O assunto a ser abordado não se trata de uma defesa comunista e radical da agricultura sustentável, nem mesmo atacar a agricultura comercial a qual nós convivemos
Diogo Ferrari*
Identificar que há a possibilidade de produzirmos com maior sustentabilidade, mostrar que há alternativas para a produção sustentável e mesmo assim gerar renda para unidades produtoras que apostarem também nessa idéia. Aliás, se conseguir que gere uma reflexão, que motive a buscar mais informações a respeito, assim como foi feito para elaborar esse texto, que lhe tire você leitor da zona de conforto já será uma conquista!
Iniciando com um dado muito importante, em 2050 (segundo a FAO, órgão das Nações Unidas para agricultura e alimentação), a população mundial deverá alcançar um numero de habitantes de aproximadamente 10Bi, muito mais que os 7,5Bi que vivem hoje no planeta. Ou seja, que a agricultura e pecuária do planeta precisará produzir mais comida nas próximas quatro décadas do que todos os agricultores colheram nos últimos 8 mil anos. Fica aqui uma reflexão: Se não conseguirmos um aumento significativo na produtividade das lavouras, com a redução massiva do uso de água e combustíveis fósseis, um bilhão de pessoas podem passar fome! E a agricultura e Pecuária terá de fazer o possível então para garantir uma oferta de alimento a esse contingente.
Com toda certeza será preciso rever muito toda a estrutura de produção agropecuária a qual fazemos uso hoje. E da mesma forma, a demanda por recursos naturais como água e energia também crescerá na mesma proporção, e as mudanças climáticas contribuirão ainda mais para um futuro incerto tanto para o setor Agro e Pecuario como propriamente para a vida em sociedade como conhecemos hoje.
Durante a revolução industrial, a expansão do modo de produção capitalista, motivou a necessidade de ser levado o mesmo modelo baseado nas linhas industriais, para a dinâmica de produção em escala no campo, buscando atender as necessidades das cidades e mesmo de matérias-primas para atender as indústrias, provocando uma corrida verde no campo.
Entre os Séculos XIX e XX, o modelo de agricultura tradicional que priorizava a utilização exclusiva dos recursos naturais e da mão-de-obra direta, passou a perder espaço para uma nova agricultura chamada moderna, que se caracterizou pelo vasto uso de insumos externos, utilização de máquinas pesadas, manejo do solo, uso de adubação química e todos os “cidas” possíveis (inseticida, herbicida, etc.). E, essa tal agricultura moderna, muitos a defendem por se tratar de um modelo mais científico, mais produtivo e mais competitivo. Sem contar que pesquisas em torno da modernização da agricultura apontam para alta degradação ambiental.
Sabe-se, no entanto, que quem produz a maior parte dos alimentos que abastece as cidades, nos países subdesenvolvidos, é a agricultura familiar. As grandes propriedades modernizadas, na verdade, se dedicam ao negócio agroexportador. Vale mencionar que o modelo convencional de agricultura moderna se compromete apenas com o desenvolvimento econômico das grandes metrópoles industriais empenhadas na expansão do agronegócio.
SUSTENTABILIDADE AGRÍCOLA
Em contrapartida ao método de produção da agricultura moderna, e resgatando os métodos produtivos tradicionais dos camponeses e indígenas, surgem modelos de agriculturas sustentáveis – que promovem a reconexão do homem com a natureza. Contestando esta a realidade corporativa da agricultura, a agricultura ecológica começa a se disseminar no mundo e no Brasil através de diversas correntes, dando uma alternativa de negócio viável para aquelas propriedades familiares.
Agricultura Sustentável pode ser definida ou inserida em correntes teóricas e práticas distintas, tais como: Biológica ou Orgânica, Biodinâmica, Natural e Permacultura – uma das dinâmicas que vem ganhando espaço hoje.
Retratando melhor…
- A Biológica é a mais conhecida e faz oposição à agricultura industrializada, uma vez que não utiliza produtos químicos e cuida da manutenção do solo.
