Agricultores gaúchos estão desanimados e preocupados com a safra de trigo

Cenário atual com falta de crédito, seguro agrícola, preços baixos e dúvidas sobre o clima trazem preocupações para a safra de trigo no Rio Grande do Sul

Falta de crédito e seguro agrícola, preços muito baixos no mercado e possibilidade do impacto de um evento El Niño são alguns dos fatores do cenário atual que estão preocupando os produtores de trigo no Rio Grande do Sul, na preparação para a safra 2023. Estes foram temas abordados pela reunião da Câmara Setorial do Trigo, realizada nesta segunda-feira (22/05) pela Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi).

“Em quatro anos, tivemos quebra em três safras de verão, corroendo o fluxo de caixa dos produtores. Há um desânimo e uma preocupação no setor, pois há dificuldade de liberação de crédito e problemas com o seguro agrícola, que não cobre os custos de produção”, alertou o diretor e coordenador da Comissão do Trigo e Culturas de Inverno da Farsul, Hamilton Guterres Jardim.

O coordenador da Câmara Setorial do Trigo, Tarcisio Minetto, ressaltou que há uma preocupação do setor produtivo do trigo e de outros cereais de inverno em relação à disponibilidade e acesso ao crédito, o alto custo do seguro agrícola e a perspectiva de liquidez futura da venda da safra.

“A solicitação é de que tenhamos crédito disponível aos produtores a juros compatíveis, para que possamos continuar ocupando áreas no inverno com sustentabilidade. Avançamos nas últimas safras de inverno e não podemos retroceder. Para isso, será necessário apoio de crédito, tanto para custeio quanto para comercialização”, frisou.

As previsões de plantio para a safra deste ano pelo IBGE e pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) ainda estão sendo apuradas, mas dados preliminares estimam em torno de 1,5 milhão de hectares plantados, com produção total próxima a 5 milhões de toneladas.

A Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado do Rio Grande do Sul (Fecoagro) promoveu um levantamento entre 20 cooperativas do Estado sobre a intenção de plantio de trigo para a safra de 2023 e identificou um aumento de 1,42% na área de cultivo. “Há um sentimento de manutenção de área cultivada. Acreditamos no cenário, mas com preocupações”, destacou o diretor executivo da Fecoagro, Sérgio Feltraco.

No entanto, consulta de dados junto ao Banco Central sobre os créditos contratados para a safra de trigo deste ano apontam para o financiamento de 710 mil hectares, quando o contratado na safra passada, neste mesmo período, ultrapassou 1 milhão. “Isso pode sinalizar redução da área de cultivo, ou então que o produtor possa ter alcançado seu limite de crédito com a safra de verão”, complementou a gerente executiva de produtos e projetos de agronegócios do Banrisul, Paula Bernardi.

Como encaminhamento, a Câmara Setorial deverá elaborar um documento de alerta elencando os temas mais preocupantes para a cadeia produtiva do trigo no Rio Grande do Sul, a ser enviado ao Governo Federal, para que seja informado da gravidade da situação.

“Essas informações serão repassadas ao secretário Feltes para que ele possa articular junto ao governador, ao vice-governador e ao Governo Federal”, concluiu o coordenador das Câmaras Setoriais da Seapi, Clair Kuhn.

Participaram da reunião representantes das seguintes entidades: Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), Associação das Empresas Cerealistas do Estado do Rio Grande do Sul (Acergs), Banco do Brasil, Banrisul, Biotrigo Genética, BRDE, Conab, Emater/RS-Ascar, Embrapa, Farsul, Fecoagro, IBGE, JF Corretora, Ministério da Agricultura, Moinho do Nordeste, Moinho Estrela, Moinho Vacaria, Sinditrigo, Stedile Sementes e T&F Consultoria.

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