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As chamas começaram na Transpantaneira após um carro capotar e avançaram para a propriedade que fica às margens da rodovia.
Superar os prejuízos causados pelos incêndios não é o único desafio dos pecuaristas do Pantanal. A baixa oferta de pasto, consequência direta do fogo, e a escassez de água por conta da estiagem prolongada também dificultam a vida de quem luta pela sobrevivência do gado.
A propriedade de Raimundo Costa, às margens da Rodovia Transpantaneira, foi vítima de um incêndio que começou após um carro capotar. O fogo destruiu quase 50 quilômetros de cervas, queimou mais de 40% das áreas de vegetação – considerando pastagens e reservas – e tirou a vida de um touro. O prejuízo total é estimado em R$ 1 milhão.
”Nunca tinha visto isso, presenciei só aqui. É impressionante, você apaga um fogo e ele, de repente, ressurge em outro lugar na mesma linha. Quero saber como é que eu arrumo dinheiro para pagar o prejuízo”, desabafa o produtor.
O empenho dos funcionários da fazenda para auxiliar os brigadistas durante mais de 15 dias de incêndio evitou um prejuízo maior ao pecuarista.
“Foi dia e noite combatendo com a companheirada. Fazia um aceiro, o fogo pulava. Fazia outro, pulava do mesmo jeito. Tentamos salvar o que deu: beira de casa, curral e o gado, que fomos levando de cá para lá no meio do fogo. Graças a Deus, só teve uma morte [o touro]”, conta o vaqueiro Márcio da Silva.
Segundo o presidente do Sindicato Rural de Poconé (MT), Arlindo de Moraes, a pecuária pantaneira já não vinha muito forte e os incêndios pioraram a situação. “O pecuarista que encontrou algum pasto para arrendar está pagando caro por isso, por que não tem muita pastagem no nosso município”, diz.
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Moraes defende que sejam criadas de crédito específicas para o Pantanal. “Uma ajuda diferente para o pantaneiro – aquele que realmente está lá criando o seu gado – recuperar a estrutura da fazenda, o gado, a fauna e a flora, para ele novamente começar a ter a sua produtividade”.
A falta de pastagem não é a única ameaça aos animais dentro do bioma. A estiagem de mais de 150 dias baixou o nível dos principais rios de região e dificultou o acesso à água para o rebanho. “Estamos colocando água de pileta, fazendo com reservatórios de água de 4.300 litros, enchendo regularmente para não perder animais”, diz Costa.
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O presidente do sindicato de Poconé diz que a previsão do tempo para o município não é animadora. “Cada dia que passa, o gado vai enfraquecendo mais e o prejuízo só vai aumentando, e isso é a grande preocupação nossa”, afirma Moraes.
Quem são os responsáveis?
Enquanto uma força-tarefa integrada pelo Corpo de Bombeiros, Forças Armadas e Força Nacional atua no combate aos incêndios, outra equipe de peritos investiga quem são os responsáveis pelos incêndios no bioma.
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“Existe um levantamento do início do foco de calor, da relação entre o que houve na propriedade e aquele incêndio florestal ou a queimada ocasionada naquele local. Uma vez autuado, é garantido ampla defesa, mas o Estado fará um esforço uma força tarefa para que essas autuações sejam julgadas e a responsabilização seja de fato concretizada para aqueles que praticaram o crime. Alguns dados preliminares já foram levantados, inclusive para subsidiar aquelas autuações que foram feitas em flagrante e outras que já estão em cursos de processos de investigação”, conta a secretária de Meio Ambiente de Mato Grosso, Mauren Lazzaretti.
De acordo com o tenente-coronel Jean Oliveira, do Corpo de Bombeiros do estado, alguns incêndios foram criminosos e outros aconteceram por negligência na utilização de fogo para limpeza de locais. “Tem também aqueles que não são criminosos. Por exemplo, tivemos o capotamento de um veículo na região da Transpantaneira. O carrro incendiou o bioma nas margens da rodovia e, devido às condições atmosféricas, o fogo se propagou”, diz.
Fonte: Canal Rural