- A Biodinâmica encara a agricultura como organismos interdependentes, dando um foco ainda mais importante à reciclagem, reutilização e preparação das plantas;
- A natural, por sua vez, foca no mínimo manejo e controle sobre o sistema, deixando com que as plantações se desenvolvam e de acordo com a sua natureza;
- A Permacultura é uma estratégia de planejamento da produção que aproveita as condições e recursos naturais.
Toda atividade agrícola e pecuária necessita do uso da terra e da água para extrair os sais minerais, se hidratar (da mesma importância que necessita do sol para realizar a fotossíntese e uma planta poder vegetar, produzir ou mesmo um gado necessita de fonte de alimento para produzir leite e carne por exemplo).
Para podermos contar com uma unidade produtiva, devemos buscar um dos conceitos básicos da agronomia onde, nutrientes contidos na terra têm um tempo determinado de existência e de mobilidade, e da mesma forma podem ser exauridos com o simples cultivo errado. Para evitar qualquer inconveniente de fertilidade de solo, é preciso adotar algumas medidas preventivas que visam manter o solo rico e fértil.
Pensando em uma unidade produtiva, cabe a nós balancearmos a renovação de todo meio, permitindo uma produção em um ciclo ou ano seguinte. Trabalhando para manter balanceada a retirada-reposição de nutriente, bem como as propriedades agricultáveis, podendo contar então com o sol e a chuva à sua disposição para que tenhamos uma sequência produtiva.
A agricultura sustentável permite proporcionar então, uma maior segurança alimentar, visto que não deixa de cumprir o papel econômico, e ainda garante alimento de qualidade para todos, com baixo impacto ambiental, além de ser mais resistente às mudanças de clima.
Desafios da Agricultura Sustentável
Agricultura Orgânica introduzida como ferramenta de sustentabilidade: reduzir ou zerar o uso de insumos químicos para adubação e controle de pragas, com o objetivo de preservar a saúde do solo e da água.
Sistemas Agroflorestais adotados como alternativa da manutenção das áreas produtivas: combinando o cultivo de plantas agrícolas com a manutenção de áreas de matas nativas. Garantindo a preservação da biodiversidade nas fazendas, além de garantir a ciclagem de microrganismos presentes no solo, o que se traduz em uma terra mais saudável.
Conquista de Escala Produtiva: Selos verdes foram emitidos há 20 anos, mas aqui no Brasil estima-se que o percentual da agricultura com reconhecimento pelos selos verdes/orgânicos que receba alguma certificação socioambiental não chegua a 1% do total emitido.
Benefícios do consumo de produtos orgânicos
- Restaura a biodiversidade, protegendo a vida animal e vegetal;
- Evita problemas de saúde causados pela ingestão de substâncias químicas tóxicas;
- Alimentos orgânicos são mais nutritivos em função do menor teor de água seus nutrientes são mais concentrados;
- Evita a erosão do solo, em função da rotação de culturas, plantio consorciado, compostagem, etc.;
- Economiza energia;
- Protege futuras gerações de contaminação química;
- Protege a qualidade da água;
- Ajuda os pequenos agricultores;
- O produto orgânico é certificado.
Conclusões
A partir de todo o assunto abordado, a agricultura tradicional nos próximos anos com certeza sofrerá grandes mudanças a fim de aperfeiçoar a sua produção. Bem como a diminuição nos desperdício de água/nutrientes de solo, o reaproveitamento de resíduos e a rotação de culturas, trazendo resultados além da preservação ambiental, pois no sistema econômico em que vivemos, a excelente relação custo/benefício que a agricultura sustentável apresenta, traz um novo pensamento de desenvolvimento aliado a sustentabilidade.
Pensando em escalas menores, a ideia de uma agricultura mais “limpa” e barata, nos da à possibilidade de atingirmos populações com sérios problemas sociais, pois deixa acessível à inserção destas, antes sem oportunidades, em futuras comunidades autossuficientes. E ainda permitir que os modelos de negócios familiares ainda persistam e sobrevivam e sejam viáveis.
Finalizando, haverá espaço sempre para as duas atividades de negócio, seja a Agricultura Sustentável, como a Agricultura Comercial Extensiva. Se bem que se conseguirmos estabelecer uma sinergia entre as das filosofias e formar um novo conceito de agricultura, poderá ser o melhor caminho para o que defino como Agricultura de Futuro.