Conheça o touro que mudou a história da pecuária do Brasil

O genearca Karvadi foi introduzido no Brasil em 1963 pelo selecionador Torres Homem Rodrigues da Cunha; veja porque ele virou peça de museu

Se partirmos da lógica que a raça Nelore começou do zero no Brasil, e que, a partir da importação de animais da raça originalmente da Índia, nós tivemos uma expansão colossal do rebanho e que hoje temos cerca de 235 milhões de cabeças de gado, maior rebanho comercial bovino do mundo, e 80% desse total é Nelore, é preciso reconhecer que um touro mudou a história da pecuária brasileira. Esse touro é Karvadi.

Sua linhagem está presente em praticamente todo o rebanho Nelore do país, para se ter uma ideia, ele é pai de Chummak e Dumu, é avô de Gim e bisavô de Ludy de Garça, que gerou tantos outros de tantas qualidades tipo Taju, Bitelo SS, Panagpur que concebeu Enlevo e assim por diante. Só aí já percebemos sua relevância, Karvadi mudou a genética do Nelore brasileiro.

Segundo dados da diretoria da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ), dos 15 milhões de animais registrados como puros de origem, 13 milhões têm Karvadi no pedigree.

O genearca Karvadi foi introduzido no Brasil em 1963 pelo selecionador Torres Homem Rodrigues da Cunha. Foi um animal que, segundo seu proprietário, apresentava uma excelente caracterização racial, alta fertilidade, ossatura robusta dentre outras características desejáveis.

Enquanto estava vivo, era conhecido mundialmente como um super campeão da raça na Índia, nos torneios de puxar pedras. Na tentativa de aproveitar substancialmente as características zootécnicas deste animal que já chegara da Índia com 11 anos de idade, foi inaugurado em 1968, na Fazenda Santa Cecília, um serviço de coleta de sêmen. A partir de então, Karvadi foi intensamente utilizado, deixando um grande número de descendentes.

Ao analisar o estado da arte da raça Nelore no Brasil, observamos vários períodos de evolução e desenvolvimento incomuns, fruto de um casamento perfeito entre raça e ambiente.

Entretanto, os primeiros animais da raça foram trazidos por Manoel Lemgruber em 1878, impressionado com a força e rusticidade dos animais, até as mais importantes importações de 1960 e 1962 que transformou de vez a pecuária brasileira. Podemos citar também a raça criada por brasileiros, o InduBrasil, que serviu de marketing para o Nelore lá no início do século passado. O Indubrasil foi, sem dúvida, o grande “relações públicas” do Zebu. Ele abriu fronteiras pelo seu biotipo tropical.

No Brasil, Karvadi viveu em Araçatuba (SP) até 1972, quando, aos 17 anos, sem conseguir se sustentar sobre as próprias pernas, precisou ser sacrificado. O animal foi embalsamado na Inglaterra como um faraó egípcio, e hoje está exposto no Museu do Zebu, em Uberaba (MG), onde é a maior atração para os cerca de 40 mil visitantes anuais.

Genearca Karvadi - touro nelore
Foto: ABCZ

“Sangue real” está presente na dupla mais cara do Nelore na atualidade. Tanto Carina FIV do Kado, avaliada em cerca de R$ 24 milhões, e Viatina-19, avaliada em R$ 21 milhões, tem o sangue do indiano lendário.

genearca da raca nelore Karvadi IMP
Genearca Karvadi IMP

Por que Karvadi teve tanto destaque?

É comum entre vários selecionadores e técnicos que trabalham com a raça Nelore dizer que Karvadi representa, até hoje, o ideal do padrão do nelore em todas as características raciais e funcionais. Ele tinha um aparelho reprodutor perfeito, eficiência na monta, altura e aprumo correto (mesma distância entre os membros inferiores e posteriores, formando um retângulo perfeito). As filhas de Karvadi, de alta fertilidade e habilidade materna, foram responsáveis pela base genética de vários rebanhos.

A história foi escrita, Karvadi sempre se destacou em produzir grandes filhos, inclusive o grande 1º Grande Campeão da Expoinel. Em 1972, houve a realização da I Exposição Internacional de Nelore (Expoinel). O Evaru da SC, mesmo mais jovem que seus oponentes, superou Dumu consagrando-se o primeiro Grande Campeão Nacional da raça Nelore na Expoinel. Evaru é um dos grandes filhos do Karvadi, tornando-se um dos grandes raçadores de sua geração e formador de linhagem, marcando época no Nelore.

Sêmen de Karvadi é usado até hoje

O pecuarista Paulo Leonel, que cria gado puro e comercial em suas fazendas em Nova Crixás (GO) e Ribeirão Preto (SP), ainda mantém e usa o sêmen congelado de Karvadi. “Comprei as doses da VR do senhor Torres há muitos anos. Faço crias todo ano desse touro, que é o Pelé da raça. Tenho dois filhos de Karvadi na Central de Inseminação Bela Vista e várias filhas na minha fazenda”, diz o pecuarista.

O pai de Paulo Leonel, Adir do Carmo Leonel (in memoriam), sempre foi um dos principais defensores do Karvadi, muito pela questão da pureza racial. Grande líder e referência em melhoramento genético, produção de qualidade e diversificação, Seu Adir aprendeu que esse trabalho só é possível com pureza racial.

Assim, especializou-se na criação extensiva, fazendo o ciclo completo de cria, recria e engorda, mas dedicou-se especialmente à seleção genética, resgatando linhagens puras e pautando seu trabalho no compromisso de oferecer ao mercado uma genética diferenciada, criada e selecionada a pasto.

Em seus 25 anos de atuação como jurado nas pistas de todo Brasil, defendeu a pureza racial e a produtividade, como características fundamentais na formação e na transformação de plantéis.

Foi o olhar apurado para reconhecer animais excepcionais, que o fez conceder os primeiros campeonatos para raçadores como Chummak, Gangayah do Brumado, Inca, Vassuveda, e Ludy de Garça, dentre outros.

Esses animais nortearam os rumos da seleção genética da raça Nelore do Brasil, que hoje colhe os frutos deste trabalho, já que o País alcançou o status de um dos maiores players globais em produção de proteína animal, abastecendo mais de 150 países em todo o globo terrestre.

Paulo Leonel segue os passos do pai, dando continuidade à seleção de animais puros, tem ainda oito doses do sêmen do Karvadi, volume suficiente para mais de 100 crias do genearca da raça.

Quer ficar por dentro do agronegócio brasileiro e receber as principais notícias do setor em primeira mão? Para isso é só entrar em nosso grupo do WhatsApp (clique aqui) ou Telegram (clique aqui). Você também pode assinar nosso feed pelo Google Notícias

Não é permitida a cópia integral do conteúdo acima. A reprodução parcial é autorizada apenas na forma de citação e com link para o conteúdo na íntegra. Plágio é crime de acordo com a Lei 9610/98.

Siga o Compre Rural no Google News e acompanhe nossos destaques.
LEIA TAMBÉM