A flutuação cambial, frente à queda no dólar, serviu de estímulo aos ganhos da bebida no mercado internacional.
O mercado internacional de café teve um ano de 2023 de altas expressivas nas cotações, tomando por base o arábica na Bolsa de Nova York (ICE Futures US), que baliza a comercialização global. Os bruscos e intensos movimentos para cima e para baixo nos preços em NY, como os observados em dezembro, foram uma característica em 2023.
Segundo o consultor de SAFRAS & Mercado, Gil Barabach, a transição de um período de baixo potencial produtivo brasileiro por conta de geada e seca, que caracterizou as safras brasileiras 2021 e 2022, para outro de safra cheia como a colhida esse ano, não está acontecendo de forma tão natural e linear, como o esperado. “O mercado vem passando por sobressaltos, diante de dúvidas produtivas. Talvez, o fato de ter saído de 3 anos seguidos de La Niña para ficar imediatamente sobre a atuação do El Niño justifique toda a insegurança produtiva”, afirmou o consultor.
Ele ressaltou que o El Niño de 2023, apesar de ser medido como moderado, apresenta episódios severos, como os bolsões de calor extremo observados no Brasil. “E isso fatalmente traz à memória do produtor o ano de 2016, quando a safra de café do Brasil foi afetada negativamente, especialmente o conilon do Espírito Santo”, comentou.
O café arábica na ICE US iniciou 2023 cotado em torno de 165 cents. Mas o otimismo produtivo, com as chuvas no início do ano no Brasil, elevou a pressão vendedora e derrubou os preços em NY a 145 cents, avaliou Barabach. “Na sequência, o mercado acabou corrigindo exageros de baixa, além de pegar carona em impulsos financeiros de alta, como a expectativa do Fed (Banco Central americano) iniciar o ciclo de corte dos juros ainda no segundo semestre de 2023, o que acabou não se confirmando”, apontou. Tudo isso fez o café voltar a se aproximar da linha de 200 cents na bolsa nova-iorquina.
Porém, Barabach indicou que este movimento de alta era frágil e sustentado em um financeiro instável. “E o mercado acabou sucumbindo à forte pressão sazonal, com o avanço da safra brasileira 2023 a partir do mês de maio. E o aumento na oferta veio acompanhada pelo maior interesse em negociar dos produtores brasileiros, mal vendidos na entrada da safra, o que acabou gerando pressão adicional contra as cotações da bebida”, analisou Barabach. Neste ponto, destacou o consultor de SAFRAS, o café voltou a ameaçar a linha de 145 cents na ICE US, que foi um denso fundo gráfico, testado e respeitado por duas vezes ao longo do ano de 2023.
O consultor de SAFRAS observou que, depois de desenhar esse fundo, o mercado deu outra guinada de alta, tendo como gatilho inicial o avanço da entressafra e a postura mais curta dos vendedores. “Este movimento ganhou intensidade, apoiado em antigos e novos fatores. O conflito no Oriente Médio e a alta no petróleo, bem como, o tombo nos estoques certificados na ICE US estão entre as novidades. Muito embora os baixos estoques certificados em NY já tivessem mexido positivamente com os preços no início de 2023”, ressaltou.
A flutuação cambial, frente à queda no dólar, serviu de estímulo aos ganhos da bebida no mercado internacional. Para Barabach, entraram no radar também as dúvidas produtivas em relação à safra brasileira 2024, diante do registro de produtores de queda acima do normal de chumbinhos nas lavouras de café do Brasil. Efeito da altas temperaturas ocasionadas pelo El Niño, que também trouxe problemas à safra de robusta do Vietnã, que perdeu produtividade. “Com isso, a oferta de robusta deve diminuir. Já na Colômbia e na América Central a situação climática segue favorável ao andamento dos trabalhos de colheita”, comentou.
O mercado começou a precificar a preocupação com a oferta, avaliou o consultor de SAFRAS. E o preço do café em NY acentuou o rally, impulsionado mais recentemente também por fatores técnicos de alta. Assim, a bebida voltou a ser negociada nessa reta final de 2023 a 200 cents na ICE US. Mas, diante dos sinais de sobrecompra, o mercado passou por alguns ajustes. Porém, ainda sustentando boa parte dos ganhos e ainda próximo dessa linha de US$ 2,00 a libra. O café acumula valorização de expressivos 19% no contrato março em NY até o dia 27 de dezembro. Um outro ano positivo para o produtor de café, especialmente considerado o contexto de recuperação na produção de arábica no Brasil e um fluxo de compra da indústria mundial mais lento e compassado”, concluiu.
Fonte: Agência Safras
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ℹ️ Conteúdo publicado por Myllena Seifarth sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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