A Revista AG entrevistou o gerente de Pecuária da propriedade Agro – CFM que lidera ranking de vendas de zebuíno no país, confira entrevista:
Primeira colocada no Top 100 Zebuínos – Os maiores vendedores de touros do Brasil, com 1.515 reprodutores comercializados em 2016, a Agro-CFM comprova ser possível produzir touros de qualidade em grande escala. Quem conta mais é Tamires Miranda Neto, gerente de Pecuária da propriedade.
Revista AG – A CFM é líder do TOP 100 – Zebuínos novamente. Você considera importante figurar nesse ranking?
Tamires Neto – Sem dúvida, é importante. Ele demonstra que o trabalho de 37 anos da CFM é valorizado pelo mercado. Já produzimos cerca de 39 mil reprodutores Nelore Ceip para todos os estados brasileiros e Paraguai. Além disso, temos um índice de fidelização elevado. Ser líder do TOP 100 é uma recompensa pelo empenho de toda a equipe CFM para oferecer reprodutores avaliados e realmente melhoradores para impulsionar a produtividade da pecuária brasileira.
Revista AG – Aliás, como está a demanda por touros zebuínos melhoradores no Brasil? Houve aumento substancial na última década?
Tamires Neto – A oferta de touros Nelore avaliados aumenta ano após ano, mas ainda está distante do potencial. Estimativas apontam para a produção anual de cerca de 35 a 40 mil reprodutores avaliados no Brasil, considerando tanto os touros Ceip quanto os PO que passam por avaliação genética. Trata- -se de um bom volume, porém, muito aquém das necessidades da pecuária brasileira. Estima-se que essa oferta represente, no máximo, 10% do ideal. Ou seja, os machos sem avaliação continuam sendo muito utilizados para reprodução.
Revista AG – Hoje, que qualidades os pecuaristas procuram em um touro?
Tamires Neto – Além de ganho de peso, os pecuaristas têm buscado cada vez mais precocidade sexual e de acabamento. O objetivo é acelerar o início da vida reprodutiva, principalmente das fêmeas, e também reduzir a idade de abate dos animais. Para isso, o programa de melhoramento genético da CFM trabalha intensamente esses atributos. Como adicional, o nosso rebanho é criado em condições de pasto, o que permite que os touros cheguem às fazendas dos nossos clientes prontos para o trabalho, sem a necessidade de nenhum cuidado especial.
Revista AG – A CFM possui o Ceip há quanto tempo? Hoje, esse certificado já está consolidado no setor?
Tamires Neto – O programa de melhoramento genético da CFM foi o primeiro da raça Nelore a receber o Ceip, marco que data de 1996. Nesses mais de 20 anos, o Ceip ganhou espaço no mercado e hoje é reconhecido pelos pecuaristas como um atestado de superioridade genética de animais provenientes de programas de melhoramento profissionais. E faz todo o sentido, porque a obtenção do Ceip não é um processo fácil e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) apenas o concede a programas bem estruturados, capazes de ofertar genética de qualidade. Um dos grandes diferenciais da certificação é limitar o percentual de touros que podem receber Ceip. No caso da CFM, recebem Ceip somente os 30% melhores indivíduos de cada safra, o que garante avanço genético contínuo.
Revista AG – Depois de ingressar no Ceip, a propriedade percebeu alguma agregação de valor no produto?
Tamires Neto – O Ceip agrega valor de duas formas. Primeiro, porque, ao limitar a quantidade de animais que podem receber a certificação, impulsiona o melhoramento genético do rebanho e contribui para o sucesso crescente da atividade. Segundo, porque leva confiança aos pecuaristas de que nosso trabalho é conduzido com seriedade e profissionalismo. Sem o reconhecimento do mercado, não teríamos construído um histórico de vendas tão amplo, com presença nacional e até internacional. Esse é o principal sinal de que a genética comercializada pela CFM, que é 100% certificada, contribui para o resultado do negócio dos nossos clientes.
Revista AG – Entretanto, o selo é apenas um reconhecimento do Mapa. Seria impossível recebê-lo sem fazer parte de um programa de avaliação genética?
