Rebanho brasileiro é cerca de 30 milhões de cabeças menor do que se acreditava. Das 214 milhões de cabeças, o país pode ter apenas 184 milhões de bovinos e bubalinos.
O rebanho bovino brasileiro é o maior do mundo, perdendo apenas para o indiano quando se leva em consideração a quantidade de bubalinos. No entanto, o número mais aceito atualmente está superestimado, segundo artigo divulgado por Maurício Palma Nogueira*. E agora, qual a influência desses dados no mercado?
A fonte de informação mais usada é a Pesquisa Pecuária Municipal (PPM), conduzida pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), que registrou um rebanho de 214,7 milhões de cabeças em 2019. O monitoramento da vacinação contra a febre aftosa conduzida pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento usa a mesma metodologia, buscando informações nas secretarias de estados que, por sua vez, se alimentam de informações dos municípios.
Segundo as informações dos últimos dados o Brasil possui a quarta maior área (158,6 milhões de hectares) e a maior área cultivada (111,7 milhões de hectares) de pastagens do mundo. Essas pastagens, direta ou indiretamente, constituem a base da alimentação de aproximadamente 200 milhões de herbívoros sendo: 171,85 milhões de bovinos; 0,95 milhão de bubalinos; 8,25 milhões de caprinos; 13,77 milhões de ovinos; e 5,90 milhões de equídeos.
O rebanho divulgado no relatório de vacinação do MAPA é praticamente o mesmo divulgado pela PPM /IBGE, reforçando a confiabilidade dos usuários com relação ao número.
No entanto, por ocasião da divulgação dos dois últimos censos agropecuários (2006 e 2017), evidenciou-se uma grande discrepância entre os dados censitários e os coletados via secretarias da agricultura. Na pecuária, a diferença, que era insignificante até os anos anteriores, chegou a 62 milhões de cabeças em 2006.
Em 2017, o censo trouxe novamente essas diferenças com o total do rebanho marcando 42 milhões de cabeças a menos do que o registrado via pesquisa pecuária municipal. Mas, dessa vez, foi possível compreender a natureza dessas discrepâncias.
A principal causa dessa diferença entre os dados é a combinação entre a realidade da produção nacional e o critério adotado para calcular o nível de produtividade das fazendas.
Para atender as exigências do grau de eficiência de exploração da terra, para fins de avaliação da produtividade do imóvel rural, o produtor acaba mantendo o registro de um rebanho maior do que realmente existe.
Isso ocorre porque, ao invés da produtividade, o critério se baseia em ocupação por unidade animal. E a classificação do peso médio do animal, ou seja, sua conversão entre cabeça e unidade animal, é feita pela idade. Pelo critério adotado, e considerando as regiões de maior concentração pecuária, o estoque médio de uma fazenda que termina todos os machos abaixo dos 36 meses de idade será avaliado com índices de produtividade 25% menores do que fazendas que abatem animais acima dos 36 meses.
A situação piora ainda mais em fazendas que abatem animais com até 24 meses. Nesse caso, a produtividade média do rebanho será considerada 50% abaixo daquela propriedade que abate animais com mais 36 meses de idade.
Com a evolução da produtividade na pecuária, o rebanho brasileiro tem sido abatido cada vez mais jovem e com maior peso médio da carcaça. Os estoques de animais improdutivos com idade mais avançada também foram reduzidos. Mesmo assim, esse ganho de produtividade não é identificado pelo critério obsoleto de acompanhamento do grau de ocupação.
A situação é trágica e cômica ao mesmo tempo. Pelo método de avaliação do grau de uso da terra, quanto mais produtiva for a fazenda, considerando o mesmo suporte em peso de animais por área, mais improdutiva ela tende a ser considerada.
Até 1995 essa diferença não era perceptível, visto que o índice médio de produtividade da pecuária era mais baixo, fazendo com que os estoques realmente tivessem animais com mais de 36 meses na maior parte das fazendas.
A partir dos anos 2000, o aumento da produtividade fez com que a composição média do rebanho, em idade e peso por animais, mudasse completamente. Mas, para evitar uma injusta desapropriação de área, os produtores mantiveram o estoque dos animais mais velhos, mesmo que estes não existissem mais. Para fins contábeis, o que vale é o movimento (compras e vendas) e esse pode ser mantido conforme o que ocorre na prática.
O comportamento dos preços de mercado nos últimos 20 meses comprova que não há possibilidade alguma de que haja mais de 215 milhões de cabeças no rebanho brasileiro.
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Para fins de cálculos do rebanho, o critério mais sensato, sem deixar de usar dados de fontes oficiais, é analisar a evolução do rebanho usando a pesquisa pecuária municipal a partir da base censitária de 2017.
A metodologia que adotaremos a partir de agora ainda levará em consideração 50% do total abatido no mercado fiscalizado (sistemas federal, estadual e municipal), obtido pela Pesquisa Pecuária Trimestral, também do IBGE. Segundo esse critério, o rebanho de 2019 não seria de 214,7 milhões de cabeças, mas sim de 185,6 milhões.
O rebanho é menor, mais jovem e mais produtivo em relação ao que era 30 anos atrás.
*Maurício Palma Nogueira é engenheiro agrônomo, diretor da Athenagro e coordenador do Rally da Pecuária.
Compre Rural com informações do Summitagro