Mangalarga vs. Mangalarga Marchador: o duelo que confunde até quem é do meio

Entenda como uma única linhagem deu origem a duas raças com identidades próprias e objetivos bem diferentes; Descubra como identificar o Mangalarga e o Mangalarga Marchador.

No universo dos cavalos Brasileiros, poucos temas geram tanta confusão quanto a diferença entre o Mangalarga e o Mangalarga Marchador. Apesar da semelhança nos nomes, essas duas raças têm histórias, características e aptidões bastante distintas. Para criadores, compradores e amantes da equinocultura, entender essas diferenças é essencial para fazer escolhas acertadas, seja para lida no campo, cavalgadas ou competições. Saber o que cada raça oferece pode influenciar diretamente nos resultados de manejo, desempenho e até rentabilidade do plantel.

É comum que produtores iniciantes confundam as duas raças ou até adquiram um animal pensando ser de uma linhagem quando, na verdade, pertence a outra. Isso pode gerar frustrações e perdas financeiras, principalmente quando o uso pretendido não é compatível com as aptidões da raça adquirida. Por isso, este guia do Compre Rural vai destrinchar as principais diferenças para que você saiba exatamente o que observar e como escolher o cavalo ideal para o seu objetivo.

Uma mesma raiz, dois caminhos distintos

Tanto o Mangalarga quanto o Mangalarga Marchador têm origem comum: os cavalos da Coudelaria Imperial, fundada por Dom Pedro I, e o cruzamento de cavalos Alter-Real portugueses com éguas da raça local, em fazendas do sul de Minas Gerais. O nome “Mangalarga” vem da Fazenda Mangalarga, de propriedade da família Junqueira, onde esses animais se destacaram por sua beleza, resistência e andamento confortável.

A divisão começou a se consolidar por volta da década de 1940, quando parte dos criadores passou a selecionar os animais com base no trote marchado — surgindo o Mangalarga — enquanto outro grupo manteve a marcha batida e a picada como padrão desejado, dando origem ao Mangalarga Marchador. Esse desmembramento culminou na criação de duas associações distintas: a ABCCRM (Associação Brasileira dos Criadores de Cavalos da Raça Mangalarga) e a ABCCMM (Associação Brasileira dos Criadores do Cavalo Mangalarga Marchador), oficializando a separação entre as raças e os critérios de seleção de cada uma.

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Foto: Divulgação

Diferenças morfológicas

O Mangalarga possui uma morfologia mais voltada ao perfil esportivo. É um cavalo de porte médio a grande, com estatura média de 1,60 m, tórax profundo e garupa levemente inclinada. A musculatura é bem desenvolvida, com peito largo e pescoço bem inserido, conferindo elegância e potência ao animal. A cabeça tende a ser retilínea e mais curta, com expressão atenta e orelhas pequenas e móveis. Essa conformação favorece o desempenho em provas de resistência e esportes equestres.

Já o Mangalarga Marchador apresenta corpo mais compacto e harmônico, com estatura variando entre 1,45 m e 1,55 m, mais baixo que o Mangalarga tradicional. Seu tronco é robusto, as patas fortes e bem aprumadas, com cascos duros — características que lhe garantem desempenho notável em terrenos acidentados e longas cavalgadas. A cabeça é levemente subconvexa, com olhos expressivos e perfil marcante. A morfologia do Marchador é cuidadosamente selecionada para favorecer o andamento típico da raça: a marcha.

Marcha x trote

A diferença mais marcante entre as raças está no tipo de andamento. O Mangalarga é conhecido por sua aptidão para o trote marchado, uma variação do trote convencional que oferece mais estabilidade, mas ainda assim com momentos de suspensão, o que pode gerar certo impacto na montaria. Esse tipo de andamento é valorizado em competições de equitação clássica e provas de marcha marchada, sendo ideal para cavaleiros que buscam desempenho em esportes equestres ou longas cavalgadas com ritmo mais cadenciado.

Já o Mangalarga Marchador é mundialmente conhecido pela sua marcha — dividida em dois tipos: picada e batida. A marcha batida possui maior número de apoios triplos, garantindo suavidade sem perder a velocidade, enquanto a marcha picada é extremamente confortável por ter mais momentos de apoio lateral, eliminando o impacto vertical. Estima-se que 70% dos Marchadores registrados atualmente sejam de marcha batida. Essa característica torna o Marchador uma das raças mais indicadas para cavalgadas de longa distância, principalmente em terrenos irregulares, como trilhas e zonas de mata.

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Foto: Divulgação

Finalidades distintas: da lida ao lazer

Na prática, o Mangalarga é amplamente utilizado em atividades esportivas e em provas funcionais, como salto, adestramento e até enduro equestre, devido à sua estrutura atlética e resistência física. Também tem presença garantida em eventos de raça e exposições, onde se destacam sua elegância e movimentação. Criadores que visam performance técnica e versatilidade encontram no Mangalarga um animal competitivo e com forte apelo estético.

