Ruminantes: Cuidados com os ingredientes úmidos

Na nutrição de ruminantes, quando falamos em formulação de dieta e consumo dos animais, utilizamos como referência a matéria seca dos alimentos.

Para falar de ingredientes úmidos, primeiro precisamos relembrar o conceito de matéria seca. No geral, o que pesamos e fornecemos para os animais são os alimentos na sua forma natural (matéria natural = MN) ou original (matéria original = MO). Todo alimento apresenta em sua composição uma fração sólida e uma fração de água. A matéria seca (MS) nada mais é que a fração sólida do alimento, subtraindo a fração de água contida nele. Na nutrição de ruminantes, quando falamos em formulação de dieta e consumo dos animais, utilizamos como referência a matéria seca dos alimentos.

Para ilustrar o conceito de matéria seca, vamos considerar que uma pessoa passou por um nutricionista e na sua dieta precisará ingerir, em cada refeição, cerca de 400 gramas de alimentos devidamente balanceados para atender a demanda de carboidratos, proteínas, vitaminas e minerais. Se fizermos uma sopa seguindo essa dieta e adicionarmos água nas 400 gramas de alimentos, diluiremos a refeição e, então, o volume da refeição será, automaticamente, maior. Se for ingerido apenas 400 gramas da sopa (alimentos + água), a ingestão de nutrientes não estará de acordo com o que foi prescrito na dieta, correto?

Esse mesmo conceito deve ser levado para a esfera da nutrição de ruminantes.

É muito comum a inclusão de alimentos úmidos em dietas de bovinos como, por exemplo: silagens (milho, capim, sorgo…), silagem de milho grão úmido ou grão reidratado, cevada, WDG e WDGs, entre outros. Algumas vezes alimentos úmidos são evitados, pois causam certo transtorno na fazenda, por diversos motivos: estragam com facilidade, dificuldade de manejo, dificuldade de armazenamento. Outras vezes são adquiridos devido ao seu preço (em matéria natural) sem qualquer consideração sobre como será utilizado e se vale realmente a pena ser comprado.

Dito isto, o que precisamos considerar ao trabalhar com alimentos úmidos na dieta?

1. Custo da tonelada de matéria seca

Um ponto importante que deve ser considerado é o custo desse alimento, sempre considerando o custo da tonelada da matéria seca. Um alimento úmido, como o próprio nome sugere, leva mais água na sua composição, ou seja, ao comprar esse insumo a água acaba compondo o seu preço.

Para exemplificar vamos fazer um comparativo entre WDG e farelo de soja, ambos fonte de proteína. O WDG, com 32% de proteína bruta (PB), apresenta um custo de matéria natural (MN) de R$ 500,00/tonelada e o farelo de soja, com 46% de proteína bruta, R$ 2.400,00/tonelada, sem o frete. O WDG apresenta cerca de 30% de matéria seca, o que significa que em 1 kg de WDG, 300 gramas correspondem à fração sólida (contendo os nutrientes) e 700 gramas é água. Já o farelo de soja apresenta cerca de 89% de matéria seca, então, para cada 1 kg de farelo de soja, 890 gramas é a fração sólida e 110 gramas correspondem à água.

Com os dados em mãos é possível chegar no custo da tonelada de matéria seca dos alimentos, além do custo da proteína bruta:

Agora vamos colocar na conta dois custos de frete para fazer as comparações:

É possível observar que, quanto maior o custo do frete mais cara fica a proteína do insumo mais úmido. Por esse motivo, muitas vezes, o insumo mais úmido vai compensar somente se a propriedade está próxima ao fornecedor do ingrediente, uma vez que o transporte de água acaba impactando o preço final do alimento.

2. Armazenamento

O armazenamento e conservação dos alimentos com elevada umidade é, sem dúvida, um dos maiores desafios operacionais dentro da propriedade. Alimentos úmidos, mal armazenados, oferecem condições ideais para ação de microrganismos que degradarão rapidamente o material, podendo afetar o consumo e até mesmo a saúde dos animais.

