JBS abalou indústria mundial ao anunciar, há três anos, que iria produzir carne sem abater animais

Uma das maiores empresas de alimentos do mundo, a multinacional brasileira JBS, deu mais um passo no sentido de diversificar as alternativas de produção de proteínas ao anunciar, em 2022, que daria início aos investimentos para produzir carne cultivada.

Da multiplicação celular vão sair almôndegas, hambúrgueres e, quem sabe no futuro até mesmo um bife bovino ou um filé de frango. A JBS, uma das maiores empresas de alimentos do mundo, deu um passo revolucionário no setor ao anunciar o desenvolvimento de uma tecnologia inovadora que promete transformar a maneira como a carne é produzida globalmente. Em um comunicado recente [2023], a companhia revelou que está em fase avançada de criação de carne de laboratório, sem a necessidade de abate de animais.

A companhia investirá, em um período de cinco anos – de 2021 até 2025 –, US$ 100 milhões para se tornar uma das principais fabricantes de proteína cultivada do mundo. Parte desse investimento foi para aquisição de controle (51% do capital social) da empresa espanhola BioTech Foods, em 2023, que constrói a maior fábrica do mundo para produção da carne bovina cultivada em San Sebastian, na Espanha, com um aporte de US$ 41 milhões, valor equivalente a mais de R$ 200 milhões. US$ 60 milhões vêm sendo aplicados na construção do JBS Biotech Innovation Center.

“Este avanço tecnológico representa uma mudança de paradigma na indústria alimentícia,” afirmou no último ano Gilberto Tomazoni, CEO Global da JBS. “Estamos comprometidos em atender à crescente demanda por proteínas de maneira sustentável e ética, sem abrir mão da qualidade e do sabor que nossos consumidores esperam.”

A tecnologia, que envolve a reprodução de células animais em condições controladas, possibilita a criação de carne real em ‘biorreatores‘. Esse processo, conhecido como cultivo celular, utiliza apenas uma pequena amostra de células do animal, eliminando a necessidade de criar e abater grandes quantidades de gado. Segundo a JBS, essa inovação não apenas preserva a vida dos animais, mas também reduz significativamente o impacto ambiental da produção de carne.

Foto: Divulgação

Impacto Global e Expectativas

A repercussão do anúncio foi imediata e causou um verdadeiro abalo na indústria global de carnes. Especialistas apontam que essa tecnologia pode redefinir as regras do mercado, especialmente em países onde a pressão por práticas mais sustentáveis é cada vez maior. A carne cultivada representa uma alternativa para atender à crescente demanda por proteínas em regiões com limitações de recursos naturais.

“A produção de carne de laboratório pode ser uma das soluções mais promissoras para os desafios de segurança alimentar e sustentabilidade que o mundo enfrenta,” comentou Daniel Lemos, especialista em sustentabilidade alimentar. “Essa tecnologia pode democratizar o acesso à proteína de alta qualidade, reduzindo os custos ambientais e sociais associados à pecuária tradicional.”

Próximos Passos e Desafios

Apesar do entusiasmo, a JBS reconhece que ainda há desafios a serem superados antes que a carne de laboratório possa ser produzida em larga escala e chegar ao consumidor final. Entre eles estão a redução dos custos de produção e a regulamentação do produto em diferentes mercados. “Estamos trabalhando para tornar essa tecnologia acessível e economicamente viável. Queremos que essa inovação esteja ao alcance de todos,” acrescentou Tomazoni.

A JBS já iniciou a construção de uma fábrica de carne de laboratório na Espanha, prevista para entrar em operação ainda neste ano, conforme comunicado da empresa. Ainda segundo a empresa, a unidade será a maior do mundo em produção de carne cultivada em laboratório. A previsão é que, até meados de 2024, a fábrica seja capaz de produzir mais de mil toneladas de proteína cultivada por ano, podendo expandir sua capacidade para 4 mil toneladas anuais a médio prazo.

carne cultivada em laboratório
Foto: Reprodução/Scot Consultoria

Espera-se que a proteína cultivada ajude a suprir o aumento de 135% na demanda global por proteína até 2050, segundo uma estimativa da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO, na sigla em inglês).

Além disso, a empresa também está investindo na construção de uma unidade no Brasil, destacando a importância do país para o futuro dessa tecnologia. Essa fábrica brasileira será essencial para impulsionar a produção e atender à crescente demanda por proteínas alternativas em um dos maiores mercados consumidores de carne do mundo.

Como é produzida a carne de laboratório

A produção de proteína cultivada envolve um processo científico que se diferencia significativamente dos produtos plant-based, que têm origem vegetal. Em vez disso, a proteína cultivada é desenvolvida a partir de células animais. Os cientistas coletam uma célula de um animal, que pode ser retirada, por exemplo, durante a coleta de sangue, e a cultivam em biorreatores no laboratório.

No caso da carne de frango, uma célula do ovo pode ser usada para iniciar o cultivo. Alimentada com nutrientes e aminoácidos, essa célula se prolifera, produzindo outras células que, ao se agregarem, formam um tecido de carne e gordura. O processo em laboratório, com o uso de biorreatores, visa reproduzir o desenvolvimento natural dos tecidos no organismo animal.

Enquanto na natureza o desenvolvimento completo de um animal pode levar anos, a tecnologia de cultivo de proteína permite que esse processo seja realizado em questão de semanas. A produção começa com a manipulação de células no laboratório e, posteriormente, é ampliada para a escala comercial.

Carne de laboratório é produzida a partir do cultivo de células animais, com o objetivo de reproduzir cores, texturas e sabores da proteína proveniente do abate convencional — Foto: Aleph Farms / Divulgação
Carne de laboratório é produzida a partir do cultivo de células animais, com o objetivo de reproduzir cores, texturas e sabores da proteína proveniente do abate convencional — Foto: Aleph Farms / Divulgação

O Futuro da Indústria de Carne

A JBS e outras empresas do setor de alimentos estão apostando alto na carne cultivada como uma solução para os desafios da segurança alimentar e da sustentabilidade. A JBS se posiciona na vanguarda da tecnologia da proteína cultivada, produto que está em processo constante de inovação.

A expectativa é que, nos próximos anos, a carne de laboratório se torne uma opção cada vez mais presente no mercado, atendendo a consumidores preocupados com o bem-estar animal e o meio ambiente, sem comprometer o sabor e a qualidade da carne tradicional.

Discussão sobre o tema no Brasil

No Brasil, a discussão sobre a carne de laboratório tem ganhado força, trazendo à tona questões sobre riscos e a necessidade urgente de regulamentação. Enquanto a tecnologia promete avanços significativos em sustentabilidade e ética, há preocupações relacionadas à segurança alimentar, impacto econômico na pecuária tradicional e a aceitação do consumidor.

Especialistas alertam que, para que a carne de laboratório seja uma opção viável no mercado, é crucial estabelecer normas regulatórias claras, que garantam tanto a segurança do produto quanto a transparência nos processos de produção. Sem essa regulamentação, o país pode enfrentar desafios em equilibrar a inovação com a proteção dos setores agrícolas e a confiança dos consumidores.

*Conteúdo atualizado as 09:50 e 15:06 de 30/08/2024. A matéria anterior trazia informações sobre uma indústria da BioTech Foods nos EUA, porém a informação correta é que a indústria está localizada em San Sebastian, na Espanha. Também foi retirada parte do texto onde continha a fala do Eduardo Noronha, que não faz mais parte do time da JBS e, além disso, algumas alterações com informações repassadas pela Assessoria de Impressa da empresa.

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