As intoxicações por essas plantas têm um impacto econômico significativo, que se deve a fatores como a redução na produção, a perda de animais e os gastos relacionados com medidas de prevenção e controle.
As plantas tóxicas para bovinos são aquelas que, quando consumidas de forma natural e espontânea pelos animais, podem comprometer seriamente a saúde, chegando até mesmo a causar a morte. As intoxicações por essas plantas têm um impacto econômico significativo, que se deve a fatores como a redução na produção, a perda de animais e os gastos relacionados com medidas de prevenção e controle.
A toxicidade das plantas pode variar bastante, influenciada por fatores como tipo de solo, condições climáticas, estágio de desenvolvimento da planta, parte consumida e período em que ocorre a ingestão. Neste artigo do Compre Rural, exploraremos algumas das principais plantas que representam risco para os bovinos.
Senecio spp. — Tasneirinha, flor-das-almas e maria-mole
Esta planta anual, que começa a florescer em outubro, é reconhecida por suas flores amarelas e tem um comportamento invasivo em lavouras e pastagens naturais. Ela é comum na região Centro-Sul do Brasil.
Bovinos podem ser intoxicados ao consumir essa planta de forma acidental, especialmente quando ela está misturada em feno ou silagem, já que sua palatabilidade é baixa. A toxicidade da planta é atribuída aos alcaloides pirrolizidínicos, que são hepatotóxicos e provocam danos crônicos e irreversíveis no fígado dos animais.
Sinais clínicos em bovinos
Bovinos intoxicados podem apresentar sintomas como agressividade, falta de coordenação motora, tenesmo (com prolapso retal), diarreia, perda de apetite, paralisia ruminal, fezes com presença de sangue e aumento da frequência cardíaca.
Achados de necropsia
Entre os achados post-mortem, podem-se observar edema no mesentério, abomaso e intestino; acúmulo de líquido na cavidade abdominal; hemorragias ao redor e dentro do coração; fígado aumentado em casos agudos ou reduzido em casos crônicos; vesícula biliar aumentada com paredes espessadas e edemaciadas, além de lesões nodulares. Também são comuns lesões espongiformes no sistema nervoso.
Tetrapterys multiglandulosa spp. — Cipó-preto, Cipó-ruão e Cipó-vermelho
Essa planta perene é nativa da região Sudeste do Brasil e pode ser encontrada em todos os estados dessa área. A intoxicação dos bovinos ocorre com maior frequência durante a estação seca, quando a oferta de alimento é escassa. Apesar de sua baixa palatabilidade, os brotos jovens do cipó são mais atraentes para os animais, tornando-se uma fonte de alimentação mais comum nesse período.
Durante a seca, essa planta permanece verde nos pastos, o que atrai a atenção dos bovinos famintos. Os compostos tóxicos variam conforme a maturidade da folha: nas folhas jovens, predominam heterosídeos flavônicos e esteróides, enquanto as folhas maduras contêm taninos condensados, alcaloides quaternários e esteróides.
Sinais clínicos em bovinos
Os sintomas de intoxicação em bovinos incluem inchaço na barbela e na área esternal, pulso jugular visível, abortos, dificuldade em caminhar, perda de peso contínua e fezes secas.
Achados de necropsia
Os exames post-mortem revelam áreas pálidas no epicárdio, endurecimento do músculo cardíaco, fígado com aparência de noz-moscada e edemas subcutâneos localizados na região esternal.
Conium maculatum — Cicuta, Funcho-selvagem
Esta planta perene, que pode atingir até 180 cm de altura, é facilmente identificável pelo seu caule oco com manchas púrpuras e folhas que lembram as da salsa. É comumente encontrada nos estados de Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. A cicuta contém alcaloides voláteis, como coniína e coniceína, que são altamente tóxicos.
Sinais clínicos em bovinos
Os bovinos intoxicados por cicuta podem apresentar uma série de sintomas graves, incluindo dificuldade para engolir e se locomover, falta de coordenação, tremores musculares, prolapso da terceira pálpebra, dificuldade respiratória, salivação excessiva, eructação intensa, regurgitação do conteúdo ruminal, movimentos de pedalagem, abortos, e nascimento de bezerros com deformidades congênitas.
Achados de necropsia
Durante a necropsia, é comum encontrar espuma e fragmentos de material verde nas vias respiratórias, além de sinais de aspiração de líquido ruminal nos pulmões.
