Entenda a tendência do grass-fed e a influência da alimentação dos bovinos nas propriedades nutricionais da carne
O nicho que virou moda
A carne de bovinos criados a pasto, que era um nicho de mercado nos EUA, tem se tornado cada vez mais presente na maioria dos grandes supermercados deste país. Em 2015, as vendas de carne grass-fed compreendiam apenas 1,4% do mercado de carne fresca, no entanto, sua taxa de crescimento subiu quase 40% no ano seguinte, enquanto que a carne bovina vendida convencionalmente lá cresceu 6,5% durante o mesmo período.2 Mas por que a carne a pasto ou “grass-fed”, que é tão comum para nós brasileiros, tem ganhado essa repercussão toda lá fora?
A maior parte das carnes bovinas nos EUA originam-se de sistemas de criação intensificados, ou seja, são provenientes de animais confinados para a terminação, alimentados com dietas de alto com grão para resultar em maior deposição de gordura – principalmente de marmoreio.1 Outra vantagem, é que a prática de confinar os animais acelera o processo produtivo, gerando animais pesados mais rápido. Os subsídios governamentais para produção de milho e soja, geram grãos baratos, viabilizando a utilização de confinamentos para engorda de bovinos nos EUA. Além disso, a utilização de hormônios de crescimento sintéticos ou de antibióticos preventivos são permitidos e sua adoção pode variar de fazenda para fazenda.
Tendo em vista a predominância desse sistema de criação, para os americanos a carne identificada como grass-fed engloba mais do que o fato dos animais terem sido criados em pastagens, eles consideram que estes bovinos viveram de uma maneira mais natural e livre.
Aliás, muitos consumidores percebem a carne grass-fed como uma alternativa mais segura e de melhor qualidade em relação à carne que é convencionalmente vendida e estão dispostos a pagar mais por isso.
Neste ponto deve-se ressaltar que, apesar do termo grass-fed estampado nas embalagens remeter a muitos consumidores como uma opção de uma carne mais segura, porque em tese não apresenta resíduos de hormônios e antibióticos, não significa que ela é um produto orgânico. Um sistema produtivo orgânico passa por auditoria e tem que seguir muitas regras quanto a eliminar resíduos químicos na carne e condutas socioambientais na criação para que obtenha essa certificação. Aliás, tratando-se de conceitos propriamente ditos, o termo grass-fed é utilizado para designar apenas que os animais foram engordados a pasto. Algumas certificadoras de carne grass-fed nos EUA podem restringir ou proibir a administração de hormônios ou antibióticos, mas isso não é uma regra.
Em outros países, como na Austrália, bovinos a pasto ainda são os maiores fornecedores da carne bovina para o consumo interno. No entanto, desde meados da década de 1980, a utilização de confinamento com grãos aumentou enormemente neste país.4 Cerca de 75% da carne encontrada nos grandes supermercados da Austrália hoje, é de carne de bovinos criados em pastagens e que passam a fase final sendo alimentados com grãos.4 Dessa forma, aqueles animais que realmente passam a vida toda a pasto e recebem a rotulagem de grass-fed vêm ganhando destaque, seja na própria Austrália ou em outros países que importam esse tipo de carne de lá. Os EUA, por exemplo, é grande comprador da carne de bovinos criados a pasto na Austrália.
Carne de bovinos a pasto x Carne de bovinos confinados
É interessante observar toda essa atenção que carne de bovinos alimentados a pasto vêm recebendo em vários países. Mas, além de ser proveniente de um sistema onde os animais são criados livres e se alimentando forma mais natural, será que podemos destacar diferenças entre a carne produzida a partir de animais sob regime de pastejo e os confinados? Sim! Vamos mostrar para você agora a influência que alimentação dos bovinos pode promover na qualidade nutricional do produto final, a carne.
Primeiramente, devemos salientar que a carne bovina é um alimento altamente nutritivo, independente do sistema em que foi produzida. No entanto, quando se fala de algumas propriedades nutricionais específicas, a carne a pasto pode representar algumas vantagens. Por exemplo, a carne de animais criados em pastagens é uma fonte interessante de ômega-3, devido à presença desse ácido graxo no capim. Por sua vez, a carne de bovinos alimentados com grãos é rica em ácidos graxos ômega-6. Estes dois ácidos graxos são muito importantes, pois nosso corpo não tem as enzimas para produzi-los e, portanto, só conseguimos obtê-los por meio da alimentação.
Os ácidos graxos ômega-3 são componentes essenciais do tecido nervoso, pois modulam resposta do corpo ao estresse e controlam muitos outros processos metabólicos.3 O ômega-6, assim como o ômega-3, também tem uma série de funções importantes em nosso organismo. No entanto, o ômega-6 é encontrado em vários alimentos que consumimos diariamente, e é ai que mora o perigo. Quando consumido em excesso, o ômega-6 gera um desequilíbrio na proporção ômega 6: ômega 3, tornando-se próinflamatório e podendo ser um fator agravante para doenças metabólicas.
Outro ácido graxo benéfico presente na carne de bovinos sob pastejo é o CLA, o ácido linoleico conjugado. O CLA é um ácido graxo que colabora na melhora a função cerebral, ajuda no controle de doenças metabólicas e reduz seu risco de câncer.3 Pesquisadores relataram um teor de CLA de 4 a 6 vezes maior em novilhos criados somente com forrageiras [comparados a novilhos alimentados com uma dieta de alto grão.
A carne a pasto também é muito rica em vitaminas, por exemplo, tem maior proporção de vitamina E, que possui atividade antioxidante poderosa, protegendo nossas células contra os efeitos dos radicais livres. Possui ainda, boas proporções de vitamina K2, que é importante para a saúde do coração e saúde óssea.3
Afinal, existe carne melhor?
Não costumamos usar essa abordagem, como já afirmamos no decorrer do texto “a carne bovina é um alimento altamente nutritivo, independente do sistema em que foi produzida”. Ambos os sistemas de criação tem pontos positivos e negativos e a decisão de qual é melhor depende sempre da preferência do consumidor.
Para que uma carne a pasto contenha todos esses benefícios citados é importante que esses animais tenham sido bem manejados e mantidos bem nutricionalmente durante sua toda sua vida com pastagens de qualidade.
Por outro lado, os bovinos confinados apresentam ganho de peso mais acelerado permitindo que sejam abatidos ainda jovens aumentando a possibilidade de uma carne mais macia.
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Que pontos devo observar para tentar diferenciar a carne de bovinos a pasto ou confinados?
Esta tarefa nem sempre é fácil, pois são poucas as marcas que trazem essa informação ao consumidor. No entanto, se você tiver essa curiosidade existem alguns pontos que podem utilizados como referência. Veja no infográfico que preparamos para você.
Fonte: Carne Com Ciência