A agricultura brasileira é apontada como líder global no uso de produtos biológicos, principalmente em fomento à adoção de práticas mais sustentáveis.
Em um mundo em constantes transformações, agricultores de diferentes continentes enfrentam desafios comuns, como os crescentes preços dos insumos, o aumento da frequência dos eventos climáticos extremos e a volatilidade nos preços das commodities.
A pesquisa “Global Farmer Insights 2024”, conduzida pela McKinsey & Company junto a 4.400 produtores rurais na Europa (França, Alemanha e Holanda), Índia, América Latina (Argentina, Brasil e México) e América do Norte (Canadá e Estados Unidos), demostra que os agricultores têm uma prioridade comum para o enfrentamento dos desafios: melhorar a produtividade. Para tanto, apostam na adoção de práticas sustentáveis, tecnologias agrícolas, que otimizam as operações nas fazendas, e produtos biológicos.
O relatório da McKinsey & Company enfatiza a tendência global de aumento da adoção do controle biológico de pragas e doenças e de biofertilizantes, principalmente em função dos benefícios de redução de custos, ganho de eficiência na proteção dos cultivos, melhoria da produtividade e incremento da qualidade e saúde do solo.
A agricultura brasileira é apontada como líder global no uso de produtos biológicos, principalmente em função dos programas de pesquisa, desenvolvimento e fomento à adoção de práticas mais sustentáveis desenvolvidos no país nas últimas décadas.
Os produtos biológicos com aplicação na agricultura brasileira incluem várias categorias, como biofertilizantes, biodefensivos, inoculantes e bioestimulantes. Na safra 2023/24, o mercado brasileiro de bioinsumos cresceu 15% em relação à temporada anterior, alcançando um faturamento de R$ 5 bilhões segundo dados da CropLife Brasil.
O Programa Nacional de Bioinsumos, lançado em 2020, foi um importante incentivo para o crescimento do uso de produtos biológicos na agricultura, buscando reduzir a dependência de insumos importados e fomentar a adoção de um manejo mais sustentável na produção agrícola.
Porém, para mais avanços, o setor de biológicos ainda carecia de um marco regulatório mais robusto, o que finalmente foi alcançado no final do ano passado.
Em dezembro de 2024, foi aprovada a Lei nº15.070/2024, que estabelece diretrizes claras para produção, comercialização e uso de produtos biológicos na agricultura brasileira.
O principal avanço é que, a partir de agora, os bioinsumos são reconhecidos como uma categoria própria no aparato legal nacional, o que deve solucionar diversas limitações que dificultavam o enquadramento, o registro e o uso desses produtos no Brasil.
A cafeicultura também deve ser beneficiada por esse novo marco regulatório, pois é um setor que já vinha adotando o manejo biológico de forma crescente. A atratividade dos bioinsumos se deve aos benefícios gerados ao ambiente produtivo, entre eles o maior equilíbrio ecológico da lavoura de café, com impactos positivos no manejo da resistência das pragas aos defensivos convencionais e no aumento de produtividade e qualidade dos frutos.
Além disso, a prática do manejo biológico está alinhada aos anseios dos principais mercados consumidores do café brasileiro, que demandam grãos com menos resíduos de defensivos químicos.
No controle biológico das pragas do café, é bem conhecido o fungo beauveria bassiani, um importante ativo no controle da broca do café e de cochonilhas. Além dele, existem agentes biológicos que são eficazes no controle de ferrugem, nematóides, bactérias patogênicas e diversas outras pragas.
Por exemplo, o uso de predadores naturais é uma das técnicas do manejo integrado para o controle do bicho mineiro. Para tanto, são liberados ovos de crisopídeos na lavoura de café, pois suas larvas se alimentam das larvas do bicho mineiro.
Fungos do gênero Trichoderma auxiliam no controle ferrugem do café (Hemileia vastatrix) e bactérias antagonistas, como Bacillus spp, são aliadas no controle da cercosporiose. Esses e outros agentes biológicos podem ser multiplicados nas propriedades cafeeiras, atendendo a requisitos técnicos, por meio da produção “on farm”, uma tendência na cafeicultura brasileira.
A Lei nº 15.070/2024 também traz mais segurança jurídica a essa prática, pois permite e regulamenta a produção de bioinsumos diretamente nas propriedades rurais, incentivando a autossuficiência dos produtores e a redução de custos.
Para que essa prática seja bem-sucedida, é fundamental que os produtores de café busquem orientação técnica para garantir segurança, sanidade e qualidade na produção “on farm”. A assistência técnica também é importante para garantir o uso correto dos agentes biológicos, pois cada produto tem suas particularidades e deve ser utilizado de forma adequada para garantir sua eficácia e evitar riscos.
Além disso, é importante enfatizar que a utilização de agentes biológicos é parte de um sistema de produção integrado, que envolve outras práticas agrícolas sustentáveis, como o manejo adequado do solo, o uso de variedades resistentes a pragas e doenças, o controle cultural e o químico, com aplicação racional.
Com a crescente demanda do mercado consumidor por produtos mais saudáveis e sustentáveis, os bioinsumos têm se tornado uma ferramenta cada vez mais importante à cafeicultura brasileira, contribuindo para a melhoria da produtividade da lavoura, da qualidade dos grãos e, consequentemente, dos resultados econômicos, com menor impacto ambiental.
Fonte: Cecafé
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ℹ️ Conteúdo publicado por Myllena Seifarth sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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