E isso tem explicação: as chamadas ‘agfintechs’ se beneficiam de fatores como evolução tecnológica no campo; digitalização acelerada pela pandemia.
Startups com soluções financeiras digitais para o agronegócio vêm ganhando terreno. E isso tem explicação: as chamadas ‘agfintechs’ se beneficiam de fatores como evolução tecnológica no campo; digitalização acelerada pela pandemia; juros baixos, que empurram o investidor para ativos de maior risco, como Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs); e modernização da legislação, como a “Lei do Agro”, que possibilitou a emissão de Cédulas de Produto Rural (CPRs) digitais.
No ano passado, foram identificadas no Brasil 1.574 startups com soluções de base tecnológica para o agronegócio. Dessas, 12,6% atuam antes da fazenda e, nesse universo, 21,1% têm soluções de crédito, permuta, seguro, créditos de carbono e análise fiduciária.
Outro mapeamento, recém-divulgado pela Associação Brasileira de Startups (Abstartups), identificou 299 agtechs ativas, sendo 10,2% com foco em soluções antes da porteira – a maior parte (43,8%) oferece serviços financeiros.
São negócios que vêm atraindo cada vez mais fundos de capital de risco. Para Francisco Jardim, sócio da SP Ventures, gestora especializada no agronegócio, crédito é a aposta mais forte para as agfintechs, mas não a única. Há oportunidades em áreas como pagamentos e seguros, que começam a ser exploradas por startups.
“2021 vai ser um ano que vai ficar nítido que o jogo mudou”, avalia. O novo fundo captado pela SP Ventures já fez oito aportes nos últimos 12 meses, entre eles, cheques para as agfintechs Traive e Agrolend.
O avanço do ecossistema de startups no país também tem sido um propulsor importante para as agfintechs, analisa Mariana Bonona, diretora da Associação Brasileira de Fintechs (ABFintechs). “Acredito que tivemos período de maturação de negócios anteriores, mas temos visto muitas agfintechs novas, que vêm com perfil mais maduro de empreendedor”, diz ela, que fundou a Bart Digital em 2016, em Londrina (PR).
Pioneira na emissão de CPR eletrônica, a startup sempre teve como foco a ‘desmaterialização’ dos recebíveis. Em fevereiro do ano passado, lançou um sistema de emissão, assinatura digital e registro de títulos eletrônicos. Em 2020, a plataforma movimentou mais de R$ 3 bilhões. “Este ano, já estamos perto de R$ 2 bilhões e quadruplicamos a base de clientes recorrentes”, conta.
A TerraMagna, criada em 2017, usa monitoramento via satélite, fontes de dados alternativas e análise por inteligência artificial para conectar o campo ao mercado de capitais.
Levando em conta as estruturas de Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) e Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs), a startup já tem mais de R$ 400 milhões em crédito viabilizado para o campo por meio de insumos. O maior avanço, porém, deve ocorrer no segundo semestre, com o início da safra de verão de grãos, diz o CEO, Bernardo Fabiani.
No início deste mês, a agfintech fechou uma parceria com a FMC, de defensivos agrícolas, e com a consultoria especializada em agro Marksestrat.
- Uso de fertilizantes organominerais ganha espaço na cafeicultura brasileira
- Turquia vai intensificar a compra de 600 mil bovinos vivos do Brasil para frear alta da carne
- ‘Boicote ao boicote’: cadeia produtiva de bovinos quer deixar o Carrefour sem carne
- Vaca Nelore Carina FIV do Kado bate recorde mundial de valorização
- Jonh Deere enfrenta possíveis tarifas com sólida estratégia, diz CEO
Pelo acordo, as empresas vão disponibilizar até R$ 100 milhões em uma linha de financiamento para produtores rurais com foco em aquisição de insumos. Em 2021, a startup prevê R$ 500 milhões em antecipação de recebíveis, quase dez vezes mais que o montante registrado em 2020.
Fundada em 2015, a Agronow nasceu como um sistema de monitoramento de lavouras e vem se posicionando mais recentemente como agfintech. Tem hoje três esteiras de crédito em desenvolvimento para bancos de médio e pequeno porte. No novo sistema, o objetivo é rodar algo como R$ 1,8 bilhão em 2022, incluindo culturas de milho e soja, explica o CEO, Rafael Coelho.
Fonte: Valor Econômico.