‘Sem carne’: Carrefour enfrenta retaliação de frigoríficos no Brasil após boicote

O Carrefour enfrenta um “boicote ao boicote” com frigoríficos suspendendo a entrega de carnes para a varejista. Se a paralisação persistir, o Grupo enfrentará não apenas desabastecimento em larga escala, mas também um dano significativo à sua relação com fornecedores e consumidores brasileiros.

O Grupo Carrefour Brasil está no centro de uma crise envolvendo o setor de carnes, após a decisão do Carrefour na França de parar de vender carne oriunda do Mercosul. Mais de 150 lojas do grupo, que inclui Carrefour, Sam’s Club e Atacadão, foram impactadas pela interrupção do fornecimento de carnes por frigoríficos brasileiros, como JBS, Marfrig e Masterboi. A medida foi tomada em resposta às declarações do CEO global da rede, Alexandre Bompard.

Especialistas do setor afirmam que, caso a situação persista, as lojas podem enfrentar desabastecimento total em até três dias, dado que a maior parte dos produtos é perecível.

Entenda o motivo do boicote dos frigoríficos

A decisão do Carrefour na França, anunciada na última quarta-feira (20), de não vender mais carnes do Mercosul, gerou indignação no setor agropecuário brasileiro. Além de questionar a qualidade e a sustentabilidade das carnes brasileiras, a medida foi vista como protecionista e prejudicial ao livre mercado.

Os frigoríficos brasileiros reagiram de imediato, interrompendo as entregas às unidades da rede no Brasil. Entre as empresas que aderiram ao movimento estão gigantes como a JBS, cuja marca Friboi representa 80% do volume de carnes fornecido ao Carrefour no país e 100% do abastecimento no Atacadão. Fontes da indústria afirmam que a retomada das entregas depende de uma retratação oficial do grupo francês.

Governo e entidades agropecuárias apoiam retaliação

A reação não veio apenas do setor privado. Autoridades do governo brasileiro, incluindo o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, endossaram as ações dos frigoríficos, classificando o boicote francês como uma afronta ao setor agropecuário nacional.

Além disso, 42 entidades representativas da cadeia produtiva brasileira, como a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), repudiaram a decisão do Carrefour em uma carta aberta. O documento destaca o compromisso do Brasil com a sustentabilidade, mencionando avanços como um aumento de 172% na produtividade pecuária nos últimos 30 anos, enquanto reduziu a área de pastagem em 16%.

A carta também criticou o impacto potencial da medida, afirmando que ela pode limitar o acesso dos consumidores europeus a alimentos de alta qualidade e sustentáveis, além de gerar inflação e aumentar emissões de carbono.

Carrefour nega desabastecimento, mas mercado aponta o contrário

Em nota divulgada no sábado (23), o Grupo Carrefour Brasil afirmou que não há desabastecimento de carnes em suas lojas. “A comercialização do produto ocorre normalmente nas unidades”, declarou a empresa. No entanto, fontes da indústria apontam que entre 30% e 40% das gôndolas do grupo já estão sem produtos cárneos, principalmente nas unidades do Atacadão.

Implicações para o futuro

A crise entre os frigoríficos e o Carrefour reflete tensões mais amplas no comércio internacional, envolvendo debates sobre sustentabilidade, protecionismo e livre mercado. Para o Brasil, que é líder mundial em exportação de carne bovina, a decisão do Carrefour na França é vista como um ataque à reputação do setor agropecuário, que é um dos pilares da economia nacional.

Por outro lado, o Carrefour enfrenta o desafio de equilibrar sua atuação global, atendendo às pressões do mercado europeu, enquanto depende fortemente da produção brasileira para abastecer suas operações no Brasil e em outros países.

Deputados prometem “colocar o dedo na ferida” do Carregour

A repercussão também chegou ao Congresso Nacional. O deputado Alceu Moreira (MDB-RS) anunciou a intenção de criar uma comissão externa para investigar a conduta do Carrefour no Brasil, apontando antecedentes relacionados a questões raciais, ambientais e trabalhistas. “É uma atitude irresponsável e discriminatória, que fere os princípios do diálogo internacional”, afirmou o parlamentar.

O que esperar nos próximos dias?

Enquanto o Carrefour tenta minimizar os impactos da crise, os frigoríficos brasileiros mantêm sua posição de força. A expectativa é que as negociações avancem nos próximos dias, mas a condição de uma retratação global por parte do grupo francês pode dificultar uma resolução rápida.

Se a paralisação persistir, o Carrefour enfrentará não apenas desabastecimento em larga escala, mas também um dano significativo à sua relação com fornecedores e consumidores brasileiros.

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