“Cogitamos parar”, afirma produtor de MT que investiu na criação de abelhas após perder soja orgânica por conta da ferrugem asiática.
Após anos dedicados à produção de soja orgânica, o agricultor Bruno Franciosi investiu na criação de abelhas na fazenda em Tangará da Serra, Mato Grosso. A diversificação começou há uma década e foi motivada pelas perdas constantes com a soja devido à ferrugem asiática e outras dificuldades de mercado.
Além disso, a apicultura contribui significativamente para a polinização das culturas na fazenda, resultando em ganho de produtividade. “Esse ano a gente fez um experimento com canola, colocamos uma colmeia por hectare, e vimos um incremento de até 40% na produção devido à polinização das abelhas”, afirma Bruno.
A fazenda, que possui uma área de mais de seis mil hectares de reserva do Cerrado, mostrou-se um local ideal para a produção de mel orgânico. No entanto, nos últimos anos, o produtor tem enfrentado perdas com a deriva de defensivos agrícolas. A deriva ocorre quando os produtos aplicados em uma área agrícola se deslocam pelo ar e atingem outras lavouras, muitas vezes distantes.
“De quatro anos para cá, temos perdido muitas abelhas devido à deriva de defensivos. Todo ano é a mesma coisa, perdemos colmeias inteiras”, conta Franciosi que, inicialmente, investiu na apicultura como um hobby com 20 caixas de abelhas. Depois, o negócio foi expandido para 100 e, após a contratação de um apicultor, chegou a 700 colmeias.
Com perdas de abelhas, apicultor precisou comprar mel para garantir negócio
Apesar do crescimento no volume de colmeias, o agricultor precisou buscar mel de outros fornecedores para complementar a produção. “Ano passado e este ano, precisei comprar mel do Nordeste para manter a marca, pois a nossa produção foi insuficiente para garantir a distribuição devido à alta mortalidade das abelhas”, relata Bruno Franciosi ao Agro Estadão.
O agricultor procurou o Instituto de Defesa Agropecuária de Mato Grosso (Indea) que identificou o fipronil como o defensivo responsável pela morte das abelhas, porém, “não houve ações concretas para mitigar danos”, lamenta Franciosi. “Cogitamos parar, porque não é nosso foco principal. No entanto, continuamos na esperança de que a recente proibição da aplicação aérea de alguns defensivos traga uma solução”, avalia Franciosi.
Vale ressaltar que, em dezembro do ano passado, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) proibiu a pulverização foliar não dirigida ao solo ou às plantas. Isso significa que as aplicações em área total, não é permitida.
“Colmeia Viva” busca soluções para mitigar impactos na produção
Como resposta à crescente preocupação com a mortalidade das abelhas, frequentemente associada ao uso de defensivos agrícolas, o projeto Colmeia Viva, atualmente, coordenado pelo Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg), visa promover um diálogo entre agricultores e criadores de abelha.
Entre as ações do projeto, vigente há mais de uma década no Brasil, destaca-se um aplicativo gratuito desenvolvido especialmente para o Colmeia Viva, onde agricultores e apicultores podem registrar suas localizações e se comunicar.
“O agricultor consegue avisar quando haverá uma aplicação de defensivos e, então, o apicultor consegue proteger as suas colmeias”, explica a coordenadora do comitê de uso correto e seguro do Sindiveg, Claudia Barreto, ao Agro Estadão.
Além da comunicação direta, o projeto também investe em educação. Foram desenvolvidos materiais educativos e cursos presenciais e online para capacitar tanto agricultores quanto apicultores sobre boas práticas agrícolas e o uso seguro de defensivos. A iniciativa oferece ainda atendimento via 0800 771 8000, com auxílio técnico especializado para qualquer região do país.
“Essas iniciativas visam reduzir os impactos negativos sobre as abelhas e promover práticas mais sustentáveis na agricultura”, pontua Claudia.
Recentemente, a Embrapa divulgou resultado de uma pesquisa sobre o consórcio abelha-soja, mostrando que a produtividade do grão e do mel aumentam quando as duas culturas andam juntas.
Fonte: Estadão Conteúdo
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ℹ️ Conteúdo publicado por Myllena Seifarth sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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