Mercado de capitais avança no Agro

O volume financeiro do setor no mercado de capitais cresceu 36% entre dezembro de 2022 e dezembro de 2024, subindo de R$ 397 bi para R$ 540 bi.

Nos últimos anos, o mercado de capitais consolidou-se como uma fonte relevante de captação de recursos financeiros para o setor agropecuário.

Conforme dados divulgados pela 9ª edição do Boletim CVM do Agronegócio, o volume financeiro do setor no mercado de capitais cresceu 36% entre dezembro de 2022 e dezembro de 2024, subindo de R$ 397 bi para R$ 540 bi. Este aumento representa mais do que o dobro do crescimento do volume financeiro total do mercado de capitais no mesmo período, considerando todos os setores e atividades econômicas, que subiu 17% (R$ 13,1 tri para R$ 15,3 tri).

Os impactos do tarifaço no agronegócio responsável

No consolidado do volume financeiro, a fatia que o agronegócio corresponde dentro do mercado de capitais aumentou cerca de 16% no período.

O crescimento foi impulsionado, sobretudo, pelos dois principais produtos financeiros voltados ao setor: os Fundos de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais (Fiagro) e os Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA). Entre dezembro de 2022 e dezembro de 2024, o patrimônio líquido dos Fiagros cresceu 315%, saltando de R$ 10,5 bilhões para R$ 43,7 bilhões. Já o mercado de CRA expandiu 60%, passando de R$ 95,6 bilhões para R$ 153,5 bilhões.

No caso do CRA, vale destacar que 91% dos recursos captados foram destinados ao financiamento de produtos agropecuários, sendo 49% voltados à atividade de produção (especialmente grãos e pecuária), 25% comercialização e o restante beneficiamento e industrialização.

O principal tomador de recursos no CRA, dentre os diferentes participantes da cadeia do agro, foi o produtor rural (48% do total), seguido pelo terceiro comprador, terceiro fornecedor, cooperativas, híbridos e outros, nesta ordem. Além disso, 88% das emissões do período possuem prazo de vencimento de 3 a 10 anos, e 57% utilizam o IPCA como índice de remuneração.

O avanço do mercado de capitais no agronegócio reflete a evolução dos produtos financeiros voltados à sua cadeia produtiva, que, impulsionados pelos esforços do próprio setor agropecuário, da CVM e de outros agentes de mercado, tornam-se cada vez mais adaptados às particularidades do agro e alinhados às necessidades dos emissores.

Em 2024, por exemplo, a CVM priorizou a regulamentação específica do Fiagro em sua agenda regulatória. Até então, esses fundos operavam sob normas transitórias baseadas em regras de outros fundos. Com ampla participação dos agentes do mercado e do setor por meio de consulta pública, a CVM consolidou regras próprias para o Fiagro, conferindo maior segurança e previsibilidade ao mercado.

Da mesma forma, com o amadurecimento do CRA e o aprimoramento do conhecimento dos gestores e agentes de mercado sobre as particularidades do setor – como sazonalidades, necessidades e desafios –, esses instrumentos financeiros passaram a ser estruturados de maneira mais adequada do que em sua instituição, em 2004.

Paralelamente, o agronegócio segue em busca de maior produtividade e eficiência, impulsionado por avanços tecnológicos, melhores práticas de gestão e novas oportunidades de mercado. Nesse contexto, a sofisticação, diversificação e estruturação de fontes de financiamento tornam o mercado de capitais uma alternativa estratégica.

Em contrapartida, o mercado exige das empresas maior governança e transparência na divulgação de informações, promovendo disciplina e eficiência. Esse processo tem reflexos diretos na produtividade e no retorno sobre o investimento, gerando mais empregos, renda, investimentos e crescimento econômico.

Dado o caráter intensivo de capital do agronegócio — seja para aquisição de insumos, modernização tecnológica, infraestrutura, inovação ou aumento da produtividade —, as linhas de crédito tradicionais já não são a única opção de financiamento. O mercado de capitais se posiciona, assim, como um caminho complementar e estratégico para a contínua sofisticação e desenvolvimento do setor.

Autor: Pedro Saad Abud, especialista em M&A e fundos de investimentos do escritório Abe Advogados.

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ℹ️ Conteúdo publicado por Myllena Seifarth sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira

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