Livro lançado: “Agradeça aos agrotóxicos por estar vivo”

Taí um livro que vai surpreender aqueles que juram que agrotóxicos matam e que churrasco de melancia é o máximo.

Por Nelson Vasconcelos

“Agradeça aos agrotóxicos por estar vivo”, do jornalista Nicholas Vital, é uma pedra no sapato dos defensores incondicionais da comida orgânica. Baseado em dados reais, e não em achismos ou preconceitos, Vital garante que espalhar medo é a principal arma da indústria dos orgânicos para ganhar mercado. E este seria seu único interesse: fazer dinheiro vendendo o discurso da comida saudável.

Longe de discutir questões de paladar, Nicholas se debruçou sobre informações oficiais para mostrar que não, a produção de alimentos orgânicos não é suficiente para alimentar o planeta; que o movimento natureba é um nicho de mercado que só beneficia muito pouca gente; e que nada mostra que os defensivos agrícolas são venenosos para o ser humano. Pelo contrário, orgânicos que primam pela sua “pureza” são até capazes de matar – como ocorreu na Alemanha em 2011, graças a uma intoxicação alimentar pela bactéria E. coli.

No livro, Vital provoca: “Esqueça o noticiário e responda rápido: você conhece, ou ao menos já ouviu falar, de alguém que tenha ido a um hospital por ingestão de resíduos de agrotóxicos em alimentos convencionais? Mesmo que seja um primo do irmão do amigo do vizinho? Aposto que não.”

O mundo, portanto, não pode abrir mão dos agroquímicos – e Nicholas Vital mostra por quê. Sem medo de provocar um setor barulhento do mercado de alimentos, ele lembra que 99% dos consumidores no Brasil preferem os alimentos convencionais e estão certos.

Vamos a um exercício de muita imaginação: o que seria do mundo sem agrotóxicos? A indústria dos orgânicos tem como produzir alimentos para sete bilhões de pessoas?

Sem dúvida, seria um mundo com escassez de alimentos. Desde os anos 1960 a população mundial saltou de 3 bilhões para 7,3 bilhões de pessoas — ou seja, mais do que dobrou. E esse crescimento só foi possível pela maior oferta de alimentos proporcionada pela adoção das novas tecnologias agrícolas.

De acordo com a Organização das Nações Unidas, a população seguirá crescendo nas próximas décadas e deve chegar a quase 10 bilhões de pessoas em 2050. Por outro lado, estudos científicos mostram que a agricultura orgânica produz, em média, 34% menos do que a convencional. Banir os agroquímicos significaria reduzir em um terço a oferta de alimentos em um momento em que precisamos de cada vez mais comida. A conta, como vemos, não fecha.

Quem são as reais vítimas dos agrotóxicos, além das inúmeras pragas?

Não existem vítimas. Existe, sim, um problema sério de percepção de risco quando falamos em agrotóxicos. Não há sequer um caso comprovado de morte por ingestão de resíduos de pesticidas em alimentos. De acordo com dados do Ministério da Saúde, apenas 4,5% dos casos de intoxicação humana por agentes tóxicos no Brasil são causados por agroquímicos, sendo que mais da metade dos casos envolvem tentativas de suicídio (ainda assim, entre os 971 agricultores que tentaram se matar ingerindo agrotóxicos em 2013, somente 64 conseguiram).

Apenas como comparação, os medicamentos foram responsáveis por 28% das intoxicações no país e os produtos de limpeza, por 8,5%. Agora eu te pergunto: o que é mais perigoso? No caso dos agrotóxicos ainda existe um fator agravante: menos de 15% dos agricultores utilizam equipamentos de proteção obrigatórios, assumindo, assim, o risco de uma intoxicação. Os números mostram que a realidade é bem diferente da propagada pelos detratores.

Alguém já sugeriu que você está fazendo o jogo da grande indústria dos agrotóxicos? Será que isso vai acontecer?

Com certeza. Quando faltam argumentos técnicos e científicos, a única saída são os ataques pessoais — e eles certamente virão. Mas eu estou tranquilo, já que os dados apresentados no livro são muito consistentes.

O que te deixou mais surpreso durante a pesquisa para o livro?

Sem dúvida, a ideologia em torno do assunto e o apoio de instituições tidas como sérias, como a Fundação Oswaldo Cruz, às campanhas que pedem o banimento dos agrotóxicos. Também chama a atenção o espaço dado pela imprensa a “estudos científicos” contestados pela comunidade científica. Um exemplo clássico é a lenda da contaminação do leite materno por agrotóxicos, baseada em um trabalho divulgado em 2011, sob a chancela da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). O material, que na realidade não era um estudo científico, mas sim uma tese de mestrado, foi amplamente divulgado pela imprensa sem qualquer tipo de contestação. Pouco tempo depois, soube-se que o trabalho possuía inúmeros problemas metodológicos e que não fora aceito pela comunidade científica. A tal tese nunca foi publicada por problemas técnicos, mesmo assim, ganhou as manchetes dos jornais em todo o Brasil.

Você diz que a onda da comida orgânica nasceu por aqui a partir do Plano Real, em 1994, e da estabilização da moeda, que veio em seguida. Seria apenas mais um segmento no mercado de produtos caros?

Os varejistas não vão conseguir fazer você almoçar duas vezes no mesmo dia, mas podem, através do marketing, fazer com que você gaste duas vezes mais dinheiro na sua refeição. Trata-se de uma questão de mercado, eles querem promover os produtos mais rentáveis e lucrar mais. Esses grupos, coincidentemente, são os maiores anunciantes dos veículos de comunicação no Brasil, enquanto as indústrias de agrotóxicos são proibidas de fazer comerciais em qualquer programa que não seja voltado ao público rural. Trata-se de uma tática do medo.

