Etanol é caminho consolidado no processo de descarbonização da mobilidade; mais de 80% dos automóveis licenciados por ano no Brasil são flex
Em 20 anos, a venda de etanol hidratado saltou 375% no Brasil e a participação do biocombustível no chamado ciclo Otto, que considera a venda de etanol hidratado e gasolina C, passou de 12,9% em 2003 para 26,4% em 2022. Se for considerado que 27% da gasolina C utilizada no país é composta por etanol anidro, a participação do biocombustível na matriz dos motores a combustão supera 50%. Essa mudança no perfil do consumo dos carros no Brasil foi diretamente influenciada pela entrada dos veículos flex no mercado, uma tecnologia desenvolvida no Brasil que comemora 20 anos nesta sexta-feira, 24 de março.
Atualmente, mais de 80% dos automóveis licenciados por ano no Brasil são flex, ou seja, podem utilizar tanto gasolina quanto etanol para combustão do motor. Em 2022, de acordo com a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), o Brasil licenciou 1.960.462 veículos leves e automóveis, dos quais 83% eram com motores flex. Os veículos leves a diesel representaram 11,7%, os movidos a gasolina foram 2,5% veículos. Os chamados híbridos, que combinam motor a combustão e motor elétrico, representaram 2,1% deste total e os elétricos 0,4%.
Na ponta, a venda de etanol hidratado no país passou de 3,2 bilhões de litros em 2003 para 15,5 bilhões de litros em 2022, segundo dados da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). A revolução que a chegada dos motores flex provocou vai além dos números, está diretamente ligada a mudança da matriz energética da mobilidade urbana no Brasil.
A inovação brasileira viabilizou aos usuários o acesso a veículos que possam utilizar um combustível mais sustentável em todos os aspectos, econômicos, ambientais e sociais, uma vez que é renovável, emite menos gases de efeito estufa e ainda gera empregos e renda para a população local.
O etanol é considerado um dos biocombustíveis menos poluentes do mundo, isso porque, tanto o etanol de cana-de-açúcar quanto o etanol de milho no Brasil, possuem pegada de carbono consideravelmente menor do que a pegada da gasolina ou até mesmo do etanol de milho norte-americano.
O etanol de milho nacional, por exemplo, já foi submetido a várias análises e os resultados são muito mais positivos. De acordo com a FS, indústria com unidades instaladas em Mato Grosso, pelas métricas do governo brasileiro no programa Renovabio – principal política pública de descarbonização no país, desenvolvidas através de grupos técnicos envolvendo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), diversas universidades federais brasileiras, e estudos acadêmicos independentes, o etanol de milho tem uma das pegadas mais baixas dentre todas as usinas de etanol do Brasil, cerca de 17gCO2/MJ.
“O etanol de milho é produzido no Brasil a partir da produção de segunda safra e isso faz com que o grão não demande abertura de novas áreas para ser plantado e, portanto, não produz emissões de GHG associadas à mudança do uso da terra. Além disso, o plantio do milho brasileiro é direto, permitindo menor utilização de insumos e recursos do que o milho americano. Ainda entra nessa conta o fato de o etanol de milho utilizar energia de fonte renovável, sendo 100% biomassas renováveis, principalmente eucalipto. Tudo isso entra na conta que torna o etanol de milho uma das melhores fontes de energia para mobilidade”, explica Guilherme Nolasco, presidente-executivo da Unem.
De acordo com o gerente de sustentabilidade ESG da Inpasa – indústria de etanol de milho com unidades no Brasil e no Paraguai, Christopher Davies, o etanol se apresenta como a melhor alternativa de mobilidade com relação à pegada de carbono.
“Quando comparado com a gasolina no ciclo conhecido como “poço à roda”, ou seja, da extração, produção à queima, o etanol apresenta uma redução de 80% das emissões de CO2. Isso ocorre porque boa parte do gás carbônico emitido durante o processo de produção do etanol é sequestrado ou absorvido na fase de crescimento da lavoura de milho. Além disso, a indústria de etanol de milho tem como fonte de energia a biomassa renovável, que é considerada mais limpa frente às fontes fósseis”.
Segundo ele, um dos diferenciais do etanol é que o combustível já está consolidado no Brasil e não exige investimentos adicionais em infraestrutura e/ou tecnologia, sendo uma vantagem em relação aos veículos puramente elétricos, que ainda têm custo elevado e baixa disponibilidade de rede de recarga. “O consumidor que abastece etanol em seu veículo flex já está contribuindo significativamente com a descarbonização da mobilidade”.
Economia Circular – As vantagens do etanol de milho sobrepõem a economia para os motoristas. É uma questão de política pública para o desenvolvimento socioeconômico e para implementação, de fato, de uma economia verde sustentável. Ano passado, foi aprovada a Emenda Constitucional 123/2022, que altera o artigo 225 da Constituição Federal para estabelecer um regime fiscal favorecido para os biocombustíveis e mantém benefícios para fontes limpas de energia por pelo menos 20 anos. A medida visa estimular a produção da indústria nacional, garantindo o acesso ao consumidor a este biocombustível. Além disso, é considerada fundamental para sustentar as ações que levarão o Brasil a atingir as metas traçadas para redução das emissões de gases, como o Acordo de Paris.
De acordo com Guilherme Nolasco, os combustíveis fósseis, utilizados nas indústrias e nos veículos, são um dos principais carbonizantes, vêm de uma matriz não renovável e ainda tem toda uma questão geopolítica envolvida que envolve disputas econômicas e até guerras.
“O etanol de milho é uma fonte de energia limpa, emite 85% menos gases de efeito estufa, é renovável e contribui para toda uma cadeia produtiva que vai desde o produtor de milho, de proteínas e de florestas plantadas, passando pelas indústrias, e toda sua contribuição com geração de empregos, renda e arrecadação de impostos até lá o varejo, onde o consumidor abastece”, afirma Nolasco.
A indústria do etanol de milho produz, além do biocombustível, produtos para nutrição animal como DDGS (farelos utilizados como ração) e óleo de milho. Estes insumos são utilizados na nas cadeias produtivas da pecuária bovina, suínos e aves, reduzindo o tempo de produção por animal e permitindo a conversão de áreas de pastagem em agricultura.
Fora isso, a chegada das indústrias no Centro-Oeste brasileiro aumentou a renda do produtor de milho e trouxeram previsibilidade de mercado e investimentos para o setor. “Desde que a primeira indústria full de etanol de milho se instalou no Brasil, o Governo Federal não precisou mais intervir para garantir o pagamento do preço mínimo do milho ao produtor”.
Produção continuada – O Brasil deverá produzir na safra 2023/2024, que se inicia em abril, seis bilhões de litros de etanol de milho, volume próximo de 20% da produção total de etanol do país, que deverá ser de 27 bilhões de litros. Até 2031, a expectativa é que o etanol de milho alcance 11 bilhões de litros.
Atualmente, 18 indústrias de etanol de milho estão em operação no país e mais duas unidades devem iniciar operação ainda neste primeiro semestre. Além disso, existem pelo menos 20 projetos em alguma fase de estudo ou implantação nas regiões Centro-Oeste, Nordeste, Sudeste e Sul do Brasil.
“A descarbonização da frota nacional de veículos passa pelo etanol, que é uma matriz renovável, com toda uma rede de produção e distribuição consolidada e custo acessível para a população. E o etanol de milho tem papel fundamental para garantir o abastecimento da frota”, conclui Guilherme Nolasco.
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