Preço do leite tem queda de 29,4% e crise piora; Existe salvação?

O valor de R$ 2,25/litro é 29,4% menor que o registrado no mesmo período do ano passado, em termos reais. Com este resultado, o preço do leite acumula queda real de 13,6% desde o início deste ano.

O preço do leite cru seguiu em queda, pressionado sobretudo pelo aumento das importações e
pela desvalorização dos lácteos.O preço médio do leite cru captado por laticínios em agosto registou a quarta queda mensal consecutiva, recuando 6,8% frente a julho e passando para R$ 2,25/litro na “Média Brasil” líquida, conforme levantamento do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP.

Esse valor é 29,4% menor que o registrado no mesmo período do ano passado, em termos reais. Com esse resultado, o preço do leite acumula queda real de 13,6% desde o início deste ano (os valores foram deflacionados pelo IPCA de agosto/23).  

O aumento da disponibilidade interna de lácteos é o que explica a continuação do movimento de desvalorização do leite ao produtor em agosto. A maior oferta, por sua vez, se deve ao aumento da captação, às importações ainda elevadas e ao consumo muito sensível ao preço.

O Índice de Captação Leiteira (ICAP-L) do Cepea subiu 3,2% de julho para agosto, sustentado pela retração nos custos neste ano frente aos elevados patamares de 2022. Contudo, é importante destacar que, ao contrário dos meses anteriores, os custos de produção não caíram em agosto. A pesquisa do Cepea mostra leve alta de 0,25% no Custo Operacional Efetivo (COE) da pecuária leiteira na “Média Brasil”, puxada pelas valorizações dos concentrados e dos adubos e corretivos.

Além disso, desde julho, a retração no preço do leite supera a desvalorização do milho, diminuindo, portanto, o poder de compra do pecuarista frente a esse importante insumo. Esse cenário desperta preocupações para o setor, tendo em vista que a progressiva perda na margem do produtor pode diminuir os investimentos na atividade neste curto prazo.

O movimento baixista no valor ao produtor se ancora também na manutenção das importações, que cresceram 6,1% de julho para agosto, somando 196 milhões de litros em equivalente leite. Os preços mais competitivos dos lácteos estrangeiros têm pressionado as cotações ao longo da cadeia produtiva.

A pesquisa do Cepea mostra que as médias de preços do UHT, da muçarela e do leite em pó negociados entre laticínios e canais de distribuição no estado de São Paulo em agosto caíram 5,27%, 2,97% e 2,85%, respectivamente, em relação a julho. Vale observar que, na comparação com o mesmo período do ano passado, os preços caíram quase 30%, em termos reais.

Gráfico 1. Série de preços médios recebidos pelo produtor (líquido), em valores reais (deflacionados pelo IPCA de agosto/2023).

Fonte: Cepea-Esalq/USP.

Crise no setor leiteiro

A Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) reuniu nesta segunda-feira (28) representantes do governo federal e da cadeia de produtores familiares de leite da Região Sul em busca de soluções para o setor, em crise desde 2016.

De cada 10 produtores de leite do estado, sete deixaram a atividade nos últimos 10 anos. Houve um decréscimo de 100 mil para 30 mil produtores no período. Os dados da Emater/RS e da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag/RS), e comprovados por meio de notas fiscais junto à indústria, foram destacados pelo presidente da Associação dos Criadores de Gado Holandês do Rio Grande do Sul (Gadolando), Marcos Tang, durante a 46ª Expointer, no Parque de Exposições Assis Brasil, em Esteio (RS). 

O presidente da Gadolando destacou a necessidade urgente de redução dos custos de produção do leite, além de um mecanismo que limite a importação do produto. “Nós estamos correndo o risco até de soberania, por se tratar de um produto básico. Ok, agora ficou fácil importar, mas amanhã ou depois, com produtores locais quebrados, se os países deixarem de exportar leite para cá ficaremos na mão”, projetou.  

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