O milho é responsável pela produção de mais de 500 produtos utilizados na alimentação humana e de animais, porém existem muitos fungos que acomete o grão
Por se tratar de um insumo biológico, grãos e sementes estão sujeitos a vários fatores que podem afetar a sua qualidade, principalmente, quando em países de clima tropical, como o Brasil.
A perda de qualidade de grãos e sementes, está ligada a ação de fungos causadores de fermentações, de alterações no gosto, no cheiro natural do produto e na redução do seu valor nutritivo. (PINTO, 1998)
Em quase todas as espécies de plantas cultivadas, a semente é um dos meios mais eficientes de disseminação de um expressivo número de patógenos a grandes distâncias. Os fungos formam o maior grupo de patógenos propagados pela semente, seguidos pelas bactérias e, em menor proporção, por vírus e nematoides.
Os relatos da associação de agentes patogênicos por sementes, publicados pela Internacional Seed Testing Association (ISTA), apresentam, aproximadamente, 1.500 espécies de agentes patogênicos com seus hospedeiros. (MACHADO, 2000)
A intensidade da infecção, ou infestação de grãos e sementes por patógenos, vai depender de um rigoroso controle integrado de doenças e pragas a campo e pós-colheita, incluindo os fatores abióticos, como danos mecânicos causados, principalmente, na colheita, na secagem e no beneficiamento; e das condições de armazenamento que envolvem limpeza, secagem dos grãos e sanificação dos graneleiros, silos e equipamentos mecânicos. (MACHADO, 2000)
A cultura do milho está sujeita a várias doenças causadas por diferentes agentes patogênicos que podem estabelecer o processo de infecção em diversas partes da planta, o que inclui as manchas foliares, doenças de colmo, de raízes e de grãos, que ocorrem, principalmente, em função de fungos que se estabelecem em pré-colheita (podridões na espiga e formação de grãos ardidos) e em pós-colheita durante o beneficiamento, o armazenamento e o transporte (grãos mofados ou embolorados). (PINTO, 2005)
Micotoxinas Causadas por Fungos Toxigênicos em Grãos de Milho
As micotoxinas são substâncias químicas resultantes da atividade metabólica de fungos no processo de colonização dos grãos, são altamente nocivas à saúde humana e a animal, e podem causar danos irreversíveis, como as doenças denominadas micotoxicoses (PINTO, 2005).
O milho é responsável pela produção de mais de 500 produtos utilizados na alimentação humana e de animais. Porém, muitas espécies de fungos colonizadores dos grãos, denominadas toxigênicas, podem produzir diversas micotoxinas passíveis de serem encontradas em produtos alimentícios e grãos, como a aflatoxina, tricotecenos, zearalenona e ocratoxinas (SILVA, 2000).
Aflatoxina: toxinas produzidas pelos fungos Aspergillus flavus (foto 1) e Aspergillus parasiticus, sendo altamente tóxicas e cancerígenas;
Ocratoxinas: toxinas produzidas pelos fungos Apergillus alliaceus e Aspergillus alutaceus, responsáveis pela acumulação de gordura no fígado e sérios danos renais nos animais, além de retardar a maturação sexual em galinhas, o que reduz a produção de ovos;
Tricotecenos: toxinas produzidas por fungos do gênero Fusarium, que podem causar diversos problemas à saúde humana e animal, como a redução no ganho de peso, da produção de ovos e leite, hemorragias, vômitos, interferência no sistema imunológico e necrose epidérmica;
Zearalenonas: toxinas produzidas pela espécie Fusarium graminearum, comum em grãos de milho. Podem causar aborto, falso cio, natimorfos, prolapso retal e da vagina, e infertilidade (SILVA, 2000).
