Um estudo científico reuniu informações relevantes sobre a utilização de abelhas sem ferrão para a polinização de cultivos de hortaliças em ambientes protegidos.
Esta pesquisa enfrentou dois principais obstáculos em relação aos cultivos protegidos no Brasil: adaptar os insetos às condições das estufas brasileiras e suprir a demanda insuficiente de colônias para atender às necessidades. O estudo foi conduzido por pesquisadores da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, em colaboração com a Embrapa Meio Ambiente, a Universidade de Brasília e a Fazenda Malunga.
Carmen Pires escolheu três espécies de abelhas sem ferrão para conduzir os experimentos: a moça branca (Frieseomelitta varia), a mandaguari (Scaptotrigona cf. postica) e a mandaçaia (Melipona quadrifasciata). O estudo analisou o comportamento de cada espécie em relação a diferentes condições de luminosidade e temperatura, visando compreender suas preferências e necessidades específicas.
Essas abelhas selecionadas apresentam tamanhos diversos e uma ampla distribuição geográfica, o que facilita o manejo das colônias e a troca de conhecimento entre os meliponicultores. Ao longo de quatro anos, a pesquisa foi conduzida em condições controladas e em plantios comerciais dentro de estufas na Fazenda Malunga, uma empresa de produção orgânica de hortaliças no Distrito Federal.
O desafio principal do estudo foi compreender as particularidades de cada espécie, incluindo seus hábitos, padrões de voo e preferências alimentares. As abelhas precisavam se aclimatar ao ambiente da estufa antes de começarem a visitar e polinizar as flores das culturas-alvo.
Um dos obstáculos encontrados foi o uso de materiais de cobertura, como filmes plásticos, que filtram uma grande porcentagem dos raios ultravioleta (UV). Isso confundia as abelhas, pois elas também usam os raios UV para se orientar. A maioria das estufas no Brasil não utiliza materiais adequados para as abelhas sem ferrão.
A pesquisa demonstrou que filmes plásticos que filtram cerca de 40% da luz UV permitiam voos orientados, possibilitando que as abelhas polinizassem as flores e retornassem aos ninhos. Outro desafio era a falta de controle de temperatura na maioria dos ambientes cobertos, que costumavam ficar excessivamente quentes para as abelhas. Para contornar esse problema, era necessário aumentar o tamanho das estufas.
O estudo também revelou preferências alimentares das abelhas e sua relação com diferentes culturas. Por exemplo, para polinizar cem pés de tomate italiano, era necessária a presença da abelha sem ferrão mandaçaia. As preferências variavam de acordo com a espécie e as condições de temperatura e luminosidade.
Após os experimentos, o empresário Joe Valle, proprietário da Fazenda Malunga, decidiu adotar o uso de abelhas sem ferrão na polinização de tomateiros orgânicos cultivados em estufas. As abelhas não apenas aumentaram a produção de tomates, mas também ajudaram a evitar a propagação de fungos nas plantas. Isso ocorreu devido ao comportamento das abelhas mandaçaias, que realizam a polinização vibratória, conhecida como “buzz pollination”, sem espalhar fungos.
Esse estudo destaca o potencial das abelhas sem ferrão na polinização de culturas em ambientes protegidos, oferecendo benefícios tanto para a produção quanto para os meliponicultores.
ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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