Pecuarista mede qual o percentual dos refugos são filhos de “touro cabeceira de boiada” em confinamento; filhos de inseminação artificial apresentam quase +20% de GMD
O Médico Veterinário pela USP, pecuarista e executivo do Notícias do Front, Rodrigo Albuquerque, publicou em suas redes sociais algumas informações sobre o impacto causado pelos filhos de “touro cabeceira de boiada” nos confinamentos, segundo ele 95% dos refugos do confinamento são filhos destes touros que não passaram por nenhum crivo de seleção e também não participaram de nenhuma programa de melhoramento genético.
“Nosso sistema de recria/engorda é: todos os bezerros desmama adquiridos em um dado ano devem virar receita no ano seguinte, em geral, com peso entre 19.5 a 22.5 arrobas, depois de passar cerca de 12/14 meses em recria a pasto e mais 85/110 dias em confinamento. Estamos enviando para o confinamento, em julho/23, os bezerros de desmama adquiridos em maio/22.” – disse Rodrigo.
Cerca de 97% a 99.5% dos bezerros adquiridos no ano anterior viram receita no ano seguinte.
Segundo o pecuarista a identificação individual (chip eletrônico) possibilitou evidenciar um dado importante. “Checamos a origem genética dos animais que não atingiram o peso para ir ao cocho (piores ganho de peso médio diário na recria a pasto).”
Resultado – 95% dos garrotes refugados por estarem leves demais, são animais filhos de “touros cabeceira de boiada”, de monta natural. Ou seja, são filhos de touros não avaliados, de touros não melhoradores.
Nada mais natural… Mas, é muito esclarecedor e profundamente didático, ver a robustez desse dado. Buscamos algo em comum à maioria desses animais refugo, que pudesse explicar o fato. A origem genética ruim foi a característica que permeia esse lote, claramente. Os filhos de inseminação artificial em tempo fixo (IATF), que em sua grande maioria é fruto de touros melhoradores, vinham exibindo algo como 19.5% a mais de ganho de peso médio diário (GMD) na recria.
Na safra de bezerros desmama adquiridos em 2023, somente compramos lotes que eram frutos de IATF. Os lotes de animais geneticamente duvidosos, simplesmente não compramos, independente do preço.
Crescimento da IA é incapaz de resolver problema do “boi de boiada”
Se somarmos as fêmeas que são inseminadas e enxertadas com touros registrados de procedência – comercializados em leilões, na fazenda e em feiras promovidas pela ABCZ – chegamos ao incrível número de 31,2 milhões de fêmeas que são cobertas por “boi cabeceira de boiada”, 48,9% do rebanho de fêmeas de corte brasileiro. Para entender o impacto desses números, e principalmente, de como isso afeta a produtividade da pecuária brasileira, conversamos com o gerente de Fomento de Programas de Melhoramento Genético da ABCZ, Ricardo Abreu.
“Cerca de 48,9% das fêmeas de corte no Brasil são enxertadas com macho sem lastro, sem informação, sem confiança o denominado “boi de boiada”. Acredito que isso ocorre por uma questão cultural, isto é, o criador compra um boi de boiada para cobrir as suas fêmeas é porque ele, criador não as conhece, não tem um planejamento produtivo e reprodutivo para a gestão das suas matrizes.” – disse Ricardo.
Em um dos comentários da publicação, o pecuarista Eduardo Barbosa de Souza Filho contribuiu – “Recria não pode fazer aniversário na fazenda! Temos que ter 100% do estoque vendido em um ano caso contrário a margem se perde! E digo mais temos que procurar ultrapassar os 100% é só vamos conseguir isso com animais genéticamente melhores, com uma nutrição cada dia mais ajustada tanto no cocho como manejo de pasto bem feito! Bezerro na perna tem que acabar só assim o pecuarista vai dar valor na genética ou faz bezerro bom para ganhar mais ou perde na venda em um bezerro leve! E assim os dois lados ganham tanto quem vende para ganhar mais e pra quem compra que vai sair antes para abate!”
Para concluir Rodrigo diz que o bezerro de qualidade e genética superior é a semente da recria/engorda. “Nunca vi um lavourista de milho (top de resultado), pegar no paiol uma boa espiga de milho para plantar a próxima safra. Por esse mesmo motivo, acredito que o pai dos bezerros que eu quero recriar não deve ser um touro cabeceira de boiada. O “touro de paiol” (parafraseando raciocínio do amigo Ricardo Passos) tem muito mais chance de produzir um bezerro que, no futuro, terá baixa performance na recria/engorda.” – conclui o médico veterinário.
E pior, bezerros sem qualidade, além de preço mais baixo, tem ficado sem liquidez, “micando” na mão do criador.
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