O Brasil é dono do maior rebanho bovino comercial do mundo e é atualmente o segundo maior produtor de carne bovina.
Apesar da aptidão brasileira para a atividade, diante de recursos naturais principalmente, a pecuária no Brasil vive hoje uma fase que vai além da tecnificação do campo, a fase da profissionalização da gestão do agronegócio. Atualmente, os resultados encontrados no setor variam consideravelmente de produtor para produtor. Custos de produção podem variar até 500%, exigindo rígido planejamento e controle dos sistemas produtivos.
O início: uma indústria que produzia sozinha
Desde a época da colonização a pecuária é presente no Brasil. Foi na região nordeste, onde inicialmente foram criados os primeiros bovinos, que por pressão do clima e a descoberta de minerais migrou para o sudeste e sul do país. A criação de bovinos era sustentada pela demanda das emergentes cidades da região.
Na época, o modelo de produção era o mais extrativista possível, em pastagens nativas, sem sal mineral, sem controle sanitário e nem melhoramento genético. Os animais eram literalmente buscados no pasto quando havia necessidade de caixa pela família ou negócio. O sistema se consolidou até meados da década de 30 no século passado, onde predominava-se a lei do mínimo esforço.
Já no fim dos anos 50 um primeiro marco para a pecuária nacional, a introdução de variedades de capim artificiais, como o colonião, propiciou um enorme ganho frente ao sistema extrativista empregado até então. Contudo, este ainda prevaleceu por mais um tempo, o que rapidamente levou a exaustão dos nutrientes do solo, o que diminuiu a resposta do capim e consequentemente a produtividade da pecuária.
Ondas de expansão: novas tecnologias para criação extensiva
A pecuária nacional que se concentrava no sul e sudeste passou por algumas fases ao longo do último século, o que levou os bovinos a conquistarem o Brasil, com auxílio de algumas tecnologias e influencias externas.
Um dos grandes saltos para começar a expansão para outras regiões do país foi a introdução de uma gramínea muito famosa, a Brachiaria. Lançada pela Embrapa, a introdução da gramínea permitia ganhos um pouco menores, contudo a resistência e rusticidade da forrageira era notável e caiu como uma luva ao sistema de produção empregado.
Liderada pela brachiaria decumbens e ruziziensis, o gênero forrageiro foi um dos aliados na conquista do cerrado brasileiro pelos pecuaristas, ganhando força frente ao uso de pastagens naturais. Mais tarde, em 84 foi lançado a brachiaria brizantha, conhecido até hoje como o “braquiarão”.
Aliado a forrageira, outro grande fator responsável pela expansão da pecuária nacional foi a introdução do gado zebu, que hoje compões cerca de 85% do nosso rebanho nacional. O primeiro casal importado de nelore foi em 1868, na Bahia.
Contudo, o crescimento de movimentos de importação do gado (principalmente da Índia) consolidou sua rusticidade e adaptabilidade ao clima e sistemas produtivos que propiciou a entrada deste nos sistemas produtivos da época.
Apesar dos incrementos tecnológicos (genética animal e vegetal), a estratégia adotada por pecuaristas na época pouco tinha preocupação com produtividade.
Ganhando o cerrado: baixa intensificação levou a abertura de novas áreas
A primeira migração da pecuária nacional teve além da dupla brachiaria e nelore, ajuda de uma crescente disponibilidade de créditos, o que supria a necessidade de recursos para deixar o sul e sudeste do país.
Com isso, o primeiro movimento da pecuária aconteceu juntamente com a expansão da soja e revolução verde e foi em direção ao cerrado brasileiro. Cobrindo principalmente o Mato Grosso do Sul, Goiás e Triangulo mineiro. Na década de 70, consolidava-se também a divisão das terras de agricultura e de pecuária, onde o sistema produtivo ainda era basicamente extrativista e pouco produtivo frente a agricultura que se modernizava.
