O Brasil quer evitar que o cenário dos Estados se repita por aqui. É um desafio grande, mas representantes do setor julgam que seja possível.
Os Estados Unidos se preparavam para um dos melhores anos na pecuária. A demanda mundial por carnes é crescente e os chineses, os grandes compradores do momento, abriram as portas para os americanos no ano passado.
A pandemia gerada pelo coronavírus não só eliminou a possibilidade de crescimento do setor como trouxe um cenário de incertezas no mercado de proteínas, segundo a American Farm Bureau Federation, entidade de produtores. Os números são alarmantes. A produção de carne bovina é, neste mês, 35,4% inferior à de igual período do ano passado; a de suínos recuou 35%, e a de frango, 40%.
A forte desaceleração dos abates de animais refletiu diretamente nos preços pagos aos produtores. O boi caiu 15% em dois meses, e o suíno, 21%.
As incertezas preocupam os produtores, que diminuem a produção. Para evitar problemas ainda maiores no curto prazo, o setor de avicultura começa a quebrar ovos que seriam destinados à produção de pintinhos.
O avanço do coronavírus já fez três dezenas de frigoríficos interromperem as atividades ou reduzirem o ritmo de produção.
O resultado é uma escassez de carne no mercado, alta de preços e até controle nas vendas. O governo americano avalia o mercado e está de olho no descasamento de preços entre o campo e o varejo.
O Brasil quer evitar que o cenário dos Estados se repita por aqui. É um desafio grande, mas representantes do setor julgam que seja possível.
O principal motivo dos desacertos na cadeia de produção nos Estados Unidos é a falta de mão de obra. Um número muito grande de funcionários foi afetado pelo coronavírus. Os que não foram estão temerosos em continuar a trabalhar.
No Brasil, a doença já chegou aos frigoríficos, mas ainda em pequena escala. Dos 500 mil trabalhadores do setor de avicultura e de suinocultura, apenas 300 foram afetados, segundo Francisco Turra, presidente da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal).
Na pecuária, Pedro de Camargo Neto, produtor rural e pecuarista, diz que as condições brasileiras são bem diferentes das dos americanos.
Na avaliação dele, há preocupação, mas diz não ver a mesma situação dos Estados Unidos se repetindo no Brasil.
Ele dá as razões. Há um número maior de unidades frigoríficas no Brasil, são menores e estão espalhadas pelo país. Além disso, elas estão com capacidade ociosa de produção.
Outra vantagem é que o boi pode ficar no pasto por mais tempo, diferentemente do que ocorre nos grandes confinamentos dos Estados Unidos.
Camargo diz que os frigoríficos se preparam e têm até equipes extras para uma eventual necessidade de substituições de funcionários. “Por isso, não vejo o Brasil enfrentado o problema dos Estados Unidos na pecuária”, afirma.
Francisco Turra também tem a mesma visão de Camargo com relação à avicultura e à suinocultura. Os Estados Unidos entraram despreparados na pandemia, enquanto o Brasil criou um protocolo de conduta logo cedo.
Ele vai sendo ajustado conforme novos problemas vão surgindo. A preocupação não se restringe ao local de trabalho, mas também ao dia dia dos trabalhadores fora das unidades.
Mas o grande número de trabalhadores nas indústrias exige cuidados e não torna a operação livre de eventuais problemas, afirma.
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Turra diz que as indústrias se conscientizam das novas necessidades de proteção. Algumas já colocam uma barreira de acrílico entre os funcionários e aumentam o distanciamento entre eles. Além disso, reduzem a velocidade da operação.
Camargo Neto diz que o protocolo de conduta adotado pelo setor de proteínas tem de ser seguido à risca, e atualizado quando necessário. “O Brasil precisa sair dessa crise confiável, estável e com um bom patamar de sanidade”.
Com informações da Folha.