O Mangalarga Marchador, por sua vez, é o queridinho das cavalgadas de longa distância e da lida no campo. Sua marcha proporciona extremo conforto ao cavaleiro, mesmo após horas de montaria, o que o torna ideal para fazendeiros, tropeiros e amantes de cavalgadas turísticas. No campo, sua rusticidade e docilidade fazem dele um parceiro confiável para conduzir o gado ou percorrer grandes extensões. Em regiões montanhosas e de solo acidentado, o Marchador é quase insubstituível.

Valor de mercado, demanda e genética

O valor de um exemplar de cada raça pode variar amplamente conforme linhagem, andamento e desempenho em pista. No caso do Mangalarga Marchador, animais de elite já ultrapassaram a casa dos R$ 500 mil em leilões. Segundo dados da ABCCMM, a raça movimenta mais de R$ 300 milhões por ano apenas em leilões oficiais. Há uma demanda constante por reprodutores, matrizes e embriões, especialmente em regiões como Minas Gerais, Bahia, São Paulo e Espírito Santo.

O Mangalarga também tem mercado sólido, mas sua comercialização é mais concentrada entre criadores voltados a esporte e exposições. O preço médio de um exemplar varia entre R$ 20 mil e R$ 150 mil, dependendo do grau de treinamento, linhagem e idade. A raça investe fortemente em programas de melhoramento genético, com foco na seleção de animais com trote marchado limpo e padrão morfológico rigoroso. Ainda que menos popular em números absolutos que o Marchador, o Mangalarga vem crescendo em valorização e reconhecimento técnico nos últimos anos.

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Foto: Divulgação

O papel das associações e padrões de seleção

A ABCCMM (Associação Brasileira dos Criadores do Cavalo Mangalarga Marchador) conta com mais de 18 mil criadores registrados e supervisiona um rebanho superior a 700 mil animais em todo o Brasil. A entidade organiza exposições, cursos técnicos, leilões oficiais e promove campanhas de incentivo à raça. Seu rígido processo de registro garante que apenas animais com marcha típica e genealogia comprovada sejam aceitos, mantendo a pureza e a excelência do Marchador.

Do outro lado, a ABCCRM (Associação Brasileira dos Criadores de Cavalos da Raça Mangalarga) atua na padronização e valorização da raça original, com foco na funcionalidade, morfologia e trote marchado. A associação mantém um banco genético atualizado, realiza provas de andamento e promove o intercâmbio entre criadores. Ambas as instituições desempenham papel fundamental na preservação das características desejáveis de suas raças, oferecendo suporte técnico e garantindo a credibilidade do mercado.

Qual raça escolher? Depende do seu objetivo

CaracterísticaMangalargaMangalarga Marchador
OrigemDerivado da Coudelaria Imperial e selecionado para o trote marchadoTambém oriundo da Coudelaria Imperial, mas focado na marcha batida e picada
Estatura média1,60 m — porte médio a grande1,45 m a 1,55 m — mais compacto
MorfologiaPerfil atlético, esportivo, com garupa inclinada e musculatura desenvolvidaCorpo robusto, harmônico, cascos duros e estrutura ideal para longas cavalgadas
CabeçaRequintada, retilínea, com orelhas pequenas e atentasLevemente subconvexa, com olhos expressivos e perfil marcante
AndamentoTrote marchado, com momentos de suspensão e ritmo mais cadenciadoMarcha batida ou picada, extremamente confortável e sem impacto vertical
Finalidade principalProvas esportivas, salto, adestramento, enduro e exposiçõesCavalgadas, lida no campo, turismo e trilhas
Conforto da montariaModerado — mais voltado à performanceAlto — ideal para longas distâncias e terrenos irregulares
Valor de mercadoR$ 20 mil a R$ 150 mil, com foco em esportes e belezaDe R$ 30 mil a mais de R$ 500 mil, com grande movimentação em leilões

Se o seu foco é participar de cavalgadas, trabalhar na fazenda com conforto ou realizar cavalgadas turísticas com clientes exigentes, o Mangalarga Marchador provavelmente é a melhor escolha. Sua marcha suave, resistência e temperamento dócil se alinham perfeitamente com essas finalidades.

Já se a intenção é atuar em competições esportivas, salto ou provas de resistência, ou mesmo investir em um cavalo com apelo estético mais atlético, o Mangalarga tradicional se mostra uma opção mais adequada.

A decisão também pode ser influenciada por fatores regionais. Em Minas Gerais, por exemplo, o Marchador domina as trilhas e cavalgadas, enquanto em São Paulo, criadores de Mangalarga têm investido cada vez mais em animais para exposição e enduro. A chave está em entender suas necessidades, o tipo de atividade que pretende realizar com o animal e, claro, buscar criadores confiáveis e reconhecidos pelas respectivas associações. Um bom animal começa com uma boa escolha.

Escrito por Compre Rural

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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira

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