Tamires Neto – O Mapa só concede o Ceip a uma pequena porcentagem de animas superiores, avaliados em programas de seleção profissionais, previamente aprovados. Não há como receber a certificação se todo o programa não estiver de acordo com as regras definidas pelos técnicos do Mapa. O aval do Ministério é o atestado de que um animal tem genética efetivamente superior, de acordo com critérios objetivos de seleção.
Revista AG – Quais características a CFM seleciona no seu programa de melhoramento genético?
Tamires Neto – A avaliação genética do rebanho CFM se baseia em 12 características, ou seja, cada animal possui 12 diferentes DEPs em sua avaliação. Dentre essas características, há medições referentes a ganho de peso, precocidade sexual, fertilidade, habilidade materna e qualidade de carcaça. Das 12 DEPs geradas, quatro são consideradas primordiais, por terem impacto direto no resultado econômico da atividade, e são essas que compõem o índice CFM. São elas: peso à desmama, ganho de peso da desmama ao sobreano, perímetro escrotal e musculatura. O foco, durante décadas, na avaliação de características de valor econômico resulta em reprodutores que agregam muito peso e precocidade a qualquer rebanho Nelore. Outro diferencial da CFM é que toda a avaliação genética é conduzida em regime de pastagem, o que faz dos Touros Nelore CFM animais extremamente adaptados às condições ambientais de uma fazenda tipicamente brasileira.
Revista AG – A propriedade foi pioneira na Probabilidade de Prenhez aos 14 meses (PP 14) na raça Nelore. Qual foi a motivação na época e qual a evolução dessa DEP nos últimos dez anos?
Tamires Neto – Exatamente, a CFM detém o primeiro programa de melhoramento genético a desafiar a prenhez de novilhas precoces (18 meses de idade) e super precoces (14 meses de idade), o que deu origem à DEP de PP14. O objetivo dessa avaliação é acelerar o início da vida reprodutiva das fêmeas, o que contribui muito para a eficiência da cria, já que permite elevar a proporção de fêmeas produtivas dentro da fazenda. A precocidade sexual é, sem dúvida, um atributo muito importante do nosso programa e bastante valorizado pelos clientes, mesmo para aqueles que não reproduzem o desafio da prenhez aos 14 meses em suas propriedades. O uso de reprodutores com altas DEPs de PP14 contribui muito para elevar a taxa de prenhez de novilhas, mesmo aquelas colocadas em reprodução apenas aos 24 meses. Dentro do rebanho CFM, percebemos um avanço contínuo na precocidade sexual. De acordo com os resultados apresentados pela equipe da USP Pirassununga, responsável pela avaliação genética da CFM, a DEP de PP14 tem um ganho médio de 0,9 ponto percentual a cada safra. E o ganho potencial tende a ser ainda maior em outros rebanhos, que não fazem seleção direcionada a essa característica e que passem a utilizar Touros CFM.
Revista AG – Com a venda de 1.515 touros em 2016, é realista dizer ser possível produzir touros em escala industrial? Qual a vacada atual para produzir tanto touro?
Tamires Neto – O rebanho total da CFM supera 30 mil cabeças e o plantel de cria conta com 12 mil matrizes, todas da raça Nelore. Como já mencionado, apenas 30% dos machos avaliados se tornam touros Nelore CFM, aptos a receber Ceip. Portanto, a pergunta é muito pertinente. Para se produzir um volume grande de touros efetivamente melhoradores, é necessário haver um rebanho também muito grande e com avaliação genética conduzida por profissionais. Um dos diferenciais da CFM é possuir o maior banco de dados individual da raça Nelore no Brasil, com centenas de milhares de indivíduos avaliados, desde o início da década de 1980. Tamanho volume de informações, colhidas de forma uniforme e com muita qualidade, aliado à seriedade do trabalho, confere muita confiança à avaliação genética da CFM, permitindo a escolha segura dos melhores machos a cada safra.
Revista AG – Alguns criadores avessos à avaliação genética criticam o desinteresse em se melhorar também atributos raciais dos animais, como aprumos, umbigo e profundidade de costelas. Como a empresa avalia essa questão?