O ideal é que alimentos com elevada umidade como, por exemplo, cevada e WDG fiquem armazenados entre 3 e 5 dias. Então, propriedades que estejam situadas próximas aos fornecedores dos insumos úmidos, além de se beneficiarem pelo menor custo do frete, também podem usufruir da vantagem de receber esses alimentos com mais frequência, evitando problemas de degradação e perda dos nutrientes. Nesses casos, uma sugestão prática que pode otimizar o armazenamento e manejo desses alimentos é fazer um pequeno declive no local onde o material ficará armazenado, o que facilitará o escoamento da água.

Muito se fala em ensilagem desses tipos de materiais (cevada, WDG, entre outros), que geralmente é feita em silos bolsa, porém ainda faltam estudos sobre e eficácia desse método de conservação com alimentos de elevada umidade.

3. Monitoramento e ajuste da matéria seca dos insumos na dieta

Um ponto, muitas vezes, negligenciado dentro da fazenda é o monitoramento de matéria seca dos alimentos úmidos, que pode variar ao longo dos dias, afetando diretamente o balanceamento da dieta formulada e como consequência, o desempenho do animal.

Quando fornecemos a dieta para os animais, a pesagem dos alimentos é feita em matéria natural (fração sólida + água). Se a água dos alimentos aumentar ou diminuir e mesmo assim continuarmos pesando a mesma quantidade de alimentos, os animais não consumirão o que foi planejado. Por exemplo: ao pesar 10kg de silagem de milho, com 30% matéria seca, o fornecimento de silagem em matéria seca será 3kg (10 kg x 30% MS). Se a matéria seca da silagem alterar para 25%, ou seja, diminuir a fração sólida na silagem, nos mesmos 10kg de silagem, passamos a fornecer 2,5kg de silagem em matéria seca.

Sendo assim, quando o valor de matéria seca da silagem é menor que o valor considerado na formulação, o que ocorre é que colocamos menor quantidade de fração sólida de silagem na dieta, o que significa menos fibra e mais energia, aumentando assim o risco de distúrbios metabólicos, como a acidose, por exemplo. Já quando a matéria seca da silagem é maior do que previsto, aumentamos a quantidade de fração sólida da dieta, o que acarreta mais fibra e menor energia na dieta.

Um dos reflexos visíveis dessa variação de matéria seca do alimento pode ocorrer no consumo ou ainda no escore de fezes dos animais. É muito comum relatos de aumento ou diminuição do consumo no confinamento de um dia para o outro:

  • Os animais aumentaram o consumo – pode ser diminuição de matéria da silagem, ou seja, aumento de água no material, o que faz os animais pedirem mais comida para atender a demanda;
  • Os animais diminuíram o consumo – pode ser aumento da matéria seca do alimento, ou seja, menos água, mais fibra, alimento mais tempo parado no rúmen.

Ao observar as fezes, podemos concluir o seguinte: fezes com consistência mais mole e até mesmo com bolhas, podem indicar pouca fibra na dieta e risco de acidose; já quando as fezes estão aneladas, podem indicar excesso de fibra que não está sendo degradada corretamente no rúmen.

Atenção!

Insumos úmidos são bem-vindos na dieta de ruminantes, pois ajudam no consumo e, algumas vezes, são ferramentas que evitam segregação de partículas no cocho. Mas, assim como qualquer outro tipo de insumo, devem ser bem avaliados dentro de cada realidade, levando em consideração o seu custo real, facilidade de armazenamento e manejo.

Além disso, a inclusão desses alimentos deve ser bem avaliada junto ao técnico, consultor ou nutricionista responsável pelas formulações das dietas e suplementos utilizados na fazenda, visando sempre otimizar o desempenho dos animais.

Nutrição Animal – Agroceres Multimix

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