sejam favoráveis e colaborem com os resultados lá na frente”, projeta o secretário de Estado da Agricultura, Norberto Ortigara.

Fonte: Gazeta do Povo

ℹ️ Conteúdo publicado por Myllena Seifarth sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira

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