Recuperação Judicial: 2025 deve repetir 2024?

O alerta vermelho no agronegócio: onda de recuperações judiciais de produtores rurais podem continuar em 2025?

Por Leandro Marmo* – Se 2024 foi um teste de fogo para o agronegócio brasileiro, 2025 chega sem promessas de alívio. No último ano, os produtores rurais enfrentaram uma tempestade perfeita de desafios que os forçaram a buscar saídas drásticas para manter suas operações vivas. Diante de uma crise financeira sem precedentes, um número crescente de agricultores está recorrendo à recuperação judicial, não por escolha, mas por necessidade.

As safras 23/24 foram implacáveis para quem trabalha no campo. A natureza jogou pesado: Eventos climáticos extremos, como secas severas e enchentes históricas, afetaram drasticamente a produção agrícola. No final do ano, 58% do território nacional estava sob condições de seca, enquanto o Sul do Brasil enfrentava uma das maiores enchentes da história, transformando plantações em verdadeiros lagos e deixando um rastro de prejuízos bilionários. A sucessão de extremos climáticos, amplificada pelos fenômenos El Niño e La Niña, desorganizou ciclos de plantio e colheita, jogou a produtividade para baixo e acendeu o alerta vermelho no setor.

Paralelamente, a política também entrou no jogo: a China suspendeu as exportações de soja de cinco unidades brasileiras, alegando problemas fitossanitários. Para um setor que depende de previsibilidade e fluxo de caixa, qualquer oscilação como essa é um golpe difícil de absorver, e se os problemas climáticos e políticos já haviam colocado os produtores rurais contra a parede, o sistema financeiro deu o golpe final. Desde setembro de 2024, o Comitê de Política Monetária (Copom) iniciou um ciclo de alta na taxa Selic, que saltou de 10,5% para 13,25%.

A falta de capital para quitar as operações do setor agropecuário também se tornou um dos maiores desafios para os produtores rurais. Sem recursos suficientes para liquidar todas as obrigações financeiras do período, muitos tiveram que recorrer a renegociações e prorrogações de dívidas na tentativa de ganhar fôlego.

No entanto, essas renovações vieram a um custo alto, com juros significativamente aumentados pelas instituições financeiras, tornando o endividamento ainda mais pesado. Para piorar, a prática ilegal da venda casada se somou a esse cenário, obrigando produtores a contratar seguros e outros produtos financeiros para conseguir acesso ao crédito.

O resultado? Um custo efetivo total exorbitante, que, em muitos casos, tornou as dívidas simplesmente impagáveis, empurrando milhares de produtores para uma crise sem precedentes. Com esse cenário caótico, a recuperação judicial deixou de ser um tabu e passou a ser a única saída para muitos.

O número de produtores rurais buscando a recuperação judicial explodiu. Segundo a Serasa Experian, no primeiro trimestre de 2024, os pedidos de RJ de produtores pessoa jurídica mais que dobraram, chegando a 76 registros. Já entre os produtores pessoa física, o aumento foi ainda mais dramático: 523% em comparação ao mesmo período do ano anterior.

E os motivos são claros: além da suspensão imediata das execuções por 180 dias, a RJ permite descontos significativos nas dívidas e até deságios, dando fôlego para que o produtor possa reorganizar suas finanças sem ser sufocado por credores.

Os segmentos mais atingidos refletem a gravidade da crise:

  • 34% das empresas em recuperação judicial estão ligadas à produção de soja;
  • 20% atuam na pecuária de corte;
  • 15% no cultivo de cana-de-açúcar.

A combinação de safras abaixo do esperado, restrições financeiras e oscilações de mercado criou o cenário perfeito para o aumento expressivo de pedidos, e as projeções indicam que essa tendência continuará forte em 2025.

Diante desse cenário desafiador, o produtor rural precisa agir com estratégia e precaução. Dependendo da situação, uma renegociação extrajudicial pode ser suficiente, mas quando as dívidas se tornam impagáveis, a recuperação judicial pode ser a melhor solução para evitar a falência e manter a produção em pé.

O mais importante é não esperar até que seja tarde demais. Planejamento financeiro e orientação especializada fazem toda a diferença para evitar que o produtor se torne refém de uma crise que poderia ter sido administrada com antecedência. O agronegócio brasileiro já enfrentou muitas dificuldades ao longo da história, e esta é mais uma batalha que precisa ser vencida.

Autor: Leandro Marmo, advogado especialista em Direito do Agronegócio, professor da pós-graduação de Direito do Agronegócio da PUC-PR, autor de obras jurídicas e CEO do João Domingos Advogados.

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