Prejuízo passa de R$ 600 mil e área será interditada por um ano
Após a realização dos testes anuais de brucelose e tuberculose em abril de 2016, foram diagnosticados 28 animais doentes na propriedade de Heitor Kerber, 58, em Sampaio, Mato Leitão. No intervalo de três meses, outros 39 registraram as enfermidades e foram sacrificados.
O primeiro foco foi detectado em 2013, quando três vacas leiteiras foram abatidas. “Faço testes desde 1994. Nunca tivemos problemas. Nossa qualidade e a sanidade do rebanho sempre foram um diferencial elogiado pela cooperativa. Infelizmente precisamos nos desfazer de todo plantel (190 animais) e implantar um vazio sanitário de 12 meses.”
As causas são variadas – ataque de morcegos, gambá, cachorros infectados ou por meio de equipamentos de inseminadores e médicos-veterinários. “Não limparam as botinas ou trocaram de roupa entre um e outro atendimento nas propriedades. Com isso, a bactéria pode ter infectado meus animais.”
O prejuízo chega a R$ 600 mil. Com a paralisação das atividades, a filha caçula, Greice, 18, mudou os planos de ficar na propriedade e buscou emprego na cidade. “Difícil recomeçar. Só vamos ganhar a indenização do Fundesa. As demais entidades que integram a atividade não ajudarão.” Nos últimos 15 anos, a família aplicou mais de 1,1 milhão em máquinas e infraestrutura para qualificar a produção leiteira.
Para reiniciar a atividade, Kerber calcula um investimento de R$ 450 mil, somente na compra de animais. “Vamos investir na produção de grãos, já que do mesmo não teremos mais sucessores.”
Com a venda de leite, o rendimento chegava a R$ 85 mil mensais. A produção diária era de 1,8 mil litros, vendidos ao preço médio de R$ 1,60 o litro. “Estamos sem renda. O repasse do governo pelo vazio sanitário chega a apenas R$ 30 mil”, comenta.
Critica o baixo valor da indenização paga pelo Fundo Estadual de Sanidade Animal (Fundesa), média de R$ 1,5 mil por animal. Cada vaca está avaliada em R$ 5,5 mil. “Quem pagará essa diferença? É fácil cobrar do produtor e não ter recursos para ressarcir as perdas e manter ele na propriedade.”
Conscientização é fundamental
Conforme o presidente do Fundesa, Rogério Kerber, os testes são de livre adesão. Cabe ao produtor se conscientizar da importância da fazer esse controle e oferecer tanto para a indústria como ao consumidor final um produto de excelente qualidade e de procedência garantida. “Não se pode comprar ou aceitar doação de animais sem fazer os testes. Esse descuido pode resultar em grandes perdas.”
Destaca o trabalho realizado por cooperativas e alguns municípios no Vale do Taquari para conseguir certificar as propriedades leiteiras. Para Kerber, esse status sanitário ajuda a elevar o consumo e garante acesso a novos mercados, como a Rússia, que exige o atestado de área livre de tuberculose e brucelose na compra de leite em pó.
Fundo aplica R$ 2,4 milhões
Dos R$ 68 milhões arrecadados pelo Fundesa em 2016, R$ 2,4 milhões foram aplicados na indenização de famílias que tiveram animais abatidos por problemas sanitários. Segundo Kerber, isso significa que mais produtores buscaram sanear o rebanho para tuberculose e brucelose. Vemos como positiva essa adesão, atesta.
O Fundesa também recuperou mais de R$ 1,2 milhão em contribuições que estavam pendentes no ano de 2016. Dessa forma, mais empresas e produtores estão regularizados e aptos a receber indenizações. “Nossa intenção é trabalhar intensamente para que todos os produtores e agroindústrias recolham a contribuição. Sem isso, o pagamento é inviável.”
Nos últimos três meses, foram abatidos 775 animais em 108 propriedades do RS.
Fonte: Jornal A Hora