A morte súbita do gado é um evento inesperado que surpreende os pecuaristas, muitas vezes sem dar qualquer indício prévio de que algo estava errado com os animais, em grande parte dos casos, não há tempo hábil para a identificação de sintomas visíveis, tornando o diagnóstico ainda mais desafiador
Em 2024, o Brasil alcançou um recorde histórico na produção de carnes bovina, suína e de aves, totalizando 31,57 milhões de toneladas, conforme dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Esse aumento foi impulsionado pelo auge do ciclo pecuário e pela crescente demanda nos mercados interno e externo.
No entanto, mesmo com esse crescimento, os pecuaristas continuam enfrentando desafios significativos, especialmente no que se refere às mortes súbitas no rebanho. Essas ocorrências podem resultar em prejuízos consideráveis na cadeia produtiva, tornando essencial a implementação de práticas de manejo adequadas e o entendimento das principais causas dessas fatalidades.
Diante desse cenário, este artigo abordará as principais características das mortes súbitas em bovinos, destacando as causas mais comuns e apresentando medidas preventivas que podem ser adotadas para minimizar esses eventos. Acompanhe!
O que caracteriza a morte súbita em bovinos?
A morte súbita no gado é um evento inesperado que surpreende os pecuaristas, muitas vezes sem dar qualquer indício prévio de que algo estava errado com os animais. Em grande parte dos casos, não há tempo hábil para a identificação de sintomas visíveis, tornando o diagnóstico ainda mais desafiador.
Por se tratar de um fenômeno abrupto, a prevenção se torna um grande desafio. No entanto, entender as principais causas dessa ocorrência permite ao pecuarista agir rapidamente para evitar que o problema se alastre e comprometa a saúde do rebanho. Identificar padrões e possíveis fatores de risco pode ser determinante para minimizar perdas.
Algumas características podem indicar um quadro de morte súbita, como:
- Perda repentina de vários animais sem histórico de doenças prévias;
- Sintomas discretos, como febre alta, comportamento apático ou dores intensas;
- Evolução silenciosa da enfermidade, tornando sua detecção difícil;
- Manifestações clínicas extremamente rápidas, passando despercebidas e dando a impressão de que o gado morreu sem qualquer sinal anterior.
Diante desse cenário, conhecer os fatores que desencadeiam essas mortes e aplicar medidas preventivas são atitudes fundamentais para a proteção do rebanho e a sustentabilidade da produção pecuária.
Principais fatores associados à morte súbita em bovinos
As mortes súbitas no rebanho costumam estar ligadas a fatores inesperados e agentes externos. No entanto, um manejo preventivo pode reduzir consideravelmente o risco de algumas dessas ocorrências. Monitorar a saúde do gado e adotar boas práticas nutricionais e sanitárias são medidas essenciais para minimizar perdas.
Entre os principais motivos que podem levar a esse tipo de fatalidade, destacam-se:
- Ingestão de plantas altamente tóxicas, que afetam o metabolismo do animal de maneira rápida e severa;
- Exposição a organofosforados, substâncias amplamente utilizadas no controle de pragas e parasitas, podendo causar intoxicação letal se mal administradas;
- Desequilíbrios nutricionais, tanto por deficiências quanto por excessos, que podem desencadear reações adversas graves;
- Infecções por bactérias do gênero Clostridium, responsáveis por doenças como o botulismo e a enterotoxemia, que liberam toxinas fatais;
- Doenças infecciosas agressivas, como o antraz, que pode levar à morte em um curto intervalo de tempo.
A compreensão dessas causas permite uma abordagem mais estratégica para evitar perdas inesperadas no rebanho. A seguir, apresentamos uma análise técnica sobre cada um desses fatores e como agir para reduzir seus impactos na produção pecuária.
Botulismo em bovinos: o que é e como prevenir
O botulismo é uma enfermidade causada por uma potente neurotoxina produzida pela bactéria Clostridium botulinum. Embora não seja contagiosa, essa doença representa um sério risco para os rebanhos, sendo responsável por surtos frequentes que podem gerar grandes prejuízos aos pecuaristas.
A contaminação ocorre, geralmente, por meio da ingestão de água ou alimentos contaminados com a toxina. Ambientes com pouca oxigenação, matéria orgânica em decomposição, fontes de água estagnada e restos de carcaças de animais mortos são condições ideais para a proliferação da bactéria. Além disso, alimentos fermentativos, como silagem mal armazenada, também podem representar um perigo.
Estratégias de prevenção
A maneira mais eficaz de evitar o botulismo no rebanho é por meio da vacinação, aliada a práticas de manejo adequadas. Para reduzir o risco de contaminação, é essencial garantir que os animais tenham acesso a água de qualidade e alimentos bem conservados. Monitorar constantemente as áreas de pastagem e armazenar corretamente a silagem são medidas fundamentais para manter a sanidade do rebanho e evitar perdas inesperadas.
