Brasil sai na frente, mas grandes produtores de carne vermelha querem o mesmo, entre eles Argentina, Austrália e Estados Unidos. Confira as informações!
O Centro de Inteligência da Carne Bovina (CiCarne), órgão da Embrapa apresentou um levantamento do atual estágio dos trabalhos e pesquisas em busca de sistemas de criação de gado que neutralizem as emissões de gases de efeito estufa na produção dos animais.
Nesta semana ocorreu o lançamento nacional do protocolo “Carne Carbono Neutro” (CCN), uma parceria da Embrapa e da Marfrig que define como neutralizar as emissões de gases de efeito estufa pela produção de 1 kg de carne em sistemas que integram bovinos de corte e florestas plantadas para a indústria de mobiliário e construção, nas condições e premissas descritas no protocolo.
Na apresentação oficial do CCN, a Embrapa e a Marfrig anunciaram outro protocolo, o “Carne Baixo Carbono” (CBC), ainda em elaboração, mas sobre o qual já se pode adiantar que considerará a fixação do carbono no solo pela pastagem como um item importante para a mitigação das emissões de gases de efeito estufa.
Algumas iniciativas de neutralização do carbono na produção de bovinos ou na atividade agropecuária como um todo estão em andamento em outros países.
A Argentina lançou o programa argentino de carbono neutro em novembro de 2019 para toda a agropecuária. O programa ainda não possui escopo ou plano bem definido, e é muito recente para que protocolos e certificados específicos para a produção de bovinos ou qualquer outra atividade sejam produzidos, mas a velocidade com que um protocolo assim pode ser produzido pelo país vizinho pode surpreender, agora que o Brasil lançou o seu.
A Associação da Indústria da Carne Vermelha e Pecuária Australiana (Meat & Livestock Australia, MLA) estabeleceu o programa CN30, com a “meta ambiciosa de se tornar neutra em carbono em 2030”. O “roadmap” do programa CN30 inclui diversas medidas, como o uso de suplementos alimentares para a redução de metano entérico emitido, novos métodos de contabilidade de carbono que considerem a fixação no solo, a redução das queimadas nas áreas de savana, a fixação de carbono na produção de árvores e arbustos como abrigo e sombra, o plantio de leguminosas para alimentação animal e aumento de matéria orgânica (e carbono) no solo, o aumento da eficiência na produção e até o estímulo à produção do “dung beetle” (besouro do esterco, ou “rola-bosta”).
Ali perto, a iniciativa “Beef+Lamb New Zeland” 5 (B+LNZ), lançada em maio de 2018, pretende atingir a neutralidade de carbono da produção de carne ovina e bovina até 2050, além da “biodiversidade próspera” nas fazendas de ovinos e bovinos, da água mais limpa, e de solos produtivos e saudáveis. Para isso, a B+LNZ tem como primeira meta que cada agricultor tenha e implemente um “Land and Environment Plan”. Curiosamente, embora a B+LNZ por um lado “apoie fortemente” o plantio de árvores em fazendas de ovinos e bovinos, por outro lado pede cuidado com o impacto negativo que a conversão de terra agricultável em floresta plantada poderia ter no nível de emprego em comunidades rurais.
Nos Estados Unidos (EUA), mais especificamente na Califórnia, a iniciativa CLEAR – Clarity and Leadership for Environmental Awareness and Research da UC Davis para a redução da contribuição da produção de leite para o aquecimento global tem como principal componente uma proposta de como a contribuição do metano entérico produzido pelo manejo de esterco em confinamento deveria ser considerada.
O principal argumento é que o metano de origem animal é resultado de CO2 fixado pela fotossíntese da pastagem ou da produção de qualquer outro suplemento de origem vegetal. Posteriormente, esse metano volta a ser CO2 atmosférico em curto espaço de tempo (cerca de dez anos) pelo processo natural conhecido como “oxidação por hidroxila”.
Dessa forma, ele contribui bem menos ao aquecimento global do que lhe é atribuído pelo consenso científico atual, especialmente quando comparado com o CO2 e metano emitidos pela combustão, extração e transporte de combustível fóssil, cujo carbono estava enterrado há milhões de anos. Na verdade, os proponentes dessa abordagem consideram que a produção do mesmo volume de carne com a redução do rebanho por meio de ganhos de eficiência levaria à redução não só das emissões anuais, mas do estoque de metano na atmosfera, resultando em uma contribuição da pecuária ao esfriamento global.
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Além de uma nova abordagem para a estimativa do impacto do metano no aquecimento global, a iniciativa CLEAR recomenda a produção e armazenamento de metano a partir do manejo do esterco recolhido em confinamento e o consumo deste metano como gás combustível, substituindo a sua emissão direta pela emissão de CO2.
Embora a proposta de manejo do esterco e uso do metano faça mais sentido para a produção de leite, em que o acúmulo de esterco e o seu correto manuseio e disposição na natureza são problemas mais relevantes, também faz sentido para a produção de bovinos de corte no confinamento. A proposta de revisão metodológica de como considerar o metano entérico nas estimativas de emissões também é interessante para a produção de carne bovina.
Fonte: Embrapa, adaptado por DBO