O preço dos grãos vem, ao longo das últimas semanas, com baixas expressivas e renovando mínimas na bolsa de Chicago; agricultor improvisou ‘silo’ na fazenda
O mercado brasileiro de milho encerrou a semana passada pressionado com o aumento da oferta. Segundo a Safras Consultoria, os produtores seguem ampliando a fixação em meio a dificuldades de armazenamento, consequência do avanço da colheita da soja. Ainda de acordo com a Safras Consultoria, os consumidores ainda estão relatando uma posição confortável em seus estoques, ampliando a pressão.
Em janeiro de 2023 o preço da soja caiu no Brasil e desceu a seu menor patamar desde dezembro de 2021, diz o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP. Os preços da soja em grão seguem em queda no mercado brasileiro. Segundo pesquisadores do Cepea, a pressão veio da oferta acima da demanda. O ritmo das vendas de soja esteve reduzido nos últimos meses, e, agora, produtores têm necessidade de fazer caixa e/ou de liberar espaços nos armazéns, elevando a disponibilidade no spot nacional.
Já do lado comprador, demandantes estão cautelosos nas aquisições de novos lotes de soja. Quanto aos derivados, as desvalorizações do óleo e do farelo têm sido menos intensas em relação às verificadas para a matéria-prima, resultando em melhora na margem de indústrias. No caso do óleo de soja, o movimento de baixa foi limitado por expectativas de maior demanda para a produção de biodiesel.
Os preços médios do milho seguem em queda, operando nos menores patamares do ano em muitas praças acompanhadas pelo Cepea. Este cenário de baixa se deve à elevada produção da safra verão, ao clima favorável ao desenvolvimento da segunda temporada e, principalmente, à redução da demanda interna. De acordo com colaboradores do Cepea, as negociações se mantêm calmas no spot nacional. Enquanto produtores se mantêm mais flexíveis – tendo em vista as necessidades de fazer caixa e/ou de liberar espaço nos armazéns –, compradores demonstram baixo interesse em novas aquisições.
Com essas baixas dos grãos muitos produtores tem optado pela armazenagem do grão na espera de melhores preços. Entretanto é sabido que, um dos grandes problemas dos agricultores brasileiros, é o déficit de armazenagem. Atualmente supera as 100 milhões de toneladas por safra, segundo estudo da consultoria Cogo Inteligência em Agronegócio, divulgado em 2021.
Mas o agricultor do vídeo encontrou uma maneira, no mínimo, inusitada. É possível ver nas imagens que ele está depositando o milho colhido na lavoura dentro de um galpão através do telhado.
No Brasil, só 14% das fazendas têm armazéns ou silos. Realidade bem diferente se compararmos com países como Canadá (85%); Estados Unidos (65%) e até mesmo com nossa vizinha Argentina (40%), de acordo com o Boletim Logístico da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Com uma capacidade de armazenamento estático adequada, o lucro da maioria dos produtores brasileiros aumentaria em até 55%.
Umas das alternativas mais usadas nos últimos tempos são os silos-bolsas. Com seu uso no Brasil estabelecido entre 2013 e 2014, o sistema de armazenagem por meio dos silos-bolsas, ou silos bag, vem se consolidando como uma alternativa para equacionar esse sério problema do déficit de armazenagem, frente a sistemas de armazenamento como silos fixos metálicos ou de alvenaria (concreto), ou então armazéns convencionais (sacarias). “Numa comparação com os silos metálicos estáticos, que são bastantes usados no Brasil, você tem uma redução nos custos totais, de implantação e operação, que chega até 53%, no caso da soja, e até 60% no armazenamento do milho”, explica Jean Prado, técnico agrícola e consultor da Pacifil, uma das principais fabricantes de silos-bolsa no Brasil.
A grande importância de se investir num sistema de silo é o fato de se ter uma ferramenta que possibilitará ao produtor gerir melhor sua produção, possibilitando escolher o melhor momento de negociação, evitando as pressões naturais do mercado na época da colheita. “No Brasil, este déficit de armazenagem estática faz com que os produtores, em sua grande maioria, tenham que correr para vender sua colheita com os preços do dia, para não ter perdas. Com um sistema de armazenamento na propriedade o produtor consegue elevar sua capacidade de negociação, na medida em que se pode guardar a safra ou parte dela para negociá-la ao longo do ano”, afirma Rodrigo Vaiana, da Pneus Agrícolas e Agregados da Pivot.
Segundo Jean Prado, os silos-bolsas comercializados no Brasil em geral têm uma garantia de fábrica de 2 anos, em relação à durabilidade do material do qual é feito, mas a vida útil do produto pode se estender facilmente aos 10 anos ou mais. Mas, obviamente, esse não é o tempo de durabilidade que terá o grão dentro do silo bolsa. Isso dependerá, explica o técnico agrícola, do tipo de grão, do seu teor de umidade e do nível de impureza que ele terá. “Normalmente, o milho seco, por exemplo, dura pouco mais de 1 ano, e a soja entre 8 e 10 meses. Também impacta nesse tempo de armazenamento as questões do clima da região. Numa região mais úmida e chuvosa, esse tempo reduz bastante”, esclarece o especialista.
Mas esse tempo de armazenamento pode se estender significativamente se o proprietário tomar alguns cuidados e fazer a correta instalação dos seus silos-bolsas. Jean recomenda escolher um espaço com solo bem limpo e uma certa declividade para não acumular água. “Também é importante fazer um cercamento nesse local que receberá as bolas, para evitar o acesso de animais, seja de criação, ou mesmos silvestres como roedores que existem próximo às fazendas”, explica.
O tamanho e a capacidade de armazenamento das bolsas é outra preocupação importante do produtor ao escolher um silo-bolsa. Historicamente, no Brasil foi definida a bolsa de 9 pés por 60 metros de comprimento como a padrão e que pode armazenar de 180 a 200 toneladas, dependendo do tipo de grão.
Mas hoje, com a alta produção, muitos especialistas defendem que tal medida já está obsoleta. “Em muitos países, como Argentina e Uruguai, usam-se amplamente o sistema de silos-bolsas de 75, 100, 125 metros, e também bolsas com 10 e 12 pés, voltada para colheitadeiras bem maiores. Aqui no Brasil, já existe a comercialização dessas bolsas maiores, mas ainda são pouco usadas”, explica Jean.
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