Solanum malacoxylon — Espichadeira (Variedade Glabra e Pilosa)
Intoxicações naturais por Solanum malacoxylon são mais comuns em bovinos com mais de 15 meses de idade. Essa planta é típica do Pantanal do Mato Grosso, especialmente em terrenos argilosos e áreas alagadiças. O período de maior incidência de intoxicação ocorre entre julho e setembro.
O composto tóxico responsável pelos efeitos prejudiciais dessa planta é um agente calcinogênico, semelhante à vitamina D, que aumenta a absorção de cálcio no organismo dos bovinos. Isso pode levar à calcificação distrófica de estruturas como o endocárdio, artérias, tecidos moles e tendões.
Além disso, esse agente calcinogênico interfere na maturação dos condrócitos nas cartilagens epifisárias e articulares, resultando na interrupção do crescimento longitudinal dos ossos. A degeneração e calcificação anormal dos tecidos moles e a deposição óssea intramedular também inibem a eritropoiese.
Sinais clínicos em bovinos
Os bovinos intoxicados podem apresentar emagrecimento contínuo, pelos ásperos, sinais de fraqueza, abdômen retraído, dificuldade para se locomover e um andar rígido. Também é comum que os animais apoiem as pinças dos cascos no chão, especialmente nos membros anteriores.
Após atividades mais intensas, os animais intoxicados podem sofrer de insuficiência cardíaca e respiratória, manifestada por cansaço, dispneia, carpos levemente flexionados, cifose, decúbito, pulso arterial endurecido e arritmias cardíacas.
Achados de necropsia
Durante a necropsia, é possível identificar mineralização em vários órgãos, com maior impacto nos sistemas cardiovascular e pulmonar. O endocárdio e as válvulas cardíacas costumam estar espessados e rígidos. As grandes artérias, como as faciais e ilíacas, podem apresentar-se brancas, endurecidas e com placas calcificadas. Outras observações incluem calcificação associada a enfisema pulmonar, anasarca, ascite e rins com pequenos pontos esbranquiçados.
Tratamento
Infelizmente, não existe tratamento eficaz para essa intoxicação.
Palicourea marcgravii — Cafezinho, Erva-de-Rato, Erva-Café, Café-Bravo, Roxa, Roxinha
A Palicourea marcgravii é uma das plantas tóxicas mais importantes no Brasil, conhecida por sua ampla distribuição em quase todo o território nacional, exceto na região Sul. Com uma alta palatabilidade e elevada toxicidade, essa planta possui um efeito cumulativo que a torna particularmente perigosa para os bovinos.
Embora possa ser ingerida durante o ano todo, a incidência de intoxicações é maior durante a estação seca, quando os animais entram em áreas de mata e capoeira em busca de alimento. O composto tóxico principal é o ácido monofluoracético, com a planta seca contendo aproximadamente quatro vezes mais toxina do que a planta verde.
Sinais clínicos em bovinos
Os bovinos que ingerem Palicourea marcgravii apresentam rapidamente sinais clínicos como desequilíbrio, especialmente nos membros posteriores, resultando em quedas. Outros sintomas incluem tremores musculares, movimentos de pedalagem, dificuldade respiratória, membros rígidos, taquicardia, convulsões e morte. Os sinais de intoxicação aparecem dentro de poucas horas após a ingestão, variando entre 5 a 24 horas, com alguns casos resultando em morte dentro de 1 a 15 minutos, caracterizando um quadro superagudo.
Achados de necropsia
Devido à rápida progressão para a morte, é comum que não haja lesões macroscópicas evidentes durante a necropsia. Em alguns casos, no entanto, podem ser observadas mucosas cianóticas, congestão dos pulmões, rins e fígado, além de hemorragias na meninge e nos rins.
Tratamento
Atualmente, não existe um tratamento específico para intoxicações por Palicourea marcgravii.
Em resumo, essas intoxicações destacam a necessidade urgente de vigilância e manejo apropriado dos pastos para evitar a ingestão dessas plantas tóxicas. Infelizmente, não há tratamentos específicos para essas intoxicações, tornando a prevenção uma prioridade. O conhecimento sobre as plantas tóxicas e seus efeitos é crucial para proteger a saúde dos bovinos e garantir o bem-estar dos rebanhos. Adotar práticas preventivas e manter uma gestão atenta dos recursos forrageiros são passos fundamentais para minimizar os riscos associados a essas plantas perigosas.
Escrito por Compre Rural
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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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