Riscos das clostridioses no rebanho
As enterotoxemias são infecções intestinais causadas pela bactéria Clostridium perfringens, um microrganismo presente em ambientes com baixa oxigenação. Essa bactéria encontra condições favoráveis para se proliferar na alimentação dos bovinos, especialmente quando há grande oferta de grãos na dieta.
A principal ameaça das enterotoxemias está na rapidez com que a doença se manifesta e evolui. Os sintomas costumam ser graves, e a taxa de mortalidade entre os animais afetados é elevada, tornando esse problema uma grande preocupação para os pecuaristas.
Como prevenir?
A vacinação é a estratégia mais eficiente para evitar surtos dessa enfermidade, sendo especialmente indicada antes do período de confinamento. Além disso, oferecer uma dieta balanceada, que inclua grãos e fibras de qualidade, é essencial para manter a saúde intestinal dos animais e reduzir os riscos de infecção. Um manejo nutricional adequado pode fazer toda a diferença na proteção do rebanho contra essa ameaça silenciosa.
Risco de morte súbita em ruminantes: o perigo das plantas tóxicas
A ingestão de plantas tóxicas figura entre as principais causas de morte repentina em bovinos e outros ruminantes mantidos em sistemas de pastejo. Substâncias presentes nessas plantas agem rapidamente no organismo dos animais, comprometendo o funcionamento do sistema nervoso, do coração e de órgãos vitais.
Dentre as espécies vegetais associadas a esses quadros fatais, destacam-se:
- Palicourea marcgravii – popularmente conhecida como cafezinho, roxa, erva-de-rato, café-bravo, erva-café ou vick;
- Mascagnia rigida – chamada de timbó, quebra-bucho, tingui, rama-amarela, salsa-rosa, suma-branca ou suma-roxa;
- Amorimia pubiflora – conhecida por nomes como corona e cipó-prata;
- Arrabidaea japurensis – referida como gibata ou chibata, comum na região Norte do Brasil;
- Pseudocalymma elegans – um cipó da família Bignoniaceae, cujos nomes populares são pouco difundidos.
Para evitar perdas no rebanho, é essencial monitorar a área de pastagem, identificando e eliminando possíveis ameaças vegetais. Se houver registros de mortes inexplicadas, uma inspeção minuciosa do ambiente deve ser realizada.
O conhecimento sobre as espécies tóxicas presentes na propriedade é um passo crucial para a prevenção. Medidas como o controle rigoroso da vegetação e a educação continuada da equipe ajudam a minimizar os riscos e garantem a segurança dos animais.
O perigo do uso inadequado de organofosforados
Outra ameaça que pode comprometer a saúde do rebanho é o uso inadequado de organofosforados, substâncias amplamente empregadas tanto no controle de parasitas em bovinos quanto como pesticidas em lavouras.
Esses compostos apresentam alta toxicidade, inclusive para os seres humanos. Segundo um estudo publicado na revista Archives of Veterinary Science, com base em dados da Organização Mundial da Saúde, os organofosforados estão entre os principais responsáveis por casos de intoxicação e morte no Brasil.
No manejo de bovinos, a pulverização com esses produtos visa combater parasitas, prevenindo doenças. Contudo, o uso excessivo pode ter consequências fatais. Muitos criadores, na tentativa de erradicar rapidamente os parasitas, acabam administrando dosagens superiores às recomendadas, aumentando consideravelmente o risco de intoxicação e morte súbita dos animais.
Como garantir um uso seguro?
A capacitação da equipe envolvida no manejo também desempenha um papel fundamental na prevenção de intoxicações. Seguir protocolos adequados protege não apenas o rebanho, mas também os profissionais que lidam com esses produtos no dia a dia.
A Relação entre a nutrição animal e casos de morte súbita
A alimentação do gado desempenha um papel fundamental na saúde e no desenvolvimento dos animais. Quando erros na dieta ocorrem, o impacto pode ser grave, resultando em doenças e, em alguns casos, até mesmo em morte súbita. Compreender esses riscos e adotar medidas preventivas é essencial para a segurança do rebanho.
Deficiência de cobre: Um perigo invisível
A insuficiência de cobre na dieta bovina pode desencadear uma série de complicações, muitas vezes silenciosas e fatais. Solos com alto teor de ferro, especialmente em regiões arenosas ou submetidas a irrigação intensa, podem dificultar a absorção desse mineral pelas plantas, gerando deficiência nos animais que consomem pastagem.
Escrito por Compre Rural
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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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