Agronegócio brasileiro terá ano excepcional em 2020, diz economista; Carnes, grãos e dólar em alta apontam para um cenário raro e positivo para o Brasil.
O agronegócio brasileiro terá um ano excepcional e raro em 2020, com altos preços da soja, milho e carne no mercado externo. A previsão foi apresentada na tarde desta quarta (4/12) pelo economista e sócio-diretor da MBAgro Consultoria, Alexandre Mendonça de Barros, durante painel econômico do Agrocenário 2020. O evento foi realizado em Brasília e promovido pela Aprosoja Brasil e Corteva Agriscience.
O economista vincula sua expectativa positiva ao novo ambiente de formação de proteína animal no mundo desenhado pela peste suína africana, que reduziu o rebanho da China a quase metade neste ano. “É muito raro um ano em que grãos e carnes estão com bom preço. Geralmente, se as carnes têm alta, o produtor de grãos é comprimido. É uma oportunidade gigante para o agronegócio brasileiro, somado ao fator câmbio.”
Mendonça de Barros calcula que em 2020 deve haver um buraco de 23 milhões de toneladas de carne suína na China, o que representa quase 20% da produção mundial, gerando uma demanda ainda mais agressiva por carnes. “A peste suína é o maior advento do mercado de carnes de 2019, talvez o maior da história. Vai ser bem difícil a China reconstruir seu estoque produtivo em menos de três ou quatro anos.”
Guerra comercial
Outro fator importante que impactou os negócios agrícolas neste ano e deve ter reflexos também em 2020, segundo o economista, é a guerra comercial entre Estados Unidos e China, deflagrada em 2018. “Essa guerra já machucou profundamente a agricultura americana. O nível atual de endividamentos dos produtores é recorde.”
No ano passado, diz Mendonça, além de comprar apenas 9 milhões de toneladas dos americanos ante as 70 milhões de toneladas de soja brasileira, os chineses pagaram prêmios de até R$ 25 reais no Porto de Paranaguá. Neste ano, talvez para compensar as perdas causadas no setor de carnes, os chineses têm feito um jogo acenando que vão se acertar com os americanos. Com essa estratégia, os prêmios pagos pela soja brasileira caíram para um quinto do valor do ano anterior.
Para Mendonça, o único fator que pode atrapalhar o excepcional cenário de 2020 do agronegócio brasileiro é o atraso da safra de soja, especialmente em Goiás e Mato Grosso do Sul. O atraso pode acarretar prejuízos para o calendário da segunda safra de milho, produto que registrou exportações recordes neste ano e deve ter alta demanda mundial no próximo ano, assim como soja e carnes.
Reforma tributária
Também presente no painel econômico do Agrocenário, o presidente da Aprosoja Brasil, Bartolomeu Braz, disse que o setor está preocupado com a tramitação da PEC (Proposta de Emenda Constitucional) 45, que trata da Reforma Tributária. Segundo ele, há o temor de que a conta da reforma caia no bolso do produtor rural.
“Os Estados deram muitos incentivos à indústria, estão quebrados e a tendência é tributar o setor que está dando certo. O agronegócio brasileiro se desenvolveu graças à adoção de ciência e tecnologia no campo, é o setor mais qualificado do país, gera empregos e renda para o país e não pode pagar a conta da má gestão.”
De acordo com Braz, os produtores estão bem articulados e reunidos em grupos fechados de Whatsapp para estabelecer pressão política no Congresso e evitar novas taxações. Ele conta que, quando foi presidente da Aprosoja-Go, o então governador Marconi Perillo tentou taxar parte do agronegócio e teve que recuar diante da pressão dos produtores.
“Nós contratamos um estudo para mostrar aos produtores quanto aquela mudança iria tirar deles em sacos de soja ou milho. Depois, arrecadamos meio milhão de reais, contratamos uma empresa de marketing e espalhamos outdoors agressivos pelas cidades denunciando os impactos da nova lei.”
Mendonça de Barros disse que a narrativa da PEC não está clara para a população e que em suas viagens pelo Brasil observa uma forte desconfiança do produtor rural de que vão ser criados novos tributos para o setor com a reforma. Para ele, o Brasil precisa evitar o exemplo da Argentina, que taxou as exportações. Com isso, desestimulou a produção e parou o único setor da economia que era dinâmico. “É o único caso de tributo negativo no mundo.”
João Roma, deputado federal e relator da PEC da Reforma Tributária, defendeu o projeto e disse que ele visa apenas simplificar a tributação, transformando cinco impostos em um só. Segundo o político, a reforma se restringe às relações de consumo, não atingindo renda ou patrimônio. “A simplificação não deve elevar ou reduzir alíquotas, mas pode render um incremento de 10% ao PIB brasileiro. Tenho certeza de que o agro paga mais tributos hoje do que pagará com a simplificação.”
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Melhora na comunicação
O evento foi aberto pela ministra da Agricultura, Tereza Cristina. Ela disse que é preciso uma mudança na comunicação para que o agronegócio brasileiro deixe de ser citado de forma pejorativa no exterior porque nenhum país tem programas tão sustentáveis como o Plano ABC (Agricultura de Baixa Emissão de Carbono) e o RenovaBio (política nacional de biocombustíveis).
A ministra afirmou ainda que, para um avanço maior do agronegócio brasileiro, a ciência, tecnologia e pesquisa desenvolvida pelos agricultores empresariais deve ser acessível também ao pequeno e médio produtor.
“O ministério vem simplificando e desburocratizando o ambiente de negócios para que o produtor possa ousar mais e diversificar os produtos para o mercado interno e externo.”
Fonte: Globo Rural