Mais adiante, nos anos 80, uma nova expansão cobriu o Mato Grosso, Tocantins e norte mineiro. A atração por terras mais baratas era um dos principais motivos para a migração. Nesta época também foi introduzido o sal mineral, muito pouco utilizado nas produções. Contudo, a baixa produtividade ainda era evidente, e muitos utilizavam a pecuária como atividade especulativa e protetora contra um grande fator, a inflação da época.
Já nos anos 90 a expansão se direcionava cada vez mais ao norte, atingindo sul do Pará, Rondônia, Acre e algumas regiões do Nordeste. Era nítido também que a herança da origem dos pecuaristas, sendo os paulistas e paranaenses mais preocupados com lucros enquanto alguns outros empregavam uma produção mais caseira e pouco profissionalizada.
O boi como poupança ou escudo: resultado econômico menos relevante
A econômica brasileira passou por um período em que a inflação era notável e preocupante. O fato pode ser comprovado por qualquer um que vivia na época, e que chegaram a ver uma inflação de mais de 200% ao ano.
O contexto suporta o fato de que muitos pecuaristas não tinham grande preocupação com aumentos de produtividade, uma vez que a atividade tinha caráter especulativo. Em algumas regiões entre os anos 60 e 90, a terra chegou a valorizar mais de 1000%, o que quando aliado a alta inflação justificava a imobilização do capital em terras e gado.
Ter bois no pasto significava gerenciar os riscos contra a inflação, e aliado a estratégia de abertura de novas áreas e a aquisição de terras, pouca valia tinham incrementos de produtividade na pecuária.
Expansão, agora em produtividade: investimentos além de animais para aumentar ganhos
Já nos anos 90, o plano real colocou um fim a alta volatilidade de preços vista nas décadas anteriores, o que juntamente com o desmazelo e cuidado com as pastagens e sistemas produtivos tirou muitos pecuaristas da atividade.
A pecuária urgia por incrementos de produtividade, o que teve grande crescente desde os anos 90. Os principais responsáveis foram as empresas de nutrição animal, melhoramento genético (de forrageiras e animais), sanidade e saúde, técnicas de produção em geral, consultorias entre outros ganhavam cada vez mais força, fato que se nota até hoje.
A pecuária brasileira nesta época teve (e tem) um aumento produtivo notável, utilizado cada vez mais tecnologias de modo mais eficiente, o que levou a uma mudança no perfil do abate, reduzindo a idade de abate e aumento o peso médio de carcaça. O resultado produtivo (do lado do corte) foi o aumento de 47% em relação ao ano 2000.
Uma nova fase: gestão para escolha de cenários mais lucrativos
Atualmente, a pecuária nacional passa por uma nova fase. Muito além dos ganhos de produtividade necessários para o sustento econômico de longo prazo da atividade, a pecuária vive uma fase onde a busca pela profissionalização da gestão é latente.
O divisor de águas hoje está muito mais no mérito da gestão do agronegócio do que na eficiência operacional advinda do emprego de tecnologias. A eficiência buscada pela gestão vai muito além da produtiva, olhando para a produtividade de todos os recursos envolvidos no agronegócio.
Ganha foco nesta fase o surgimento de tecnologias digitais como softwares, que trazem muitos dos benefícios trazidos com a tecnologia, como a rapidez de análises, barateamento das mesmas, maios detalhamento das mesmas e menor margem de erros manuais. Contudo, é preciso escolher adequadamente o software ideal para a pecuária de cada um.
Em meio a gestão profissionalizada figura a gestão estratégica. Longe de ser uma nova área da gestão, ela olha para o agronegócio como um todo, levando em conta fatores além da produção que impactam os lucros da atividade. Juntamente com a visão holística, aspectos qualitativos internos e externos são sempre levados em consideração para garantir o sustento econômico de longo prazo.
Em suma, a nova era da pecuária nacional não deixa nenhum espaço para os não-profissionais, por mais tecnificados que estes sejam. A pecuária atual urge por uma gestão profissionalizada, que suporte a tomada de decisões de forma a garantir o sustento econômico de longo prazo da atividade.
Fonte: Blog Perfarm