
Segundo um estudo da Universidade Federal de Viçosa (UFV), bezerros de pelo zero apresentaram ganho de peso 9,6% superior em sistemas de pasto rotacionado, quando comparados a animais de pelagem densa
No atual cenário da pecuária de corte, onde produtividade e padronização são fundamentais, a figura do “bezerro ideal” deixou de ser apenas um objetivo e passou a ser uma exigência real do mercado. Frigoríficos, marcas de carne premium e consumidores estão cada vez mais criteriosos. O resultado? Programas de bonificação que priorizam animais com carcaça pesada, bom acabamento de gordura e pelagem curta — o famoso pelo zero.
Para o criador, isso representa uma mudança estratégica. A seleção genética e o planejamento de cruzamentos tornaram-se decisivos para gerar um produto que, desde a desmama, já sinaliza alto desempenho até o gancho do frigorífico. Mas afinal, qual a melhor raça para produzir esse tipo de bezerro?
Por que o pelo zero é uma característica valorizada?
O pelo zero é mais do que uma característica estética. Ele está diretamente relacionado ao desempenho térmico do animal. Em ambientes tropicais e subtropicais — como os biomas Cerrado, Caatinga e partes da Amazônia — a capacidade do bovino de dissipar calor influencia de forma significativa seu consumo voluntário de matéria seca, taxa de conversão alimentar e ganho de peso diário (GPD).
Segundo um estudo da Universidade Federal de Viçosa (UFV), bovinos de pelo zero apresentaram ganho de peso 9,6% superior em sistemas de pasto rotacionado, quando comparados a animais de pelagem densa. A explicação está na fisiologia: com menor isolamento térmico, o animal sofre menos estresse calórico, mantendo o apetite e a eficiência metabólica mesmo nas horas mais quentes do dia.
Esse diferencial impacta também no bem-estar animal, uma exigência crescente nos protocolos de carne sustentável. Bezerros com pelo zero tendem a ter menor infestação de carrapatos e moscas, o que reduz o uso de produtos químicos e favorece o manejo sanitário.
A importância da carcaça pesada e o que o mercado exige
Carcaça pesada é sinônimo de rendimento e lucro. O pecuarista que trabalha com abate técnico sabe que o rendimento ideal é aquele que ultrapassa 55% de carcaça quente, com animais pesando entre 18 e 23 arrobas aos 20 a 24 meses, dependendo do sistema.
Frigoríficos como Friboi, Marfrig, Minerva, Swift e Aurora já operam com programas de premiação que pagam até R$ 15 a mais por arroba quando o animal atinge os parâmetros exigidos: peso mínimo, acabamento de gordura uniforme, idade jovem e ausência de castração tardia.
Dados da Assocon (Associação Nacional da Pecuária Intensiva) apontam que em sistemas bem manejados de engorda a pasto com suplementação estratégica, é possível obter bezerros cruzados com 7 a 8 arrobas na desmama, que chegam a 21 arrobas no abate com até 22 meses, gerando margem bruta superior a R$ 800 por animal quando inseridos em programas de carne premium.

Raças puras que se destacam na produção de bezerros com essas características
Senepol: pelo zero, rusticidade e eficiência em cruzamento
Originário da ilha de Saint Croix, o Senepol foi desenvolvido para operar sob calor extremo, umidade elevada e pastagens tropicais. Sua genética reúne resistência, eficiência alimentar e pelagem naturalmente zero. Segundo a Associação Brasileira dos Criadores de Bovinos Senepol (ABCB Senepol), a raça apresenta GPD superior a 1,3 kg/dia em sistemas semi-intensivos e desempenho excelente em cruzamentos com matrizes zebuínas.
- Peso médio de bezerros desmamados: 230 a 250 kg aos 8 meses
- Rendimento de carcaça em animais cruzados: 56% a 58%
- Adaptabilidade comprovada em mais de 20 estados brasileiros
O Senepol ainda possui boa precocidade sexual, o que facilita o uso de reprodutores jovens, reduz o custo por cobertura e acelera o retorno do investimento genético.
Angus: carne de qualidade e precocidade de abate
A raça Angus é referência mundial quando o assunto é qualidade de carne, marmoreio e precocidade. Em cruzamentos com fêmeas Nelore ou Tabapuã, os bezerros resultantes apresentam padrão excepcional de desenvolvimento corporal, carcaça volumosa e acabamento precoce de gordura subcutânea.
- GPD em confinamento: 1,5 a 1,8 kg/dia
- Peso médio de abate: 20 a 23 arrobas aos 20 meses
- Rendimento de carcaça: até 59% em frigoríficos industriais
Apesar de não ser naturalmente pelo zero, o meio-sangue Angus x Nelore, dependendo da linha genética, pode apresentar pelagem mais curta e coloração avermelhada, o que agrada ao mercado. É a escolha certa para quem deseja carcaça nobre com potencial de venda premium, principalmente para cortes gourmet e exportação.
Caracu: eficiência tropical com rusticidade brasileira
O Caracu é uma raça taurina de origem ibérica totalmente adaptada ao Brasil tropical. Com pelagem curta, coloração bege ou amarelo-clara, e alta resistência a parasitas, o Caracu se destaca em sistemas de pasto com baixa intervenção.
Segundo a Embrapa Cerrados, animais meio-sangue Caracu x Nelore têm GPD 15% superior ao do Nelore puro e rendimento de carcaça entre 55% e 57%, com acabamento de gordura que atende às exigências da indústria frigorífica.
É uma excelente opção para sistemas extensivos e produtores que buscam desempenho com menor investimento em insumos.
O papel estratégico dos cruzamentos industriais
O cruzamento industrial é a ferramenta mais poderosa para unir adaptabilidade tropical com produtividade genética. A heterose resultante gera bezerros superiores ao padrão das raças puras, com desempenho acelerado desde a desmama até o abate.
Três cruzamentos de destaque:
- Senepol x Nelore
- Bezerros com pelo zero, alto GPD e rusticidade
- Excelente aceitação nos programas de carne sustentável
- Ótima opção para recria intensiva a pasto e terminação em confinamento
- Angus x Nelore
- Bezerros com peso elevado e acabamento precoce de gordura
- Ideal para confinamentos e sistemas semi-intensivos
- Potencial de bonificação por marmoreio e precocidade
- Caracu x Nelore
- Animais rústicos, com boa conversão alimentar e excelente adaptabilidade
- Indicado para áreas com clima severo e menor estrutura técnica
- Bom acabamento de carcaça com baixa incidência de doenças parasitárias
Esses cruzamentos garantem valorização dos bezerros já na desmama, que chegam a custar até 20% a mais do que animais comuns em leilões comerciais.
O perfil exigido pelo mercado não é mais uma tendência — é uma realidade consolidada. Bezerros com pelo zero e carcaça pesada representam maior lucratividade, menor risco sanitário e retorno mais rápido por animal produzido. Para atingir esse padrão, a seleção genética planejada e o uso de cruzamentos industriais são caminhos estratégicos e comprovadamente rentáveis.
Criadores que investem em touros ou sêmen de raças como Senepol, Angus e Caracu, especialmente em cruzamentos com vacas zebuínas, já estão colhendo os frutos: desempenho zootécnico superior, valorização no mercado e acesso aos programas de carne de qualidade.
Escrito por Compre Rural
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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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