Dos produtos in natura aos processados, levantamento mapeou comportamento de pessoas de diversos extratos sociais no Brasil.
O consumo de alimentos de base vegetal, conhecidos por plant based, tem crescido, movimentado bilhões no mundo e inclusive atraído empresas tradicionais de proteína animal. As gigantes das carnes estão investindo pesado nesse novo mercado com o objetivo de ampliar seu portfólio e atender ao consumidor que busca por novidades. Para isso, levam em conta não apenas o apelo por uma alimentação mais saudável, muitas vezes associado aos produtos de base vegetal, mas também atributos como sabor, aroma e textura, além da satisfação após o consumo.
São atributos que o consumidor procura nos produtos vegetais, indica um levantamento realizado pela empresa de pesquisa de consumo Cint, encomendado pela organização não governamental Mercy for Animals (MFA). A sondagem faz parte de um programa da MFA lançado em 2020, que presta consultoria para empresas que desejam se lançar ou reposicionar suas marcas e produtos no segmento plant based.
A pesquisa foi feita em setembro de 2021 com 500 pessoas de todas as regiões do Brasil e diversos extratos sociais, incluindo consumidores das classes D e E. A intenção foi mapear a aceitação, produtos de interesse e o que eles levam em conta na inclusão dos produtos à base de plantas em seus hábitos alimentares.
O levantamento apontou um conhecimento do consumidor que foi considerado expressivo pelos responsáveis pela pesquisa, com 77% dos entrevistados dizendo ter familiaridade com alimentos de base vegetal. Além disso, 81% disseram ter experimentado produtos à base de plantas nos últimos seis meses.
“O desafio é oferecer produtos que tenham a questão da saudabilidade, mas sem deixar o sabor de lado. A gente vê que tem a questão da saúde, mas também tem a indulgência. O consumidor quer um produto saboroso”, resume Julia Seibel, gerente do programa de consultoria da MFA e coordenadora da pesquisa.
Para avaliar o comportamento dos consumidores, o trabalho levou em consideração desde os alimentos de origem 100% vegetal consumidos in natura, como frutas, legumes e verduras, até produtos processados, como bebidas à base de soja ou hambúrgueres feitos com leguminosas, como lentilha e feijão.
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De acordo com a Mercy For Animals, do total dos pesquisados, 52,8% eram mulheres e 47,2% homens. Na divisão por idade, 33% dos participantes tinham entre 35 e 44 anos, mesma proporção dos que tinham de 25 a 34 anos. Outros 14% tinham entre 15 e 25 anos; 12%, de 45 a 54 anos; 7%, de 55 a 64 anos; apenas 1%, acima de 65 anos.
Em relação aos hábitos alimentares, a maioria dos participantes da pesquisa (58,1%) declarou-se onívoro, consumidor regular de alimentos de origem animal e vegetal. Entre eles, 58,5% disseram considerar os alimentos à base de plantas como adicionais aos de origem animal. Outros 41,5% disseram considerar um substituto do outro.
Os que declararam-se reducitarianos, consumidores que estão reduzindo o consumo de carne, foram 25,3%. Apenas 8,5% declararam ser vegetarianos ou veganos, tendo por hábito ou opção de vida o consumo apenas de produtos de origem vegetal. No total dos pesquisados, a relação ficou em 53% considerando como substituição e 47% como adicional, segundo o levantamento divulgado pela organização não governamental.
“Para nós, isso é bem relevante porque boa parte dos respondentes se classificou como onívoro. São pessoas que consomem produtos de origem animal com alta frequência”, analisa Julia Seibel.
Preço e disponibilidade
Na avaliação dos responsáveis pela pesquisa, os resultados vão ao encontro das tendências de consumo em relação aos alimentos vegetais. Dados da Bloomberg Intelligence, citados pela MFA na divulgação da pesquisa, apontam que o mercado de produtos à base de plantas pode saltar dos US$ 29,4 bilhões movimentados em 2020 para US$ 162 bilhões em 2030, considerando tanto os produtos altenativos a carnes quanto os alternativos a lácteos.
