Sob pressão externa, governo avança em projeto para rastrear gado

Governo tem trabalhado com o setor privado para lançar uma nova plataforma em 2027 para rastrear gado, segundo disse o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, no evento Bloomberg New Economy at B20.

Bloomberg — O Brasil tem avançado com os planos de rastrear seus rebanhos de gado, à medida que o maior produtor de carne bovina do mundo enfrenta a pressão internacional para evitar o desmatamento causado pela produção de commodities.

O governo trabalha com o setor privado para lançar uma plataforma de dados que permitirá aos frigoríficos rastrear totalmente seus suprimentos a partir de 2027, disse o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, em uma entrevista no evento Bloomberg New Economy at B20, em São Paulo, na terça-feira (22).

Isso [rastrear gado] permitirá que a carne bovina brasileira seja totalmente rastreável até 2032, disse ele.

A produção de carne bovina no Brasil tem sido frequentemente associada à degradação da Amazônia, e o novo sistema promete ser a resposta mais significativa às crescentes exigências internacionais.

Embora empresas como JBS (JBSS3), Marfrig (MRFG3) e Minerva (BEEF3) afirmem ter avançado no monitoramento de fornecedores diretos, um programa apoiado pelo governo também permitiria um rastreamento mais robusto de fornecedores indiretos.

“Não estamos fugindo de nossa responsabilidade”, disse Fávaro. “É legítimo que as pessoas queiram saber a origem e como o animal que foi abatido foi criado para o consumidor comprar, e aqui temos um plano.”

A medida foi tomada no momento em que a União Europeia propôs adiar a implementação de novas regras que exigiriam que os vendedores de commodities, incluindo carne bovina, café e soja, provassem que seus produtos não são provenientes de áreas desmatadas.

O adiamento de 12 meses daria aos países, incluindo o Brasil, mais tempo para se prepararem para isso.

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem sido um dos principais opositores do Regulamento de Desmatamento da UE. Embora o novo sistema de rastreabilidade do gado não esteja pronto antes que a legislação da UE entre em vigor em 2025, Fávaro está confiante de que o bloco renegociará alguns dos termos e que o Brasil terá um lugar à mesa.

“O problema com essa legislação é que ela foi elaborada de forma arbitrária e unilateral, violando a soberania do Brasil e de outros países”, disse Fávaro. “Isso é inaceitável.”

O objetivo do Brasil não é simplesmente adiar a entrada da legislação e vigor, mas mostrar que está insatisfeito com a forma como ela foi feita, e os europeus entendem isso, acrescentou.

Um sistema de rastreamento de gado poderia pôr fim a anos de esforços paralisados para garantir a rastreabilidade total.

No passado, os pecuaristas se opuseram ferozmente à divulgação de dados que incluem informações detalhadas sobre o trânsito de animais, alegando razões de privacidade.

O Brasil também tem fortalecido seu relacionamento com outros países da Ásia, África e Oriente Médio, que não têm as mesmas exigências da Europa, disse Fávaro.

“Nesse bloco geopolítico temos muita gente, portanto muito consumo, muito dinheiro, dinheiro do Oriente Médio, dinheiro asiático, dinheiro da América do Sul, e isso nos permite superar qualquer tipo de embargo ou restrição gerada sob o pretexto do meio ambiente”, disse Fávaro. “Ninguém pode ter estabilidade inflacionária abrindo mão da produção brasileira de alimentos.”

Por Dayanne Sousa – Clarice Couto da Bloomberg Linea

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