A pandemia e a atividade leiteira

Ao caminharmos para o fim desta segunda década do século 21, deparamo-nos com um grave problema, mundial que não poderíamos imaginar nem em nossos piores pesadelos.

Por Laércio de Souza Campos, Médico Veterinário e Superintendente Técnico da APCH

A humanidade enfrenta uma epidemia causada por uma cepa do coronavírus, causadora de uma doença viral denominada Covid-19. Silenciosa, mas insidiosa, com alta taxa de morbidade, ela rapidamente se espalhou pelo mundo afora, atingindo os 5 continentes, tendo como agente facilitador a globalização a qual, embora tenha propiciado reforçar aos laços entre os mais distantes países, também, neste momento, se tornou nosso “calcanhar de Aquiles” permitindo a propagação rápida deste agente mortal.

No nosso Brasil a doença chegou no começo de Fevereiro, quando ainda comemorávamos o Carnaval e se instalou gradativamente sem grande alarde. O governo federal, demorou a acordar para medidas que, se não poderiam impedir a doença, poderiam a menos impedir a rápida disseminação da mesma. A tão propalada “quarentena” e outras medidas de distanciamento social foram sistematicamente sabotadas pelo nosso presidente da república que mostrou toda sua inépcia para ser o líder que a nação necessitava nesta hora e a quem procurava desesperadamente. Ao remar contra tudo e todos dizendo que era apenas uma “gripezinha” ele levou com seu mau exemplo muitos brasileiros a desrespeitarem as medidas preconizadas pelo Ministério da Saúde e com isso já estamos com 170.000 infectados e com mais de 12.000 mortos (no momento da escrita deste artigo)! Estamos ainda longe do pico da doença e o sistema de saúde pública, o SUS se encontra próximo do colapso em muitas cidades, com a ocupação total de leitos de UTI.

No campo a propagação se mostrou mais lenta por diversos fatores que não cabe a nós aqui discutirmos, mas ela também está presente. Aqui em São Paulo, como em outros estados, a quarentena foi adotada e estamos trabalhando em casa como grande parte daqueles “sortudos” que ainda mantém os seus empregos. Como médico veterinário e superintendente técnico da Associação Paulista dos Criadores de Holandês (APCH), sou responsável também pelo atendimento técnico à campo dos nossos associados em suas fazendas leiteiras. Esta atividade está suspensa no momento, com o confinamento a que estou obrigado a cumprir, mas as fazendas continuam funcionando, pois as nossas queridas vacas não conseguem entender que deveriam suspender a sua produção diária…

Ao tomar leite no café da manhã ou ao comprá-lo no supermercado não posso deixar de pensar naqueles lá na fazenda que continuam levantando de madrugada, do tratador aos ordenhadores, passando por tratoristas, cuidadores, veterinários e tantos outros que continuam a cumprir  as suas tarefas não obstante os riscos que também estão expostos como toda a nossa população. Estes são aqueles heróis anônimos que cuidam de nós, de nossos filhos e filhas, da nossa saúde ao não deixar de nos prover de um alimento tão essencial e sagrado como o leite.

Obrigado portanto a vocês, verdadeiros heróis, que com sua força de vontade e fé inabalável em dias melhores, não desistiram e mantém a produção que permite o abastecimento das nossas cidades. Aos proprietários produtores de leite, também manifestamos a nossa admiração pela persistência, pois, no auge desta crise, são miseravelmente traídos e solapados pela industria leiteira, as quais estão a achatar covardemente os preços pagos a vocês, sabendo que o produtor não tem meios no momento de resistir a mais esta pressão.

Peço ânimo a vocês criadores para suportar este momento. Em minhas orações à noite, que tenho o hábito de praticar com a minha família, não deixo de pedir por vocês e pela sua equipe de funcionários que seguem em suas tarefas tão fundamentais, mas que são desconhecidas pela maioria da população urbana.

Conclamo, portanto, a todos os colegas a homenagearem a estes abnegados e a levantarem a voz em uníssono em defesa desta classe tão fundamental na cadeia produtiva.

Deus abençoe a todos vocês heróis desconhecidos e que seus esforços possam ser reconhecidos!

Fonte: Milk Point

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