Identificadas regiões genômicas que podem permitir aumento na produção de carne, sendo que algumas delas não estavam relatadas na literatura científica.
O Brasil tem o segundo maior rebanho bovino do mundo, com 218 milhões de cabeças, atrás apenas da Índia. Do total brasileiro, 80% são animais da raça nelore e é importante aos pecuaristas que os animais cresçam rapidamente, atingindo o peso de abate em idades mais jovens.
Um trabalho de pesquisa pioneiro acaba de identificar genes potencialmente relacionados a funções como crescimento e ganho de peso na raça nelore, ou seja, relacionados à produção de carne, por meio de metodologias que identificam regiões do genoma que tenham sofrido modificações devido à seleção dos animais, as quais são identificadas como assinaturas de seleção.
“Encontramos seis regiões genômicas onde estão genes associados ao ganho de peso na raça nelore, sendo que algumas delas não estavam relatadas na literatura científica, mesmo para outras raças de corte”, disse Diercles Cardoso, pós-doutorando na Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias (FCAV) da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Jaboticabal (SP), com bolsa da FAPESP.
“Quatro dessas regiões, que são classificadas como assinaturas de seleção, estão no cromossomo 14, que já se sabia abrigar os genes para crescimento no genoma bovino. Porém, identificamos outras duas assinaturas no cromossomo 16, algo de certa forma inesperado. É possível que genes dessas duas regiões sejam especificamente relacionados a características de crescimento no gado nelore e, por isso, tenham imenso potencial para melhoria da raça com vistas a ganho de peso”, disse.
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Cardoso é o primeiro autor do artigo publicado na revista Genetics Selection Evolution. O artigo é resultado de seu doutorado, com orientação do professor Humberto Tonhati. Além dos dois, participaram do trabalho a professora Lucia Galvão de Albuquerque, da FCAV, e pesquisadores da Universidade de Göttingen, na Alemanha, e da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA) – Instituto de Zootecnia.
A identificação dos genes teve início com a coleta de amostras de sangue em animais de três linhas de seleção nelore mantidas no rebanho experimental do Centro de Bovinos de Corte de Sertãozinho, da APTA. São linhas criadas em 1980 com vistas a demonstrar aos produtores como fazer seleção em gado de corte e avaliar o impacto da seleção para crescimento sobre a produtividade geral do rebanho. Há a linha controle, em que a seleção para aumento no peso não é realizada, e as linhas seleção e tradicional, onde os touros de melhor desempenho em provas de ganho de peso são anualmente utilizados para reprodução.
Todos os anos, entre três e oito dos melhores touros são utilizados para reprodução nas linhas selecionadas para maior peso (seleção e tradicional). Os animais do atual rebanho experimental são resultado de oito gerações selecionadas para ganho de peso. Quando se comparam animais com a mesma idade, aqueles da linha de seleção são bem maiores que os da linha controle.
Cardoso utilizou amostras de sangue de 782 animais nascidos entre 2004 e 2012, sendo 92 da linha controle, 192 da linha seleção e 498 animais da linha tradicional. Seguiu-se o trabalho de bancada com a extração do DNA de cada uma das amostras e genotipagem com chips de SNP (sigla em inglês para “polimorfismos de nucleotídeo único”)
A genotipagem é o processo para identificar a composição genética (genótipo) de cada indivíduo, examinando sua sequência de DNA. Os SNPs (pronuncia-se “snips”) são um dos tipos mais comuns de marcadores de variação genética. No caso do genoma bovino, Cardoso usou um chip capaz de identificar, aproximadamente, 777 mil marcadores de SNP em amostras de DNA bovino.
Ao investigar o DNA de todos os animais amostrados com chip de SNP, foram comparados os genótipos dos animais da linha controle com os animais das outras duas linhas, usando três métodos independentes. No primeiro, foram identificadas 48 regiões no genoma com indício de estarem ligadas às funções de ganho de peso dos animais.
O segundo e terceiro método identificaram apenas sete e 17 regiões. Ao confrontar os três resultados, Cardoso chegou às seis regiões que constavam de pelo menos dois dos métodos. São seis assinaturas de seleção que estariam ligadas ao peso dos animais.
Cardoso planeja agora estudar as funções dos genes dessas regiões, em busca de evidências de que estão de fato associadas ao crescimento em nelore.
Peter Moon, Agência FAPESP