A genética e a pecuária de corte: avanços e oportunidades

É crível dizer que houve melhoras na pecuária de corte brasileira e, mais que isso, dizer que parte fundamental deste processo passa pelo melhoramento genético.

Sustentabilidade e a pecuária: dois temas em pauta.

Apesar dos apelos negativos sobre a pecuária brasileira difundidos regularmente, os avanços da pecuária brasileira e da produtividade nas últimas décadas são notáveis.

A produção animal pode ser aumentada de duas formas fundamentais, a primeira é pelo melhoramento do ambiente em que o bovino está condicionado, através de avanços nutricionais, sanitários e/ou reprodutivos.

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A segunda é por meio do melhoramento, realizado através de seleção genética, sistemas de acasalamento e técnicas de cruzamento, nos quais as melhorias demandam tempo em relação à primeira, porém, os ganhos são praticamente permanentes e, melhorando os manejos relacionados ao ambiente, dão maior tração ao sistema produtivo. 

É crível dizer que houve melhoras na pecuária de corte brasileira e, mais que isso, dizer que parte fundamental deste processo passa pelo melhoramento genético.

Veja na figura 1 o avanço do peso médio de carcaça no Brasil e a participação de bovinos jovens (novilhos e novilhas) no total de bovinos abatidos ano a ano.

Figura 1.
Peso médio de carcaça dos bovinos abatidos no Brasil e de novilhos e novilhas, e a participação de novilhos e novilhas no total de bovinos abatidos.

*até o primeiro semestre
Fonte: IBGE / Elaboração: Scot Consultoria

De 2010 até 2024, o peso médio das carcaças aumentou praticamente 20kg por bovino, passando de 238,4kg, para 258,2kg, incremento de 8,3% em produtividade.

No período, o peso da carcaça de bovinos jovens, considerando novilhas e novilhos, aumentou 0,7% – e a  participação no abate de bovinos aumentou 18,2%. 

Genética e sustentabilidade, qual a relação?

A seleção genética consiste na identificação de indivíduos geneticamente superiores por meio de suas características fenotípicas, para que sejam priorizados na reprodução do rebanho.

Assim, com um processo de seleção realizado durante gerações, maiores as chances de alguns genes se tornarem frequentes no rebanho. Pensando em gado de corte, algumas características de interesse para a seleção genética são: peso ao desmame, ganho de peso, idade ao primeiro parto e perímetro escrotal ao sobreano.

Esse processo consiste em duas etapas: a identificação de bovinos com um genótipo superior e a reprodução desses animais para a próxima geração.

Souza (2017) nomeou os resultados obtidos de um programa de melhoramento genético, considerando o peso de desmama, ganho de peso pós desmama, musculosidade e perímetro escrotal, como índices de seleção.

Dessa forma, a evolução anual estimada no ganho de peso de bezerros no período de 2000 a 2017 foi de 0,01 kg/dia (figura 2).

Figura 2.
Ganho pós desmama (kg/dia) de machos nascidos em 2016, de acordo com o ano de nascimento da vaca.

Fonte: Souza (2017) / Elaboração: Scot Consultoria.

Esses resultados demonstram que a diferença estimada entre os ganhos de peso pós desmama dos bezerros nascidos em 2000 e 2017 foi de 0,17kg/dia. É importante ressaltar que o manejo alimentar permaneceu o mesmo durante esse período.

Traçando um outro comparativo do mesmo estudo, ao olharmos para o ganho em precocidade e os dados apresentados, o ganho pós desmama em bezerros era de 0,509kg/dia em 2000 e passou para 0,718kg/dia em 2014.

Considerando um bovino desmamado com 200kg, até atingir 500kg, seriam necessários mais de 19 meses em 2000. Em 2014, o mesmo peso seria obtido em cerca de 14 meses, graças ao melhoramento genético.

Ou seja, o melhoramento genético, bem empregado, promove um maior giro e melhor aproveitamento dos recursos do solo até a terminação.

Além do melhor aproveitamento do uso dos recursos naturais, há possibilidades relativas à produção de bezerros, como a redução do intervalo entre partos ou da maior condição de escore corporal para as novilhas mais jovens, as chamadas “precocinhas” ou a venda de bovinos mais jovens para reposição do plantel com preços melhores do que os de mercado, através da sua comercialização em quilos de peso vivo. Mas como?

A comercialização de bovinos para reposição de plantel, tradicionalmente, ocorre “por cabeça”, ou seja, na compra de lotes, muitas vezes heterogêneos, sem a consideração do peso individual ou seu verdadeiro valor de mercado na formação do lote. Essa consideração não vale apenas para a questão genética, mas também para quem trabalha com sistemas intensivos de manejo no sistema de cria, como a prática do creep feeding, por exemplo. Vamos exemplificar.

A Embrapa classifica como peso a desmama, ou seja, com oito meses de idade, a faixa entre 180 e 210kg. Partiremos do pressuposto de um peso a desmama de 180kg, cuja referência, segundo levantamento da Scot Consultoria, em R$/cabeça, é de R$2.433,00 em 14/11, ou R$13,52/kg.

Consideraremos um ganho aditivo oriundo da genética de 5,0kg por bovino e como isso impactaria no resultado financeiro, comparativamente à venda de um bezerro de desmama por cabeça, a partir da referência em R$/kg atribuída (tabela 1).

Tabela 1.
Expectativa de resultado considerando a venda do bezerro de desmama a partir do seu peso vivo.

Fonte: Embrapa / Scot Consultoria

A venda de um bovino com 210kg, considerando a referência para o peso vivo vigente, pode gerar um adicional de R$405,50.

Em suma, o melhoramento genético promove maior giro em sistemas de ciclo completo, ou de recria e engorda, melhorando o aproveitamento dos recursos do solo e, considerando o sistema de cria, quando bem trabalhado, pode promover ganhos relativos a maior remuneração da venda do bezerro e a diminuição do intervalo entre partos.

Fonte: Scot Consultoria

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ℹ️ Conteúdo publicado por Myllena Seifarth sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira

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