Podridões de Espigas e Grãos Ardidos
A ocorrência de doenças na cultura do milho vem se tornando, a cada ano, mais frequente, devido aos diferentes modos dos processos produtivos, cultivo em áreas irrigadas, em áreas de plantio direto, a não adoção de rotação de culturas, ao plantio de milho sobre milho e a ampliação das épocas de plantio de milho de 1ª e 2ª safra, proporcionando, assim, o aumento e a sobrevivência do inóculo de fitopatógenos, que possuem a capacidade de sobrevivência em restos de culturas de uma safra para outra, servindo como fonte do inóculo, e causando elevados prejuízos ao produtor.
No milho, além das doenças foliares e de colmo, destacam-se também as podridões de espiga, causadas por várias espécies de fungos que danificam os grãos e que contribuem para uma maior produção de grãos ardidos (foto 3).
As principais podridões são aquelas causadas pelos fungos: Stenocarpella maydis e S. macrospora, Fusarium verticillioides (=Fusarium moniliforme), F. proliferatum e F. subglutinans, Giberella zeae (F. graminearum), Aspergillus flavus e Penicillium oxalicum.
As podridões de espigas causadas por fungos, de maneira geral, resultam em perdas na produção e na qualidade dos grãos colhidos, além disso, no momento da comercialização é descontado um percentual do valor pago em decorrência da incidência de grãos ardidos (MARCONDES, 2013).
Podridão Branca da Espiga (Stenocarpella maydis ou S. macrospora)
A podridão branca da espiga é causada pelos fungos Stenocarpella maydis e S. macrospora. O fungo é capaz de infectar folhas, bainhas, colmo e espigas. A infecção provocada nas espigas resulta em redução do potencial produtivo, e na qualidade do grão, implicando na baixa qualidade nutricional e na palatabilidade do grão.
Sintomas: Nos tecidos foliares, a doença causa lesões necróticas grandes, apresentando em algum local da lesão um pequeno círculo visível contra a luz, indicando o ponto de infecção que a distingue de lesões causadas por outros patógenos. Em menor frequência, estas lesões nas folhas podem ser pequenas (cerca de 0,2 x 0,5 mm), circundadas ou não por um halo avermelhado. Em lesões mais avançadas, podem ser observados picnídios (foto 4), que são vários pontos negros.
As espigas infectadas pelo patógeno, tornam-se leves, e apresentam grãos de coloração marrom clara (Foto 5). Em condições de alta umidade relativa do ar, é possível visualizar a presença e o crescimento de micélio branco entre as fileiras de grãos e nas palhas (fotos 4 e 6). A podridão pode iniciar no ápice ou na base das espigas, atingindo, de forma uniforme todos os grãos (fotos 5 e 6).
Desenvolvimento da doença: O patógeno sobrevive em restos de cultura de um ano para o outro, a infecção se dá pela ação do vento e por meio de respingos de chuva. A alta incidência de precipitação pluviométrica, associada a temperaturas acima de 22° C, favorece o processo de infecção nas espigas por Diplodia macrospora.
Além da alta incidência de chuvas, o processo de infecção por Diplodia macrospora nas espigas pode ocorrer por danos causados por insetos nas espigas, espigas mal empalhadas, com palhas frouxas, espigas não-decumbentes, e adubações desbalanceadas com altos níveis de nitrogênio e baixos níveis de potássio. Embora o fungo seja capaz de infectar as sementes, a doença não é transmitida para plantas oriundas de sementes infectadas (Galvão, 2014).
Ciclo da Doença:
Podridão-rosada-da-espiga (Fusarium spp.)
A Podridão Rosada, é causada por três espécies de Fusarium: Fusarium moniliforme, Fusarium moniliforme var. subglutinans (Wr e Reink); Fusarium graminearum (Schwabe). Ambas as espécies se diferenciam pelo formato dos microconídios.
Sintomas: As espigas infectadas por Fusarium spp., apresentam grãos de coloração avermelhada, distribuídos isoladamente ou agrupados ao longo da espiga (fotos 7 e 9). À medida que a doença se desenvolve, o fungo cresce, cobrindo os grãos infectados com um micélio cotonoso de coloração rosada. É muito comum em alguns grãos aparecer estrias brancas (foto 8) e (figura 1), devido à ação do fungo no pericarpo. Os sintomas também aparecem na palha da espiga quando a mesma é infectada apresentando coloração avermelhada. O processo de infecção pode ocorre em qualquer parte da espiga.
