A verdadeira irrelevância do “ciclo” da pecuária

O ciclo reprodutivo de gado existe, apesar de não ser mais mandatório na composição do preço da arroba, muito menos no preço da carne nas gôndolas dos supermercados.

É muito natural notar em segmentos distintos a oscilação dos preços ano após ano em períodos similares. Cada segmento tem suas razões específicas para que isso ocorra.

A indústria de chocolate, que vende mais na Páscoa, demonstra isso com os grãos, que no auge da safra tendem a diminuir seu valor comercial. Esse aspecto também se torna visível no varejo, que vende mais no final do ano.
Esse efeito de oferta e demanda é chamado, no mundo inteiro, de sazonalidade.

Na pecuária, essa sazonalidade também passou a ser notada, porém através de uma sequência de tempo mais longa e imprecisa dado a realidade do nosso segmento. O acasalamento, a gestação, o nascimento, o desmame (tempo de cria), o crescimento (recria) e o acabamento (engorda) levavam cerca de 5 anos, em média, no passado recente.

Fonte: Acrimat

O resultado de cada etapa acima fazia com que os pecuaristas, da porteira para dentro, tomassem decisões de retenção ou de descarte de fêmeas, migrando de manejo em manejo entre cria, recria e engorda.

Nós, da LeiloApp, empresa especializada no comércio de gado, não acreditamos que esse efeito seja mandatório na criação do preço do gado ou que ele tenha algum comportamento regular e previsível a ponto de ser levado em consideração para projeções futuras. O que observamos é que o aspecto influencia apenas de forma secundária.

Se fosse simples assim, poderíamos olhar para o passado e saber quando novamente iríamos comprar 3 bezerros pelo fator de troca de 1 boi gordo abatido ou, ainda mais simples, quando novamente teríamos um ano em que mais fêmeas seriam abatidas do que machos, considerando dados de todo território nacional, onde o rebanho só cresce.

Diante dos dados que vamos trazer nesta matéria, fica impossível precisar que um dia a história irá se repetir de forma cíclica. Os próprios especialistas defensores de ciclo entram em contradição sobre o tempo desse ciclo. Podemos encontrar, em diferentes artigos, referência de 4 em 4 anos, 5 em 5 anos ou até mesmo de 7 em 7 anos.

O Brasil é um país continental que atua em diferentes praças de forma independente na questão de manejo e os pecuaristas mudarem de estratégia de forma ordenada seria a mesma coisa que o alinhamento dos astros.

De 50 pecuaristas entrevistados apenas 1 mudou 100% seu manejo, isso nos últimos 15 anos de atuação dele, o que já não casaria com nenhum período descrito acima.

Outro ponto de extrema relevância seria a influência das exportações crescentes frente ao consumo interno, deixando nosso mercado cada vez mais exposto ao dólar e às suas variações.

Notem o que aconteceu do final de 2019 até o final de 2021 com o preço da arroba e do dólar. Observa-se que eles andaram em linha. Apenas esse estudo já pode nos dizer quem é mandatório e quem não é.

Imagem: LeiloApp (https://leiloapp.com.br/)

Sobre a tecnologia cada vez mais presente nas propriedades, podemos ver que a relação de tempo de abate vem reduzindo muito devido aos trabalhos de melhoramento genético, técnicas para estação de monta e o avanço dos confinamentos, o que também desenquadraria qualquer cadeia cíclica que pudesse existir no passado.

Quem defende a frase “um ano típico na pecuária é um ano atípico” não pode ser a mesma pessoa que defende alguma relevância de “ciclo”. Por mais que existam, de fato, períodos em que o número de fêmeas abatidas é maior que o de machos, podemos afirmar que isso não passa de sazonalidade momentânea de difícil previsibilidade.

O avanço da lavoura e das empresas de celulose, o consumo interno e externo, a demanda por carne vermelha, fatores climáticos, entre outras variantes (já desconsiderando o dólar citado acima), devem ser levados em consideração com muito mais relevância que a sazonalidade do rebanho.

A pecuária mudou e, mesmo que façamos uma análise mais longa, desde 1974, a pecuária nacional só tem uma única constatação histórica verdadeira: CRESCIMENTO. Crescimento de rebanho, crescimento de abate, crescimento de relevância mundial, crescimento de eficiência e crescimento de tecnologia. Talvez a única coisa que não cresça na mesma proporção é a margem de retorno do nosso segmento.

Temos que nos profissionalizar cada vez mais, olhando para aquilo que gera resultado de fato e aumentam nossas margens, avançando sempre e cortando gastos desnecessários, pois os espaços ficam cada vez mais limitados.

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