Lebrão invade lavouras no Brasil e causa prejuízos de até R$ 15 bilhões

Os dados fazem parte de um relatório inédito que aponta prejuízos nacionais de até R$ 15 bilhões anuais com espécies exóticas vindas do mundo todo; Neste caso, o Lebrão vem invadindo lavouras em todo o país e gerado temor no campo.

A lebre-europeia, popularmente chamada de lebrão, está se tornando um dos maiores vilões do campo brasileiro. Com reprodução acelerada, alto poder de destruição de lavouras e pouco controle oficial, a espécie invasora já ocupa grandes áreas agrícolas, trazendo prejuízos estimados em quase R$ 15 bilhões ao ano — valor atribuído às 476 espécies exóticas invasoras no país, segundo estudo da Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (BPBES).

Originário da Europa, o Lepus europaeus chegou ao continente sul-americano no século XIX, se adaptou ao Pampa uruguaio e hoje avança rapidamente por diversos biomas brasileiros. Atualmente, a espécie já está disseminada nos estados do Sul, em São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Goiás e Bahia, com risco de alcançar o Nordeste pela bacia do Rio São Francisco.

Seu poder de reprodução impressiona: são duas gestações por ano, com até 9 filhotes por ninhada, o que acelera sua dispersão em até 45 km por ano. Com hábitos noturnos e saltos que podem atingir velocidades de até 60 km/h, o lebrão é quase impossível de capturar com armadilhas convencionais ou barreiras simples como cercas.

No Sul de Santa Catarina, produtores rurais perderam safras inteiras de frutas, feijão e milho. Em Meleiro (SC), por exemplo, 800 dos 2.400 pés de maracujá de um agricultor foram destruídos. Tentativas com cercas elétricas, luzes automáticas e repelentes naturais mostraram-se ineficazes. “Em poucos dias, o lebrão se adaptava e voltava”, relatou o produtor Marlon Schuvartz.

Ainda em 2020, o Compre Rural foi pioneiro e já denunciava o avanço dessa espécie no campo. Os danos, já relatados por diversos produtores do Brasil, desde o Sul até o Centro-Oeste, foram relatados e apontados. Equiparado com a destruição causada pelos javalis e seus cruzamentos, o Lebrão é um praga que precisa ser controlado de forma rápida, é uma questão de segurança alimentar mundial.

Críticas à burocracia e à omissão oficial

Para o engenheiro agrônomo Rafael Salerno, presidente da associação Aqui Tem Javali, o problema vai além dos campos invadidos: “Por falta de ação e omissão dos órgãos ambientais, o lebrão se espalha livremente, assim como outras espécies exóticas, enquanto o controle é burocratizado e restringido por normas ultrapassadas”, afirma.

Ele defende que, assim como ocorre com o javali, o controle por meio da caça regulamentada é a medida mais eficaz e econômica, já adotada em diversos países há séculos. “O Brasil não vai reinventar a roda em 2025. A caça é a única saída para conter esse avanço”, destaca.

O Brasil não vai reinventar a roda em 2025. A caça é a única saída para conter esse avanço”, destaca.

Falta de políticas e lacunas legais

Apesar do impacto econômico e ambiental, não há uma política nacional consolidada para conter espécies invasoras como o lebrão. O estudo da BPBES aponta que ações de controle ocorrem de forma pulverizada, sem articulação entre os entes federativos e com instrumentos legais subutilizados.

Vice-presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de Santa Catarina (FETAESC), Luiz Sartor avalia que as medidas usadas pelos produtores atenuam apenas temporariamente os estragos. “Faltam soluções efetivas para os problemas causados pelo lebrão”, reclama. A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) não atendeu aos nossos pedidos de entrevista até o fechamento da reportagem, informou matéria publicada pelo Portal OECO

Além disso, há uma contradição nas políticas públicas, que em alguns casos ainda incentivam o uso de espécies sabidamente invasoras, como a tilápia e o pínus.


Resumo dos impactos do lebrão no agro brasileiro:

  • Prejuízos anuais estimados com espécies exóticas invasoras no Brasil: quase R$ 15 bilhões
  • Estados já afetados: SC, PR, RS, SP, MG, MS, GO, BA
  • Velocidade de dispersão: até 45 km por ano
  • Velocidade máxima: até 60 km/h
  • Reprodução: até 18 filhotes por ano por fêmea
  • Técnicas convencionais de controle: pouco eficazes
  • Medidas sugeridas: caça controlada e regulamentada, reavaliação da legislação ambiental e criação de política nacional de controle

O avanço do lebrão não é apenas um problema agrícola, mas também ambiental e legislativo. A falta de ação coordenada e a burocracia para autorizar o controle efetivo da espécie agravam o cenário, enquanto milhares de produtores seguem arcando com prejuízos crescentes. A adoção de políticas públicas claras, com base em evidências científicas e experiências internacionais, é urgente para evitar que a invasão se torne irreversível.

Quer ficar por dentro do agronegócio brasileiro e receber as principais notícias do setor em primeira mão? Para isso é só entrar em nosso grupo do WhatsApp (clique aqui) ou Telegram (clique aqui). Você também pode assinar nosso feed pelo Google Notícias.

Siga o Compre Rural no Google News e acompanhe nossos destaques.
LEIA TAMBÉM