A cigarrinha africana é uma espécie oligófaga, ou seja, alimenta-se de diversas plantas da família das gramíneas.
A cigarrinha do milho, também conhecida como Dalbulus maidis, é uma praga bem familiar aos produtores rurais desta cultura no Brasil. No entanto, uma nova ameaça foi identificada: a cigarrinha africana, Leptodelphax maculigera.
Originalmente encontrada na África, a cigarrinha africana foi documentada em vários países do continente, como Ilhas Mascarenhas, Costa do Marfim, Madagascar, Quênia e Camarões. Até recentemente, essa espécie não havia sido identificada nas Américas e não era classificada como uma praga quarentenária pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) do Brasil (KOJI et al., 2012; FERREIRA et al., 2023).
A cigarrinha africana é uma espécie oligófaga, ou seja, alimenta-se de diversas plantas da família das gramíneas e seu primeiro registro nas Américas aconteceu no Brasil, mais especificamente no estado de Goiás, quando entre julho e novembro de 2022, amostras de L. maculigera, incluindo formas jovens e adultas, foram coletadas e estudadas pela Universidade Federal de Goiás. Na ocasião, a cigarrinha africana foi associada a importantes culturas agrícolas, como milho, Brachiaria, capim-elefante, variedades de capim BRS Capiaçu e feijão, sendo que a identificação da espécie foi validada por meio de análises morfológicas das partes genitais masculinas do inseto (FERREIRA et al., 2023).
O segundo relato da presença da cigarrinha africana no Brasil foi notificado no Rio Grande do Sul, em dispositivos de monitoramento da Rede Técnica Cooperativa (RTC) na estação experimental da CCGL, em Cruz Alta. Segundo Glauber Renato Stürmer, especialista em entomologia da CCGL, esses indivíduos, semelhantes à conhecida cigarrinha do milho (Dalbulus maidis), foram atraídos e capturados por uma armadilha adesiva colorida.
O estado do Paraná foi o terceiro a relatar a presença da cigarrinha africana no Brasil. Na ocasião, a praga foi encontrada em lavouras no município de Londrina (PR), no norte do estado, onde técnicos do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-Paraná) encaminharam amostras para o Laboratório de Entomologia Aplicada da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG).
Devido à semelhança entre as duas espécies, é fácil categorizá-las erroneamente como “cigarrinhas do milho” durante inspeções de campo, principalmente porque a presença de L. maculigera era anteriormente desconhecida no Brasil, entretanto, as estratégias de manejo recomendadas para D. maidis também devem ser adotadas para L. maculigera.
Estratégias de Manejo
Um manejo eficaz dessas pragas requer abordagens integradas que combinem várias estratégias, sendo elas:
- Rotação de culturas: prática agrícola que consiste em alternar diferentes tipos de culturas em uma mesma área ao longo do tempo. Essa técnica ajuda a quebrar o ciclo de vida da cigarrinha e de outras pragas, reduzindo sua população ao longo do tempo. Além disso, melhora a saúde do solo e reduz a necessidade de produtos químicos.
- Escolha de híbridos tolerantes: a seleção de híbridos de milho que sejam tolerantes à cigarrinha é outra estratégia valiosa. Esses híbridos são desenvolvidos para resistir melhor à praga, diminuindo a necessidade de intervenções químicas e aumentando a produtividade da lavoura.
- Redução da janela de semeadura (sobreposição da cultura): reduzir a janela de semeadura por meio da sobreposição da cultura pode limitar o período em que as cigarrinhas podem infestar o campo. Isso pode ser feito plantando o milho em diferentes estágios, de forma que as cigarrinhas não tenham um período prolongado para se alimentar e se reproduzir.
- Eliminação do milho voluntário: é aquele que cresce sem ser plantado intencionalmente, geralmente a partir de grãos que caíram no solo em safras anteriores. Essas plantas podem servir como hospedeiras para a cigarrinha, por isso, sua eliminação é crucial para um manejo eficaz.
- Tratamento de sementes: o tratamento de sementes com inseticidas antes do plantio é outra forma de controle. Isso protege as plantas jovens durante as fases iniciais de crescimento, quando são mais vulneráveis à infestação.
- Aplicação foliar de produtos químicos associados com biológico a partir de V2: a partir do estágio V2 do milho, a aplicação foliar de produtos químicos em combinação com agentes biológicos pode ser uma estratégia eficaz para o controle da cigarrinha. Os produtos químicos atuam rapidamente para matar a praga, enquanto os agentes biológicos oferecem um controle mais duradouro, reduzindo o número de aplicações subsequentes.
- Indutor de tolerância: o uso de indutores de tolerância nas plantas de milho desempenha um papel significativo no manejo integrado das cigarrinhas e das doenças associadas. Plantas estressadas por condições como seca e deficiências nutricionais tendem a ser mais vulneráveis a pragas e doenças. Com a aplicação de indutores, a tolerância da planta a estresses abióticos é potencialmente melhorada, ajudando a planta a manter sua saúde e vigor, tornando-a menos atrativa ou suscetível às cigarrinhas e aos patógenos que ela transmite. Além disso, muitos desses indutores podem reforçar as paredes celulares da planta ou induzir a produção de compostos que tornam a planta menos palatável para as pragas, resultando em uma redução da alimentação e reprodução das cigarrinhas. Assim como os indutores de resistência, os indutores de tolerância também podem amplificar as respostas defensivas das plantas, permitindo que elas respondam de maneira mais rápida e eficaz quando atacadas ou infectadas. Nesse contexto, o Centro Tecnológico AgroGalaxy vem alcançando excelentes resultados com o uso de indutores de tolerância na cultura do milho para o auxílio no controle da cigarrinha.
- Equilíbrio nutricional entre macro e micronutrientes: a nutrição equilibrada é essencial para a saúde e vigor das plantas, especialmente no milho, que enfrenta ameaças como as cigarrinhas. Plantas adequadamente nutridas são mais vigorosas e saudáveis, possuindo sistemas defensivos eficientes que as tornam menos suscetíveis a pragas. Nutrientes específicos, como cálcio e silício, fortalecem as paredes celulares, tornando-as menos acessíveis à cigarrinha. Além disso, uma nutrição balanceada potencializa a produção de metabólitos secundários defensivos e permite uma resposta mais ágil a ameaças. Uma planta bem nutrida se recupera mais rapidamente, minimizando perdas. Este equilíbrio nutricional também capacita a planta a enfrentar estresses abióticos, como seca ou salinidade, e confere maior resiliência a desafios variados, incluindo alterações climáticas e outras pragas.
Em síntese, um manejo eficaz da cigarrinha do milho, por meio de uma abordagem integrada de diversas estratégias, não só resulta em um controle mais eficiente dessa praga específica, mas também se estende ao controle eficiente da cigarrinha africana emergente. A implementação dessas táticas combinadas contribui para uma agricultura mais sustentável e eficaz no combate a ambas as pragas.
Fonte: Agrogalaxy
ℹ️ Conteúdo publicado por Myllena Seifarth sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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