Disparada da demanda chinesa e uma substancial redução das despesas financeiras levou a companhia a um lucro líquido recorde de R$ 6,068 bilhões.
A JBS teve o melhor ano de sua história em 2019. A combinação entre o desempenho positivo dos negócios nos EUA, a disparada da demanda chinesa e uma substancial redução das despesas financeiras levou a companhia a um lucro líquido recorde de R$ 6,068 bilhões no ano passado.
Pela primeira vez na história, a JBS ultrapassou a marca de R$ 200 bilhões em receita líquida. No ano passado, a companhia registrou vendas líquidas de R$ 204,5 bilhões, o que representa um crescimento de 12,6% na comparação com o total de R$ 181,7 bilhões reportados em 2018.
O aumento da receita contou com a ajuda do câmbio. Como a JBS obtém a maior parte das receitas no exterior – especialmente nos EUA, país responsável por mais da metade das vendas do grupo –, a valorização do dólar perante o real favorece a companhia.
Na terça-feira, o J. P. Morgan estimou que, para cada valorização de 10% do dólar, o desempenho medido pelo lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) da empesa aumenta 9%.
No ano passado, o Ebitda ajustado da JBS cresceu 33,9%, totalizando R$ 19,8 bilhões. A margem Ebitda ajustada também aumentou, passando de 8,2% em 2018 para 9,7%.
A geração da caixa operacional também foi robusta. No ano passado, o fluxo de caixa operacional empresa chegou a R$ 17,1 bilhões, crescimento de 49,1% na comparação com o desempenho do ano anterior.
Em entrevista ao Valor, o CEO global da JBS, Gilberto Tomazoni, destacou a forte redução do endividamento da companhia, com o pagamento de cerca de US$ 1,5 bilhões em dívidas no ano passado.
“A companhia nunca teve a solidez como tem hoje,tanto do ponto de vista de perfil da dívida quanto do caixa”, afirmou o executivo da companhia.
Com menos despesas com juros, a JBS conseguiu um fluxo de caixa livre de magnitude inédita – foram R$ 9,5 bilhões em 2019.
No balanço divulgado na noite de hoje, a companhia mostrou que, em 31 de dezembro, tinha disponíveis US$ 4,5 bilhões (incluindo recursos do caixa de uma linha de crédito rotativo nos EUA).
No ano passado, a companhia alongou o perfil de vencimento das dívidas, emitindo títulos no exterior ao mesmo tempo em que quitava empréstimos mais caros com bancos. No fim de 2019, o JBS tinha recursos para honrar as amortizações por seis anos e meio.
Além disso, do endividamento de R$ 53 bilhões que a empresa brasileira tinha em 31 de dezembro, somente 3,9% vencia no curto prazo (em até um ano). O índice de alavancagem, que mede a relação entre a dívida líquida e Ebitda, estava em 2,16 vezes — o menor patamar dos últimos anos.
Ao Valor, o vice-presidente de finanças e de relações com investidores da JBS, Guilherme Cavalcanti, acrescentou que, mesmo sem a necessidade de recursos, o grupo decidiu ampliar ainda mais o confortável colchão de liquidez que possui como uma medida de precaução. Segundo ele, a empresa tomou linhas de créditos disponíveis junto a bancos no Brasil e no exterior.
Cavalcanti não revelou quanto a JBS tomou em linhas de créditos no primeiro trimestre, mas disse que a empresa tem disponíveis atualmente mais recursos do que no fim do ano. Isso mesmo quando considerado que o primeiro trimestre é um período de maior consumo de caixa, frisou.
“Todo mundo está sendo mais prevenido. As agências de rating nem consideram incremento de dívida bruta a tomada de linhas de crédito para deixar o caixa mais seguro”, ressaltou o vice-presidente da empresa.
Lucro trimestral quadruplica
O momento favorável para as indústrias de carne bovina nos Estados Unidos, com ampla oferta de gado e demanda aquecida, e a maior necessidade de importações da China impulsionaram o desempenho da JBS no quarto trimestre do ano passado.
A companhia teve lucro líquido de R$ 2,4 bilhões no período. Trata-se de um resultado mais de quatro vezes superior aos R$ 356,7 milhões registrados pela JBS no mesmo intervalo do ano anterior.
No quarto trimestre, a receita líquida da JBS totalizou R$ 57,1 bilhões, crescimento de 20,7% na comparação anual.
O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) ajustado aumentou 67,2% na comparação com o quarto trimestre de 2018, chegando a R$ 5,6 bilhões. Com isso, a margem Ebitda ajustada aumentou 2,7 pontos, alcançando 9,9%.
Ao Valor, Tomazoni, argumentou que, a despeito da crise provoca pelo coronavírus, as perspectivas de médio e longo prazo pra a companhia são positivas.
O cenário favorável para o negócio de carne bovina nos Estados Unidos, o mais importante para a companhia, permanece, de acordo com ele.
Além disso, a população segue consumindo alimentos. “Apesar dessa crise que está aí, não temos preocupação com o nosso fluxo de caixa”, ressaltou o executivo.
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Tomazoni frisou, ainda, que a situação de escassez de proteína na China, país cujo plantel de suínos foi seriamente afetado pela epidemia de peste suína africana, também não mudou.
Afora isso, destacou o CEO global da companhia, o país asiático está retomando as compras após o período mais retraído do início do ano, quando sofreu com o coronavírus.
A Grande China (Hong Kong e a China continental) responde por 27% das exportações totais da JBS. A gigante brasileira de carnes exporta bastante para os chineses a partir das suas operações no Brasil e na Austrália.
Fonte: Valor Econômico.