É certo que o agronegócio é responsável pela primeira posição no ranking de comércios mais rentáveis, nacional e internacionalmente; e é certo também que a crise pode muito bem atingir até os campeões na economia. Entre fatos certos e duvidosos, não se pode ignorar que o modelo brasileiro de produzir e gerar produtividade tem servido de exemplo para os colegas estrangeiros, e ainda traz consigo a segurança de um Produto Interno Bruto (PIB) mais animador. André Pessoa, coordenador do Rally da Safra – único levantamento técnico privado que avalia as lavouras de milho e soja -, propõe que “o Brasil é um dos poucos países do mundo que produz uma tonelada de grãos por habitante e tem também uma cabeça de gado por habitante”. Partindo dessa tese, é considerável que a população rural, mesmo sendo apenas 15%, consiga manter o PIB do agronegócio interessante.
A oscilação cambial abrange todas as decisões dos produtores, já que agir na dúvida custa sempre mais caro. No setor de insumos, os fertilizantes foram os mais atacados em um ano, sofrendo aumentos de 20% a 32%, com base nos dados da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul). Preços mais altos no diesel e na energia elétrica influem no orçamento final dos produtores, e a queda brusca de máquinas agrícolas tem deixado os empresários dessa área em sinal de alerta.
Ainda sim, a cotação do dólar torna a produção verde e amarela mais competitiva no mercado externo, auxiliando as cadeias exportadoras. Os grãos, em especial a soja, foram os mais agraciados pela consequência animadora, representando um recorde de mais de 200 milhões de toneladas na safra 2014/15 e ainda demonstra perspectiva de aumento no plantio da nova temporada. Complementando o ciclo, o setor de transportes aproveita o ensejo atraindo empresas e caminhoneiros (que trabalhavam com outros ramos) a mudarem para o transporte de grãos, suavizando os fretes agrícolas – trazendo boas novas a quem se decepcionou com as paralizações no início do ano.
Para não entrar em caminho de ilusões, é válido lembrar que ainda falta mais investimento. Em Uberaba (Minas Gerais), o beneficiamento do grão de soja não é feito; além de desagregar valor ao produto, causa o desemprego para aqueles que dependem do trabalho feito sobre os subprodutos e desperdiça faturamento e arrecadação de impostos melhores. A falta de amizade com o comércio exterior dificulta as coisas, aumentando alíquotas de importação obrigando os exportadores a apenas enviarem o produto em grãos, em vez do farelo ou da soja pura. O economista Marco Antonio Nogueira sugere um trabalho mais apurado a nível de política internacional, para que haja aumento na taxa de empregabilidade no setor e melhoria considerável na arrecadação de renda.
Para os próximos meses, o governo propôs novos investimentos que somam quase meio trilhão de reais. São R$ 198 bilhões voltados à infraestrutura, R$ 188 bilhões para o agronegócio e R$ 28,9 bilhões para a agricultura familiar. Além disso, os chineses deverão investir por aqui em torno de 50 bilhões de dólares.
Artigo por Mariana Souza