Toda empresa de proteína colocada à venda é oferecida pelos bancos à JBS, diz CFO

Com disciplina de capital e foco em sinergias, gigante brasileira do setor alimentício, a JBS avalia aquisições e amplia investimentos no Brasil e no exterior

Na segunda parte da entrevista à Bloomberg Línea, o CFO da JBS, Guilherme Cavalcanti, explicou o racional que move as decisões da companhia sobre fusões e aquisições (M&As). Segundo ele, há atualmente de três a quatro propostas de compra em análise — todas avaliadas com base em critérios estratégicos e financeiros rigorosos.

Com atuação global e uma geração de caixa robusta, a JBS se tornou, nas palavras do executivo, a principal compradora natural de ativos no setor de proteínas. “Hoje, qualquer empresa do setor que entra à venda no mundo acaba sendo oferecida à JBS pelos bancos”, afirmou.

Critério: sinergia e preço que crie valor

Apesar de ser frequentemente abordada para aquisições, a JBS mantém uma disciplina de capital rígida. A lógica é clara: só avança quando o preço do ativo permitir criação de valor e quando houver sinergia com as operações atuais da empresa.

“Temos que saber quem vai tocar o negócio, se temos uma equipe interna ou externa preparada, e, principalmente, se o investimento compensa frente à construção de uma planta do zero”, afirmou Cavalcanti.

Foi justamente esse racional que levou a empresa a abrir mão da compra de marcas italianas de presunto e salame, optando por investir em fábricas próprias nos Estados Unidos e no Brasil.

Construir ou comprar? Depende da conta

A JBS anunciou, no fim de março, US$ 100 milhões para a construção de duas novas fábricas no Vietnã, onde o mercado acaba de ser aberto para a carne brasileira. Segundo Cavalcanti, em muitos casos, o custo de construção é equivalente ao de uma aquisição — mas com retorno superior por permitir estruturação desde o início.

Essa decisão também foi aplicada recentemente em investimentos no Brasil e nos EUA, como a instalação de fábricas de bacon e produtos italianos, em vez de comprar concorrentes que não ofereciam retorno adequado.

Diversificação com ovos e carne vegetal na JBS

A estratégia de crescimento da JBS também passa pela diversificação do portfólio. Em janeiro, a empresa adquiriu 50% do Grupo Mantiqueira, maior produtor de ovos da América do Sul, em um negócio avaliado em R$ 1,9 bilhão.

A entrada no mercado de ovos ocorre no momento em que o produto deixa de ser commodity e passa a ser item de marca, principalmente nos Estados Unidos, onde o consumo de ovos de galinhas livres (cage free) triplicou. “Hoje, mais de 30% dos ovos vendidos nos EUA são de galinhas livres e com marca”, observou o CFO.

A empresa também adquiriu a marca The Vegetarian Butcher, que pertencia à Unilever, como forma de expandir sua presença no mercado de proteínas vegetais.

Investimentos no Brasil continuam fortes

Mesmo com presença consolidada no exterior, o Brasil segue estratégico para os planos de investimento da JBS. Nos últimos anos, a companhia destinou a maior parte dos US$ 4,5 bilhões em capex ao mercado brasileiro, incluindo a fábrica de Rolândia (PR), considerada a maior da América Latina em salsichas e empanados.

Apesar de os Estados Unidos responderem por 51% da receita global da empresa, o Brasil representa 26% do faturamento e apresenta resiliência tanto no mercado interno quanto na capacidade de exportação, graças às grandes safras de milho e soja e à competitividade do setor.

De olho no longo prazo, apesar das turbulências

Sobre os riscos geopolíticos, como tarifas comerciais ou guerras econômicas, Cavalcanti foi direto: a JBS não toma decisões com base em turbulências momentâneas. “Já passamos por crise da Ásia, da Rússia, do câmbio, crise de 2008, guerra comercial. Investimos sempre, independentemente do ciclo, para capturar oportunidades”, afirmou.

Para 2025, a companhia planeja investir mais US$ 1 bilhão em crescimento global, mantendo o foco em mercados estratégicos e operações que se alinhem à cultura da empresa e ofereçam potencial de rentabilidade.

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