O trigo disparou por sete meses ininterruptos desde o fim de maio e registrou mais dois meses de valorização no ano
A corrida no mercado de grãos está acirrada em sua reta final, com dois dos seus três principais competidores lutando pelo título. Tanto milho quanto o trigo acumulam alta de mais de 21% no ano e disputam quem vai ficar com o posto mais alto do mercado em 2021.
Quem está atrás nessa corrida é a soja, terceiro principal componente do mercado agrícola, que registra queda de mais de 4% no ano.
A trajetória ascendente do trigo e do milho no segmento não poderia ter sido diferente.
O trigo disparou por sete meses ininterruptos desde o fim de maio e registrou mais dois meses de valorização no ano, em meio à produção restrita dessa commodity que é usada para confeccionar produtos básicos, como pão, pasta e cereal.
Os ganhos do milho, por outro lado, foram distribuídos ao longo de oito meses do ano. Faltando pouco menos de duas semanas para o fim do ano, qualquer uma dessas commodities pode assumir a liderança definitiva. No entanto, neste momento, nenhuma demonstra qualquer desaceleração na demanda.
E ambas contam com o suporte de tensões envolvendo a Ucrânia e a Rússia, terceiro maior país produtor de trigo.
“O trigo está subindo devido a tensões geopolíticas”, afirmou Jack Scoville, analista-chefe de mercados agrícolas do Price Futures Group, de Chicago.“O mercado está apreensivo com o acúmulo de tropas russas ao longo da fronteira da Ucrânia e teme o irrompimento de uma guerra”, complementou Scoville.
“Uma guerra entre esses dois países poderia ter graves repercussões para o mundo do trigo, já que ambos são produtores e exportadores”.
Scoville disse ainda que também havia sinais de que os Estados Unidos, quarto maior país produtor de trigo, registraria um forte aumento de demanda neste ano, já que o resto do Hemisfério Norte estava carente de produção.
“Até agora, a demanda norte-americana tem ficado na média dos anos anteriores”, explicou Scoville. “Os volumes de oferta caíram tanto na Rússia quanto na Europa, embora haja rumores que a produção russa tenha aumentado.”
“O clima seco na região sul da Rússia, bem como no norte das Grandes Planícies dos EUA e pradarias do Canadá causou uma redução considerável da produção, o que está dando suporte ao mercado. A falta de produção gerou escassez de oferta no mundo, e a Rússia pretende anunciar cotas de produção em breve para o próximo ano. A Rússia já subiu as tarifas de exportação para controlar o fluxo de remessas de trigo para fora do país”.
Quanto à Austrália, a qualidade da sua safra parece ter caído por causa do excesso de chuvas, embora as condições no país estejam mais secas.
“Esses movimentos internacionais devem aumentar a demanda pelo trigo norte-americano”, ressaltou Scoville, prevendo resistência entre US$7,11 e 7,51 por bushel de trigo negociado em Chicago, com suporte de preços a partir de US$7,68.
O trigo futuro nos EUA atingiu a máxima de nove anos de US$8,63 em novembro e é negociado atualmente na casa dos US$7,76.
No caso do milho, as ofertas também estavam relativamente escassas nos EUA, maior produtor mundial, com a colheita praticamente terminada, mas não disponibilizada para venda.
“A demanda tem sido boa até agora nesta estação, mas grande parte dos negócios foi para a Ucrânia”, afirmou Scoville, que disse ainda:
“Isso deve mudar no inverno, já que as ofertas exportáveis da Ucrânia começam a cair. Isso pode mudar ainda mais se a Rússia invadir o país no futuro”.
A Price Futures prevê resistência no milho americano em US$5,90, 5,94, e 5,97 por bushel e suporte nos níveis de US$5,82, 5,76 e 5,72.
O milho futuro nos EUA atingiu as máximas de 10 anos de US$7,75 em maio e atualmente é negociado abaixo de US$5,90.
Fonte: Abitrigo