A demanda tem atraído a atenção de empresas de diversos segmentos do setor alimentício, desde startups, como agtechs e foodtechs, até companhias mais tradicionais. Mesmo as que já atuam no setor de proteína animal. O Grupo Mantiqueira, por exemplo, do setor de ovos, colocou no mercado um alternativa vegetal ao seu principal produto.
Gigantes do setor de carne também vêm reforçando sua estratégia no segmento de plant-based. Ainda que de uma forma bem menos expressiva quando se compara com seus produtos tradicionais e, em geral, com a promessa de proporcionar ao consumidor uma experiência de textura e sabor semelhantes ao produto animal.
A Marfrig, por exemplo, associou-se à multinacional de grãos ADM na PlantPlus Food, com a promessa de oferecer “a próxima geração de produtos alimentícios à base de plantas”, com operações na América do Sul e do Norte. Na BRF, a aposta nesse mercado esta associada à marca Sadia, com produtos congelados desde vegetais in natura até alternativas ao frango.
Na JBS, uma das apostas está ligada à marca Seara, que tem linhas de produtos 100% vegetais. A empresa também mirou o mercado europeu com a aquisição da Vivera, que, de acordo com a companhia, fornece produtos plant-based para mais de 25 países da Europa.
Ao mesmo tempo, o cenário aparenta ser promissor para quem fornece itens que servem de matéria-prima para plant-based. O Instituto Brasileiro do Feijão e Pulses (Ibrafe), avalia que o crescimento desse mercado pode ser um impulso ao consumo do feijão. Ervilha, lentilha, grão-de-bico e soja estão entre os grãos que servem de base para processados vegetais.
“Nos últimos anos, teve um boom desse mercado e tudo indica que o crescimento será ainda maior. A gente sabe que o consumidor está buscando isso e as empresas que não oferecerem esses produtos vão acabar ficando para trás”, avalia Julia Seibel, da Mercy For Animals.
Do total dos entrevistados da pesquisa feita pela organização não-governamental, 63% declararam adquirir regularmente produtos vegetais no Brasil. No entanto, apesar do cenário otimista e das diversas opções no mercado, a pesquisa detectou também obstáculos que, na visão dos participantes, inibem uma demanda maior pelos produtos plant based.
O mais citado foi o preço, lembrado em 85% das respostas. Depois, aparecem disponibilidade (78%) e sabor (55%). Na amostragem utilizada no levantamento, 4,3% dos pesquisados possuíam renda superior a 20 salários mínimos. Outros 15,4%, entre 10 e 20 salários; 37,9%, de quatro a dez salários e 42,2% até quatro salários mínimos.
De acordo com a Mercy For Animals, quando questionados sobre a preferência por um determinado produto vegetal, o hambúrguer aparece como destaque. Entre os mais citados, o “hambúrguer à base de plantas” já padronizado pela indústria de alimentos, além de outras opções, como o hambúrguer de soja, de lentilha e de feijão.
“A oferta disponível hoje consegue entregar o que o consumidor está buscando. Pode ser a indulgência de um hambúrguer, uma maior percepção de saudabilidade ou até mesmo um preço acessível. Às vezes, tem a questão do hambúrguer análogo ter um preço mais elevado, mas, se olhar a oferta do produto in natura, a gente vê por uma outra ótica”, afirma Julia Seibel.
Ela destaca que, mesmo entre as classes D e E, essa preferência apareceu, embora o valor desses produtos possa ser mais elevado. Para ela, é um indicativo de que a busca por um produto diferenciado existe mesmo nos extratos sociais de menor poder aquisitivo.
Essa escolha coloca também sobre o mercado vegetal a discussão sobre o consumo de produtos in natura e processados. Julia Seibel, responsável pela pesquisa da Mercy For Animals, lembra que o universo do plant based é bem amplo e avalia que o tema é complexo.
“Tem ultraprocessado em carne e tem ultraprocessado vegetal. Mas, quando a gente tem um hamburguer vegetal, à base de plantas, a gente precisa comparar com o de origem animal. Ele não vai trazer os mesmos benefícios de saúde que um prato in natura, mas tem que comparar o hamburguer com o hamburguer”, pondera.
Fonte: Globo Rural