Desenvolvimento da doença: A podridão do colmo causada por Fusarium é favorecida por temperaturas entre 28 e 30°C, por umidade elevada pelo excesso de chuvas, e por danos na espiga e nos grãos causado pelo ataque de pragas. Fusarium é tipicamente um fungo de solo, que pode sobreviver em restos de cultura na matéria orgânica. A dispersão do fungo é mais eficiente pelo vento do que pelas sementes (GALVÃO, 2014).
Ciclo da Doença:
Podridão Vermelha da ponta da espiga (Gibberella zeae)
A Podridão Vermelha da espiga é causada pelo fungo Gibberella zeae, e é também conhecida pelo nome de Podridão de Gibberella.
Sintomas da Doença: Os sintomas típicos de Podridão por Gibberella, inicia na ponta da espiga (fotos 10 e 11) e se desenvolve para baixo através de uma massa cotonosa de coloração avermelhada situada na ponta da espiga, que progrede até sua base. O fungo também pode colonizar a palha da espiga e permanecer aderido à ela. Os sintomas de forma ocasional podem iniciar-se na base da espiga e progredir para a sua ponta, o que poderá causar confusão com os sintomas de Fasuraium verticillioides ou F. subglutinans.
Desenvolvimento da doença: A doença causada por Gibberella é mais comum em regiões de clima mais frio, e quando aliada a alta umidade relativa, ocorre em temperaturas entre 15 e 20°C. Favorecido por chuvas na fase reprodutiva da cultura do milho, o fungo sobrevive nas sementes em forma de micélio dormente e em restos de cultura. A forma assexual de Gibberella zeae é denominada de Fusarium graminearum (GALVÃO, 2014).
Ciclo da Doença:
Podridão da espiga: Diplodia Vs. Gibberella (Diferenças)
Controle das doenças das espigas
A prevenção contra a infecção de fungos responsáveis por grãos ardidos no milho, principalmente os fungos dos gêneros Fusarium e Stenocarpella, inclui um conjunto de medidas que devem ser levadas em consideração:
- Monitoramento da lavoura;
- Adubação equilibrada;
- Utilização de cultivares de milho resistente;
- Rotação de culturas visando à redução do inóculo que permanece em restos culturais;
- Evitar o plantio de milho sobre milho (monocultivo);
- Intensificação do controle das plantas daninhas hospedeiras dos fungos do gênero Fusarium;
- Uso de sementes sadias provenientes de empresas idôneas;
- Não utilizar altas densidades de plantio;
- Escolher híbridos com bom empalhamento das espigas;
- Seguir o posicionamento de população de cada híbrido;
- Não retardar a colheita dos grãos;
Controle químico
Para ter uma boa eficiência no controle químico das principais doenças da cultura do milho, a prevenção é a opção mais eficiente, e quando se trata de doenças nas espigas não é diferente. Recomenda-se fazer a primeira aplicação em V8, e 15 a 20 dias após a primeira fazer a segunda aplicação. Se necessário, fazer a terceira aplicação 15 a 20 dias após a segunda.
A decisão de fazer as aplicações vai depender de um bom monitoramento da lavoura (STEFANELLO, et al. 2012). É indispensável o uso de Triazóis + Estrobilurinas nas aplicações, associadas com Carbendazin na fase de emissão do estigma e, se necessário, fazer a terceira aplicação com os mesmos princípios ativos (Triazóis + Estrobilurinas + Carbendazin).
O monitoramento da lavoura exerce um papel fundamental na identificação dos primeiros sintomas das doenças, auxiliando na tomada de decisão do manejo com o objetivo de não deixar a doença evoluir pela planta, principalmente nas espigas e causando dano direto na produtividade.
Fonte: Pionner Sementes