Eles criam um vilão e depois vendem (muito mais caro) a solução para o problema. No entanto, diversos estudos mostram que não há qualquer diferença, seja nutricional ou de sabor, entre produtos orgânicos e convencionais.

Na briga entre dois mercados tão diferentes, para que lado pendem as chamadas autoridades (ministério, Anvisa, universidades etc)?

Nos últimos anos, as autoridades têm apoiado abertamente o desenvolvimento da agricultura orgânica — e eu não critico isso. O problema é que para valorizar um segmento, eles passaram a satanizar o outro, muitas vezes tomando medidas extremas e sem se preocupar com as consequências.

Um exemplo clássico de como essa ideologia tem prejudicado o Brasil é o caso do combate ao Aedes aegypti. O mosquito, que já havia sido erradicado do território brasileiro em duas oportunidades — a primeira, em uma campanha liderada pelo sanitarista Oswaldo Cruz, em 1958, e a segunda em 1973 —, voltou com força total no final dos anos 1980, período que coincide com a proibição do DDT, um dos pesticidas mais polêmicos da história.

Não estou aqui defendendo a volta do DDT às lavouras. Mas em casos de emergência, como os de saúde pública, é preciso ter mais flexibilidade. De acordo com dados do Ministério da Saúde, somente em 2015 foram pelo menos 1,5 milhão de casos de zika, febre chikungunya ou dengue no país.

A indústria dos orgânicos é muito eficiente em marketing. Ainda assim, sua participação no mercado geral é mínima. Falta dinheiro para o consumidor comprar orgânicos ou ele acredita que seja “tudo a mesma coisa”?

Não há dúvida de que o barulho feito pelos defensores dos orgânicos é infinitamente maior do que a representatividade desses produtos no mercado. No Brasil, eles representam menos de 1% das vendas totais. Mesmo em países considerados referência no assunto, como a Dinamarca, os orgânicos respondem por menos de 8% do mercado.

Isso acontece porque a maioria esmagadora dos consumidores ainda prioriza o preço no momento da compra. E querem sempre produtos com boa aparência, sem amassados ou buracos causados por ataques de insetos. A relação custo-benefício faz com que 99% dos consumidores no Brasil optem pelos alimentos convencionais. Os orgânicos são, e sempre serão, produtos de nicho, voltados às classes mais abastadas.

A palavra-chave nessa briga é desinformação. Por que a indústria não se empenha em rebater as acusações feitas pela turma pró-orgânicos?

A desinformação, de fato, é a principal arma dos detratores, mas como notícia ruim é o que vende jornal, a imprensa nunca se interessou pelo outro lado da história. O agronegócio como um todo nunca se comunicou de forma eficiente com o público urbano, o que permitiu que alguns mitos se propagassem. Uma das teorias mais bizarras é a que diz que cada brasileiro ingere 5,2 litros de agrotóxicos por ano. Fosse verdade, todos nós já estaríamos mortos há muito tempo.

O número é o resultado da divisão do volume de agroquímicos vendidos, estimado pelos autores do texto em 1 bilhão de litros, pela população brasileira, de 192 milhões de habitantes na época. Trata-se de um cálculo simplista, que nos permitiria dizer também que cada brasileiro fuma vinte maços de cigarro por ano. No Brasil, apenas quatro culturas concentram quase 80% do uso de agroquímicos: soja (52%), cana-de-açúcar (10%), milho (10%) e algodão (7,5%). No total, menos de 1% da soja produzida no país chega à mesa dos brasileiros.

Com o milho acontece a mesma coisa. Aquela espiga que você come na praia ou usa para fazer um creme de milho representa uma fração ínfima da produção. No caso da cana-de-açúcar, a maior parte é transformada em etanol, mas destinada à produção de açúcar também é livre de resíduos devido ao processo de refinamento. Já o algodão vira tecido, não oferecendo qualquer risco aos consumidores. A matemática parece não ser mesmo o forte dos ambientalistas.

Devemos ter mais cuidado com os alimentos orgânicos ou eles são inofensivos por definição?

Trata-se de um segmento da economia que sobrevive de meias verdades. Você sabia que as lavouras orgânicas também usam defensivos químicos? A única diferença entre os defensivos químicos e os aprovados para a agricultura orgânica é que, enquanto os primeiros são formulados, misturados a outros ingredientes e amplamente testados, os praguicidas naturais são utilizados da forma como são encontrados na natureza.

Isso, no entanto, não quer dizer que eles não sejam tóxicos. Existem centenas de substâncias perigosas, como enxofre, sulfato de cobre, piretrina, carvão, pó de fumo, entre outras, que são largamente utilizadas no cultivo de alimentos orgânicos. No Brasil, um dos produtos mais usados nessas plantações é o óleo de neem, um inseticida natural que possui mais de 150 compostos bioativos.

Se é eficiente contra os insetos, também pode ser fatal para o homem. Mesmo sendo um composto orgânico, o neem possui uma dose letal de apenas 14 ml/kg, isso significa que a ingestão de 1 litro desse óleo seria o suficiente para matar um homem de 70 quilos. Outro ponto ignorado pelos defensores dos orgânicos é o fato de que os alimentos cultivados sem defensivos são mais suscetíveis à contaminação por micro-organismos, como fungos, bactérias e protozoários. Em 2011, brotos de feijão orgânicos contaminados pela bactéria E. coli foram responsáveis por ao menos 35 mortes na Alemanha.

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O livro está a venda pela Saraiva por R$ 26,90, clique aqui para comprar.

Via Blog da Editora Record

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