Agricultura demanda saberes que transcendem o ambiente rural

Este artigo foi escrito por Fernando Mendes Lamas, pesquisador na área de manejo cultural do algodoeiro com foco em sistema de produção na Embrapa Agropecuária Oeste

A importância da agricultura para a humanidade cresce numa escalada sem precedentes. A cada ano é menor o número de pessoas produzindo alimentos, fibra e energia para atender um maior número de pessoas.

Considerando que o fator de produção terra, é limitado, a alternativa mais viável para atender a crescente demanda por produtos da agricultura é a melhoria da produtividade.

Melhorar a produtividade não significa apenas aumentar a quantidade produzida por unidade de área, embora isto seja muito importante, há necessidade de se melhorar significativamente a produtividade de todos os fatores envolvidos com a produção de grãos, de carne, de leite, de fibra e de energia.

Dentre esses fatores temos aqueles de natureza tecnológica, bem como os de eficiência de processos.

Acredito que a gestão dos processos é o que mais precisa ser melhorado. Dispomos de cultivares com elevado potencial produtivo, técnicas de manejo de solo adequadas para as condições de ambientes tropicais, como é o caso do Brasil, raças de animais altamente produtivas, equipamentos com alta tecnologia, entre outros.

Mas, o grande desafio consiste em encontrar resposta para essa pergunta: Como trabalhar tudo isso para a melhoria da produtividade?

A busca por respostas a esses questionamentos está saindo do ambiente rural e indo para o ambiente urbano. Vejamos os últimos grandes eventos que abordaram o assunto: 5º Fórum de Agricultura da América do Sul, realizado em agosto de 2017, em Curitiba, PR; Fórum Agronegócio Sustentável realizado em setembro, em São Paulo; Tea Brazil Exhibition & Conference – Tecnologia e Internet das Coisas no Campo, a ser realizado em outubro, em São Paulo.

Esses agroeventos são exemplos de encontros em que a agricultura é discutida dentro de uma visão moderna, muito adequada aos dias atuais, não só por profissionais de ciências agrárias, mas por equipes multidisciplinares.

Considerando os grandes desafios que estão a cargo da agricultura, em especial da brasileira, tudo isso que está acontecendo é muito positivo. No entanto, todos nós, sociedade brasileira, precisamos nos empoderar dos frutos dessas discussões para que possamos contribuir para a superação dos desafios que estão postos.

Considerando as projeções da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), a população do planeta deverá ser superior a 9 bilhões de pessoas em 2050, o que demandará aumento significativo da produção de alimentos, fibra e energia. Esta demanda somente será atendida com o aumento da produtividade.

A questão da segurança alimentar é talvez um dos temas mais palpitantes na atualidade. Daí a necessidade de se discutir agricultura de uma forma integrada, envolvendo os públicos rural e urbano; aqueles que produzem e todos os que consomem. Somente assim, será possível superar o grande desafio que é garantir a segurança alimentar.

Quando pessoas das mais variadas áreas do saber, se reúnem para discutir sobre agricultura, podemos ter uma ideia clara da importância do tema para a humanidade.

Essa nova dinâmica de debates de temas, antes muito restritos a cadeia produtiva e aos cientistas, faz com que todos se tornem envolvidos com a agricultura, independente de como ocorre essa ligação, é preciso buscar se inserir nesse novo ambiente.

Esta inserção de talentos multidisciplinares é algo premente para que o setor agropecuário possa continuar a responder as demandas da mesma forma espetacular como vem respondendo nos últimos anos, via aumento da produção, através, principalmente, do aumento da produtividade.

A inserção aqui referida é a necessidade de uma maior aproximação dos produtores rurais, com o objetivo de encontrar de forma proativa e integrada, alternativas para a superação dos grandes desafios que os cenários futuro nos propõem.

Hoje, quando pensamos na questão ambiental, vemos que o Brasil consegue produzir alimentos, fibras e energia de forma sustentável.

No entanto, face aos grandes desafios do ponto de vista ambiental e territorial, a produção agrícola terá invariavelmente que passar por profundas transformações de tal forma que seja capaz de produzir para atender às demandas da população atual e das gerações futuras.

Ou seja, analisando num sentindo mais amplo, tanto o aspecto quantitativo da produção quanto seu aspecto qualitativo.

Temas como a redução do volume de água do Rio Piranga, na cidade de Ponte Nova (MG); a redução da vazão do Rio Meia Ponte, na região metropolitana de Goiânia (GO), dentre outros inúmeros exemplos, serão cada vez mais discutidos.

O que torna ainda mais relevante o papel do novo produtor rural, que passa a ser também um produtor de água, como agente conservador, de um recurso natural da maior relevância para a humanidade.

Vivemos no Brasil, um momento muito interessante de sua história sobre o ponto de vista do crescimento populacional das grandes cidades brasileiras.

Entre 2015 e 2016, 24,8% das cidades do interior do Brasil, tiveram redução de suas populações. No entanto, as grandes cidades brasileiras, tais como: São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Goiânia, Salvador, Ribeirão Preto, Campo Grande, Uberlândia, Cuiabá, Curitiba, Porto Alegre, dentre outras, tiveram crescimento significativo de suas populações.

Quando analisamos todo o conjunto de transformações que estão ocorrendo tanto mundo a fora, quanto no Brasil, vemos como é salutar o deslocamento do eixo onde se discute agricultura. Essa mudança se torna ainda mais importante dada a percepção inovadora que as pessoas que estão participando dessas discussões têm do assunto, dando a esse, o caráter de multidisciplinaridade, que é fantástico.

Apenas para exemplificar, recentemente foi lançada no Brasil, tendo como protagonistas os produtores rurais, a campanha EU SOU DE ALGODÃO e o lançamento da campanha foi na cidade de São Paulo.

Quando a sociedade, especialmente a urbana entendeu os fundamentos da campanha, a adesão foi espetacular pelos diferentes segmentos da sociedade. Qual é o fundamento desta campanha, o algodão é produto natural, da agricultura, muito mais sustentável que a fibra sintética.

Dada a complexidade da agricultura, faz-se necessário a união de competências para que possamos fazer frente ao desfio de produzir alimentos, fibras e energia para suprir a demanda da população.

Fonte: Embrapa

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