Nova tecnologia é capaz de prever bovinos aptos a produzir carne premium

Ferramenta possibilita que os criadores de Hereford e Braford possam selecionar o rebanho para características de qualidade de carcaça e produção de carne premium

A Embrapa e a Associação Brasileira de Hereford e Braford (ABHB), em parceria com a BioData Ciência de Dados, apresentam ao mercado uma tecnologia capaz de identificar touros aptos a gerar descendentes que produzam carne de alta qualidade. Denominada Índice Real Carcaça Hereford e Braford (IRC), ela possibilita que os criadores dessas raças bovinas prevejam quais animais terão tendência a receber bonificações pagas pela indústria frigorífica pela qualidade da carne.

A expectativa é que impacte em ganhos consideráveis para toda a cadeia, com a venda de animais, agregação de valor às matérias-primas e produtos de alto padrão para o consumidor. A novidade, que atende a uma demanda dos pecuaristas, será lançada durante a 46ª edição da Expointer, que ocorre em Esteio (RS), de 26 de agosto a 3 de setembro.

O Índice, inserido no programa de melhoramento genético das raças Hereford e Braford, o PampaPlus, identifica os touros capazes de gerar descendentes que produzam carne de alta qualidade para o Programa Carne Certificada Hereford. O indexador é uma forma de medir o mérito econômico de um reprodutor específico em relação à sua capacidade de produzir animais com carcaças de maior valor agregado.

Essa avaliação é feita com base em um modelo bioeconômico que relaciona informações sobre o crescimento dos animais e as medidas de qualidade da carcaça obtidas por ultrassonografia in vivo, com a maior probabilidade de que as carcaças dos filhos desses touros atendam aos critérios de enquadramento em programas de carne premium.

O índice foi desenvolvido a partir da relação entre os principais requisitos para bonificação da indústria e a definição de quatro objetivos de seleção: melhoria da espessura de gordura, relacionada ao acabamento de carcaça; melhoria da área de olho de lombo, relacionada ao peso de carcaça e tamanho de cortes nobres; o peso de carcaça; e a gordura intramuscular (marmoreio). “Os frigoríficos têm seus programas de qualidade de carne que bonificam as carcaças de acordo com a qualidade. Então, esse índice é uma forma de selecionar reprodutores, com base no lucro que eles vão trazer ao sistema de produção, em função do valor gerado nos seus filhos. O índice nos dá em reais qual é o valor agregado, qual o lucro por carcaça abatida”, explica Fernando Cardoso, chefe-geral da Embrapa Pecuária Sul.

Conforme Rodrigo Costa, diretor financeiro da BioData Ciência de Dados, o IRC possibilita que os criadores de Hereford e Braford possam selecionar o rebanho para características de qualidade de carcaça. “Ao usar o IRC, eu posso selecionar touros para ofertar a pecuaristas que vão produzir novilhos para engorda, e esses novilhos vão ter melhores características de carcaça, com maior rendimento de corte, por exemplo, se a seleção for para área de olho de lombo, ou melhor marmoreio etc. Então, no momento que um produtor de genética usa e oferta animais ranqueados por esse índice, e eu sou um comprador de touros para utilizar em uma propriedade com sistema de produção de ciclo completo, por exemplo, ao usar esses touros, eu automaticamente passo a gerar animais com melhores características de carcaça”, exemplifica.

Assim, o IRC representa o valor econômico agregado às carcaças dos filhos de um touro selecionado, comparado a um reprodutor médio da mesma raça, que tem valor zero. Quando o índice é positivo, como + 100 reais, por exemplo, isso significa que as carcaças dos filhos daquele reprodutor, em média, vão gerar um lucro superior em 100 reais por animal abatido em relação aos filhos de um touro médio, quando forem levados ao frigorífico. Nessa conta, cada uma das quatro características de seleção – espessura de gordura, área de olho de lombo, peso de carcaça e marmoreio – representam um valor específico que será somado para se alcançar o índice de valorização, representado em reais.

Segundo o presidente do Conselho Técnico da ABHB, Paulo Azambuja, o ponto de maior relevância do IRC é que ele não é um índice que compara exclusivamente a avaliação de carcaça de cada animal. “É um índice muito mais amplo, pois, na sua composição, são compiladas características que levam como referência um sistema de produção em que as fêmeas entram em serviço aos 24 meses e os machos são abatidos nessa idade. Fatores que influenciam a rentabilidade nesse sistema têm seus impactos considerados de acordo com suas respectivas importâncias relativas, juntando-se as avaliações de carcaça de cada animal aliadas às características de carcaça que mais influem na remuneração frigorífica, sendo todas consideradas para composição final do IRC. Assim, temos um dado que congrega não só o aspecto objetivo de desempenho e das medidas da carcaça, como também as relaciona a aspectos relativos à eficiência do sistema, levando-se em conta, ainda, as características valorizadas pelos frigoríficos”, diz.

O indexador estará disponível pelo sistema PampaPlusnet. O criador dessas raças poderá visualizar nessa lista o valor agregado que é esperado dos filhos de todos os reprodutores que têm avaliação própria ou filhos avaliados para as características de ultrassonografia de carcaça. Conforme Cardoso, o novo índice representa ganhos consideráveis a toda a cadeia, já que os produtores podem obter melhores lucros com a venda de animais, a indústria agrega maior valor às matérias-primas e o comércio oferece produtos de alto padrão, que são acessados pelo consumidor no dia a dia.

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