Tamires Neto – A avaliação de características raciais, como aprumos e umbigo, também é feita na CFM, e pode justificar o descarte dos animais. A diferença está nas prioridades adotadas. O posicionamento da CFM é claro: selecionamos reprodutores funcionais para contribuir para o aumento da produção de bezerros de qualidade nas fazendas. Um dos maiores desafios da pecuária é proporcionar rentabilidade equivalente às atividades agrícolas. Nosso papel é colocar no mercado touros que ajudem os pecuaristas a vencer esses obstáculos.
Revista AG – Do total de touros ofertados, quanto foi comercializado na MegaLoja? Tem cliente que prefere comprar apenas direto na fazenda?
Tamires Neto – Sim, percebemos que alguns clientes preferem fazer suas compras na fazenda. Por isso, o Megaleilão CFM, que tradicionalmente oferta 1.000 Touros Nelore Ceip, é dividido em duas etapas. A primeira é o leilão presencial, que esse ano vai ofertar 450 Touros no dia 10 de agosto, em São José do Rio Preto, e no dia seguinte, 11 de agosto, ocorre a Megaloja, nas fazendas de Magda/SP e Aquidauana/MS, quando serão ofertados mais 550 reprodutores. Além da chance de comprar nas fazendas, a grande vantagem da Megaloja é a possibilidade de usufruir dos benefícios de frete ofertados durante todo o Megaleilão CFM.
Revista AG – Qual a média atingida nas vendas do MegaLeilão CFM, MegaLoja e touros com aptidão de central comercializados nos últimos anos?
Tamires Neto – Durante os dois dias do Megaleilão CFM 2016, os touros foram vendidos por uma média de R$ 9 mil. No primeiro dia do evento, quando são ofertados os reprodutores de maior índice CFM, a média ficou próxima dos R$ 10 mil e, no segundo dia, nas fazendas, chegou a R$ 7,5 mil. Todos os anos, dentre os touros TOP, alguns são disputados por centrais de sêmen e investidores acabam sendo arrematados por valores até sete vezes mais altos que a média.
Revista AG – Por esses dias, a AG recebeu um comunicado de imprensa apontando um índice de recompra de 62% nas vendas da CFM. Qual o segredo para manter a fidelidade de uma parcela tão substancial de clientes?
Tamires Neto – Nossos clientes recebem os touros que compraram, ou seja, sem surpresas. As informações positivas da avaliação genética se refletem nos resultados de suas fazendas e, com isso, eles voltam a buscar genética CFM. A confiança é um dos mais importantes atributos do nosso trabalho. Ficamos muito felizes com esse reconhecimento dos pecuaristas da marca CFM. E isso se torna ainda mais relevante em um universo de mais de 1.500 vendas anuais.
Revista AG – Dentre a clientela, existe uma grande parcela de pecuaristas que estão investindo da integração lavoura e pecuária ou a totalidade utiliza os touros em pastagem extensiva?
Tamires Neto – A ILP é uma prática que tem ganhado espaço, principalmente em regiões com maior aptidão para a produção de grãos. Outra tendência é a integração pecuária-floresta e inclusive tivemos a oportunidade de conhecer alguns projetos muito interessantes nessa área. Mas, claro, o Brasil é um continente, com diferentes realidades regionais e a pecuária tradicional extensiva ainda é muito comum. O importante é o pecuarista administrar seu negócio com profissionalismo, investindo em ganho de eficiência, mas sempre buscando as tecnologias mais adequadas a sua realidade.
Revista AG – Em relação ao melhoramento genético especificamente, o que precisamos mudar nos próximos anos?
Tamires Neto – Acho que estamos no caminho certo. A idade de abate cai ano após ano, à medida que o ganho de peso avança, e os indicadores reprodutivos também estão melhorando lentamente. O grande desafio é levar o melhoramento genético a mais projetos pecuários. Se conseguirmos avançar nesse campo, os benefícios serão de todos. Os criadores terão melhores resultados e a produtividade aumentará, com mais oferta de carne de boa qualidade.
* Publicado na Revista AG (Julho, 2017)
Fonte: Assessoria Agropecuária