Terror do pecuaristas mata rebanho e causa prejuízo

Devido a sua alta palatabilidade, ocorre mesmo em pastos com forragem abundante. Ela é capaz de matar um bovino de forma rápida e “imperceptível”.

A produção pecuária brasileira na sua busca por melhores resultados, considerando custo-benefício, deve manter condicionado ao sistema a preocupação com a sanidade animal, que inclui necessariamente estratégias de manejo da propriedade. Terror do pecuaristas a planta mata rebanho e causa prejuízo, a “Erva-de-rato”!

Uma prática importante é o manejo de pastagem, no qual está incluído a observação e eliminação de plantas tóxicas presentes na propriedade. Nesse contexto, algumas plantas de importância à pecuária devem ser conhecidas visando evitar perdas de animais e consequentemente redução da produtividade.

A bovinocultura de corte no Brasil é essencialmente baseada em sistemas de pastagens. Estima-se que 80% dos quase 60 milhões de hectares das áreas de pastagens na região de cerrados apresentam algum estádio de degradação.

A planta tóxica mais importante do Brasil e do grupo das que causam intoxicação super aguda é a Palicourea marcgravii, um arbusto da família Rubiaceae, popularmente conhecida pelos nomes: “cafezinho”, “erva-de-rato” e ainda “café-bravo”, “erva-café”, “vick”, “roxa”, “roxinha”. Apresenta boa palatabilidade, alta toxidez, efeito cumulativo e em algumas regiões como a amazônica é a principal causa de morte em bovinos (Tokarnia e Dobereiner, 1986).

Palicourea marcgravii é encontrada em todo Brasil, com exceção da região sul e do estado do Mato Grosso do Sul. Ocorre em regiões de alta pluviosidade e terra firme, jamais em várzea. P marcgravii não sobrevive em exposição ao sol, portanto precisa de sombra, crescendo bem em beira de matas, capoeiras e ainda em pastos recém formados como regiões de matas convertidas em campos de criação de gado.

A intoxicação ocorre quando os bovinos ingerem a planta nessas condições. Folhas e frutos são tóxicas, sendo a dose letal das folhas secas de 0,6g/kg. Isso significa que um bovino de 300kg teria que comer aproximadamente 180g para intoxicar-se. A ingestão da planta se dá em qualquer época do ano e devido a sua alta palatabilidade, ocorre mesmo em pastos com forragem abundante.

Sinais clínicos da intoxicação

Os sintomas iniciam em poucas horas e o exercício físico pode precipitar os sintomas e a morte dos bovinos. Em bovinos, o início dos sintomas clínicos ocorre poucas horas após a ingestão da dose toxica. Quanto maior a dose ingerida, mais rápida será a morte do animal. Geralmente, ocorre morte súbita, principalmente após esforço físico.

Antes de morrer, os animais intoxicados apresentam apatia, anorexia, permanecem deitados e, quando são movimentados, mostram cansaço, tremores, taquipneia, opistótono, nistagmo e, em seguida, ocorre a morte (Melo; Oliveira, 2000; Riet-Corrêa, 2001).

Outros sinais clínicos frequentes são os movimentos de pedalagem, mugidos, dificuldade de locomoção e micção frequente. Portanto, os estudos mostram que o índice de mortalidade pela ingestão de cafezinho é muito alto (Melo; Oliveira, 2000; Tokarnia et al., 2012).

Quando for comprovada a ingestão desta planta tóxica pelos animais, recomenda-se retirar os mesmos da área infestada o mais depressa possível, uma vez que, se a quantidade ingerida for baixa, o organismo do animal poderá eliminar o princípio tóxico em poucos dias.

Achados de necropsia e alterações histológicas são escassas, devendo ser investigada a partir desse quadro a presença desta planta. O diagnóstico diferencial deve ser feito considerando outras plantas que causam morte súbita no Brasil e outras doenças de evolução super aguda, como carbúnculo hemático e acidente ofídico.

Medidas de Controle

a) Práticas de manejo

Os pastos recém-formados devem ser monitorados, para identificar a presença de cafezinho. Quando forem observados casos de intoxicação por esta planta, deve-se transferir os animais destas áreas para outras, onde a planta não ocorra. A pastagem com cafezinho deve ser vistoriada e as plantas eliminadas. A movimentação dos animais deve ser feita com extremo cuidado, pois pode antecipar a morte dos mesmos. As bordas das matas e capoeiras devem ser cercadas para evitar o acesso dos animais e prevenir a ingestão acidental.

Deve-se evitar o super pastejo, pois a competição pela forragem disponível entre os animais, pode levar à ingestão acidental de plantas tóxicas, incluindo cafezinho. Práticas racionais de pastejo, de conservação de forragem (feno ou silagem) e o uso suplementar de forragem durante o período seco podem ser estratégias úteis para evitar a intoxicação.

b) Controle mecânico

Recomenda-se arrancar, com enxadão, as plantas de cafezinho encontradas no pasto, de preferência antes do florescimento. O material deve ser recolhido, transportado para um local onde os animais não tenham acesso e queimado em seguida. A prática da roçada, manual ou mecânica, não é eficiente, devido à rebrota da planta.

c) Controle químico

Até o presente, não existem herbicidas registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento para o controle de cafezinho.

No sistema de produção extensivo de bovinos, as plantas tóxicas causam grandes impactos negativos. E, devido as escassas informações sobre os tratamentos recomendados para os animais intoxicados, as medidas profiláticas são fundamentais na tentativa de minimizar tais prejuízos econômicos.

Em se tratando da planta Palicourea marcgravii, dependendo da quantidade ingerida, a evolução dos sinais clínicos é rápida e, na maioria das vezes leva à morte súbita dos animais. O diagnóstico post-mortem por meio de amostras teciduais e histopatológicas, em conjunto com uso da técnica de cromatografia é de grande valia para a diferenciação de quadros toxicológicos e de enfermidades infecciosas.

A técnica de cromatografia, embora não seja uma ferramenta comum para fins de diagnóstico, em grandes animais para veterinário, é um importante método auxiliar de diagnóstico.

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